Entre amizades e ameaças: como é a vida de um motorista de ônibus?

Anualmente, comemora-se o Dia do Motorista todo dia 25 de julho. Pensando nisso, o Diário do Estado entrevistou dois motoristas de ônibus para conversar a respeito de suas rotinas. Além do mesmo meio de transporte, ambos compartilham a paixão pela profissão e as dificuldades provenientes da rotina.

As experiências de um motorista

Solano Carvalho tem 46 anos de idade e atua há duas décadas e meia como motorista profissional. Iniciou suas experiências profissionais no Exército Brasileiro, e já dirigiu caminhões, carretas e carros de combate. Atualmente, trabalha em uma empresa voltada para o fretamento à indústria, levando funcionários por turno na fábrica.

Seu trajeto diário, somando ida e volta, não costuma ser superior a 150 km. Contudo, é o suficiente para acumular boas vivências. “É prazeroso dirigir ônibus. O contato diário com os passageiros, boas amizades e vários assuntos passam pelo motorista, de política à balada”, conta Solano.

Além disso, o motorista afirma que é um ramo no qual dificilmente um profissional fica sem emprego, pois estão sempre surgindo vagas. O salário foi se perdendo ao longo dos anos, mas Solano acredita que isso não é algo exclusivo dos rodoviários. O ponto negativo, para ele, tem mais a ver com o comportamento de outras pessoas.

“A maior dificuldade é, acredito eu, o egoísmo que impera no trânsito. O trânsito seria melhor e menos barulhento se os motoristas, todos eles, simplesmente dessem passagem ao veículo que está solicitando”, opina.

Com tanta experiência na área, sendo motorista profissional desde 1996, Solano deixa claro que soma “inúmeras histórias engraçadas” ao longo da carreira. Pedimos, é claro, para que ele contasse pelo menos uma.

“Certa vez, encerrei meu expediente às 8h, olhei o carro lá da minha cabine e não vi ninguém a bordo. Tranquei o carro e fui para casa. Às 11h, me liga um passageiro desesperado, pois estava trancado no ônibus. Retornei para soltá-lo, o Sol estava a pino. O coitado estava mais suado do que tampa de marmita”, brinca.

A rotina de cada dia

Ainda no mesmo caminho do ônibus, o DE falou com um motorista de 31 anos de idade, que faz parte de um itinerário urbano em Goiânia e Aparecida de Goiânia. Não podemos identificar o nome dele, por conta de políticas empregatícias. Mesmo assim, ele concordou em contar um pouco de sua rotina.

Cotidianamente, ele inicia o expediente fazendo um check list de veículos, para ver se está tudo certo a fim de promover uma viagem com segurança. Em seguida, consulta o horário, conforme papelete, e segue para a viagem.

Porém, de vez em quando podem haver desvios na rota, algo contornável. “Cientes disso, procuramos sempre caminhos com ruas mais largas para não acontecer nenhum acidente”, explica.

Trabalhando há dois anos e dez meses nessa profissão, o motorista está realizando um sonho de infância. Sempre foi apaixonado por ônibus, e para ele dirigir é como se fosse uma brincadeira de criança. No entanto, isso não evita que passe por poucas e boas.

“Lidar com os clientes é uma das maiores dificuldades, pois muitos não entendem que isso é um trabalho como qualquer outro”, afirma. Além disso, acrescenta que já sofreu várias ameaças enquanto trabalhava, e que muitas delas vieram de pessoas viciadas em drogas. A melhor opção nesses casos, segundo ele, é manter o silêncio e não debater.

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BYD cancela contrato com empreiteira após polêmica por trabalho escravo

Na noite de segunda-feira, 23, a filial brasileira da montadora BYD anunciou a rescisão do contrato com a empresa terceirizada Jinjiang Construction Brazil Ltda., responsável pela construção da fábrica de carros elétricos em Camaçari, na Bahia. A decisão veio após o resgate de 163 operários chineses que trabalhavam em condições análogas à escravidão.

As obras, que incluem a construção da maior fábrica de carros elétricos da BYD fora da Ásia, foram parcialmente suspensas por determinação do Ministério Público do Trabalho (MPT) da Bahia. Desde novembro, o MPT, juntamente com outras agências governamentais, realizou verificações que identificaram as graves irregularidades na empresa terceirizada Jinjiang.

Força-tarefa

Uma força-tarefa composta pelo MPT, Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Defensoria Pública da União (DPU) e Polícia Rodoviária Federal (PRF), além do Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF), resgatou os 163 trabalhadores e interditou os trechos da obra sob responsabilidade da Jinjiang.

A BYD Auto do Brasil afirmou que “não tolera o desrespeito à dignidade humana” e transferiu os 163 trabalhadores para hotéis da região. A empresa reiterou seu compromisso com o cumprimento integral da legislação brasileira, especialmente no que se refere à proteção dos direitos dos trabalhadores.

Uma audiência foi marcada para esta quinta-feira, 26, para que a BYD e a Jinjiang apresentem as providências necessárias à garantia das condições mínimas de alojamento e negociem as condições para a regularização geral do que já foi detectado.

O Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que sua embaixada e consulados no Brasil estão em contato com as autoridades brasileiras para verificar a situação e administrá-la da maneira adequada. A porta-voz da diplomacia chinesa, Mao Ning, em Pequim, destacou que o governo chinês sempre deu a maior importância à proteção dos direitos legítimos e aos interesses dos trabalhadores, pedindo às empresas chinesas que cumpram a lei e as normas.

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