Ricardo Drubscky fala de demissão em vestiário, início de Gilberto Silva e briga com Valdir Bigode
Ao Área Técnica, treinador comenta saída conturbada do Athletico-PR em 2012, recorda fase turbulenta no Atlético-MG em 2004 e detalha treta com ex-atacante: “Íamos sair para o braço”
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Drubscky detalha treta com Valdir Bigode no Atlético-MG: “Nós íamos sair no braço”
Um profissional versátil. De preparador físico, auxiliar, coordenador técnico, diretor esportivo a treinador. O também escritor Ricardo Drubscky já passou por várias funções no futebol brasileiro e abriu o livro de sua carreira de mais de 40 anos no esporte em um longo papo ao Área Técnica, quadro do ge.
Na conversa de quase duas horas na Globo Minas, Drubscky montou seu time ideal, revelou a importância do primo Carlos Alberto Silva em sua carreira, recordou com satisfação a conquista da Série D pelo Tupi em 2011 e cravou que ainda quer prolongar suas páginas no futebol brasileiro.
– Eu vivo o futebol de uma maneira ativa. Eu falo com a minha esposa, que foi quem criou meus filhos. Eu não tive a oportunidade de assistir o parto de nenhum dos três por causa de beira do campo. Minha vida é o futebol e a família. O futebol ganhou muitas vezes. Muito mais vezes que a família porque eu me entreguei muito. O que essa mulher aguentou de mim depois de uma derrota. Eu estava preocupado com o resultado.
Um dos grandes desafios da carreira de um treinador é a gestão de grupo. Dominar um vestiário repleto de egos é uma das missões do comandante. Em 1999 no Atlético-MG, Ricardo Drubscky enfrentou uma confusão com o então atacante Valdir Bigode. O episódio de indisciplina ocorreu no Centro Esportivo Universitário, em Belo Horizonte. Os dois quase chegaram às vias de fato.
– O jogador foi intolerante. Ele interferiu muito. Eu, com o meu jeito de querer disciplinar, não tive o respaldo que eu merecia. Eu estava defendendo o clube. O jogador cometeu uma indisciplina violenta. Nós íamos sair para o braço. Ele veio e eu fui. Ele começou a falar algumas coisas, mas coisas que diziam respeito só a ele. Eu questionei. Ele veio para cima. Nós começamos e aí separaram. Então a única coisa que eu queria era que ele fosse punido. No último lance, tive a certeza que eu tinha que colocá-lo para jogar e que não iam punir, porque ele era o jogador que ia ser vendido. Ele não foi vendido e ainda levou o Atlético na justiça, gerando uma polêmica no ambiente esportivo.
Gilberto Silva surgiu para o futebol nas mãos de Ricardo Drubscky no América-MG. O treinador se orgulha da trajetória do ex-jogador da seleção brasileira. Gilberto Silva chegou desacreditado para um teste no América, apresentado como alguém que já havia sido reprovado no juvenil e estava no limite da idade. Ricardo Drubscky tinha tudo para dispensá-lo rapidamente, mas percebeu algo diferente no volante. Apesar do jeito tímido e discreto, Gilberto não errava em campo, mudando a avaliação de Drubscky.
– Eu falava com meu preparador físico, Enderson Moreira. Esse menino não erra. O tempo de bola dele para roubar bola no pé do adversário. O jogo aéreo dele. A tranquilidade dele com a bola no pé. Na minha opinião, foi decisivo em 2002, quando entrou no lugar do Juninho e fez dupla com Kleberson. Além da qualidade de saída de bola, deu estabilidade ao time e cresceu na Copa de 2002. O Arsène Wenger fala dele com carinho. Ele tinha o apelido de ser um “paredão invisível” pelo seu perfil de jogo. Este camarada me deu orgulho por ter participado de sua trajetória.
A passagem de Ricardo Drubscky pelo Villa Nova-MG foi marcada por uma demissão inusitada no vestiário após uma derrota por goleada. O treinador foi comunicado da decisão logo após o jogo, causando surpresa e insatisfação. Drubscky relembra o episódio e lamenta a forma como foi dispensado, destacando a importância de uma conduta ética no futebol brasileiro.
– Foi muito chato. Eu acho que mandar treinador embora com dois meses de trabalho já é um descalabro. Mandar no vestiário é ainda mais grave, temperando a maldade do futebol brasileiro. Foi uma situação lamentável. Fico feliz por ter acontecido apenas após 43 anos de carreira, mas mesmo assim foi muito chato. Começamos bem, fazendo boas atuações, mas depois as conquistas não vieram de forma constante, levando à demissão precoce, o que foi decepcionante.
Como diretor de futebol do Atlético-MG em 2004, Drubscky viveu meses de enorme pressão durante a campanha do clube, que flertou com o rebaixamento. A tensão era tão grande que o treinador corria para casa após os jogos para evitar conflitos com os torcedores. Essa experiência serviu para Drubscky apontar falhas estruturais no futebol brasileiro, destacando a necessidade de mudanças para proteger a ética no esporte.
– No Atlético Mineiro em 2004, fui subir para o profissional como diretor. Subi porque estavam sem diretor, pois haviam demitido um. E fiquei três meses. Quase caímos. No último jogo contra o São Caetano, vencemos no Mineirão e escapamos da queda. Foi um período de muita pressão, chegando a correr para casa após os jogos para evitar hostilidades. Essas situações mostram que o futebol brasileiro precisa de mudanças estruturais para evitar dilemas éticos como os enfrentados no esporte.
A conquista do título da Série D pelo Tupi em 2011 marcou a carreira de Ricardo Drubscky, sendo um marco importante tanto para ele quanto para o clube. Em uma trajetória marcada pela superação de desafios e pela união de um elenco barato e determinado, Drubscky destaca a importância desse título em sua carreira e como foi determinante para dar um novo rumo ao futebol brasileiro.
– O nosso elenco era baratíssimo, com jogadores ganhando valores muito modestos. Mesmo com adversários com orçamentos maiores, o Tupi se destacou pela qualidade da acolhida da diretoria, o ambiente positivo e a união do grupo. Esse título foi crucial para mostrar que é possível alcançar conquistas mesmo com recursos limitados, sendo um case de sucesso a ser admirado. A mudança de patamar proporcionada por esse título foi determinante para minha carreira e para a trajetória do clube.
Ricardo Drubscky, ao longo de sua carreira, comandou diversos craques e viveu momentos intensos no futebol brasileiro. Em um bate-papo, o treinador revelou detalhes de sua gestão de grupo, os desafios de atuar em clubes de diferentes portes e a importância da ética no esporte. Sua experiência abrangente o torna um profissional versátil e dedicado ao futebol, buscando sempre se manter atualizado e em constante evolução.
– Eu tenho muito a fazer ainda. Quero conquistar títulos em clubes gigantes, continuar minha trajetória no futebol brasileiro e contribuir para o desenvolvimento do esporte. Com uma carreira marcada por desafios e conquistas, busco sempre me dedicar ao futebol de forma ativa e comprometida. Minha paixão pelo esporte e pela família me impulsiona a seguir em frente, enfrentando cada obstáculo com determinação e foco.