Em entrevista ao Diário do Estado, a professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, Diane Valdez, discutiu sobre o caso da menina de 10 anos que engravidou do estuprador, o próprio tio. Nesta segunda-feira, dia 17, a gestação, que já passava de 5 meses, foi interrompida por meio de aborto realizado num hospital de Pernambuco.
Grupos religiosos, principalmente católicos, se reuniram neste domingo, em frente ao hospital, para protestar contra a prática abortiva na criança. Perguntada sobre a presença religiosa nestes debates públicos, a professora disse ao Diário: “Quando a gente não garante a laicidade do Estado, cria-se uma espécie de autorização para interferências dessa natureza, movida por seguimentos de religiões cristãs fundamentalistas”.
Ela relaciona também os “pró-vida” a conservadores, que, cada vez mais, criticam pautas, como por exemplo, as discussões de gênero nas escolas. O aborto é mais um desses assuntos, segundo Diane. “Os grupos que tentaram interromper a gravidez dessa criança de 10 anos, que já vinha sendo violentada pelo tio há mais de 4 anos, eles são os mesmos que tentam formar poder de legislar sobre questões que pertencem ao Estado.”
Segundo a professora, essas pessoas não veem o lado social da situação: “menina negra, que mora com a avó ambulante, que a mãe já saiu de casa e que o pai é presidiário”, lembrou. Os religiosos, conservadores e “pró-vida”, só olhariam para o que a Valdez chama de “a única coisa que a igreja sabe fazer muito bem, que é culpar”.
Sobre outro caso envolvendo o mesmo médico em 2009, Diane Valdez lembra: “A igreja Católica excomungou toda a equipe médica que fez, foi no Recife isso”. No caso em questão, uma menina de 9 anos estava grávida de gêmios, após também sofrer abuso sexual.
A professora considera o ato de 2009, bem como o de 2020, como “um ato necessário e um direito da família”, apesar de não ser simples.
Veja as declarações na íntegra: