A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) enfrentou uma situação inusitada ao receber um visto para os EUA com seu gênero identificado como masculino. Esse erro ocorreu apesar de documentos brasileiros e de um visto anterior reconhecerem sua identidade feminina. A nova política dos EUA, implementada em janeiro, não reconhece pessoas trans, complicando a visita da parlamentar para palestrar em universidades como Harvard e MIT.
Segundo a parlamentar, durante o pedido de visto, foi apresentado a certidão de nascimento e o passaporte contendo sua identificação como mulher. No entanto, o governo norte-americano ignorou o pronome representado e usou o sexo biológico para emitir os novos documentos.
“Não se trata apenas de um caso de transfobia. Se trata de um documento sendo rasgado sem o menor tipo de pudor e compromisso. Irei acionar o presidente [dos EUA] Donald Trump judicialmente na ONU e na Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Queremos que o Itamaraty chame o embaixador para dar explicações”, diz.
Hilton disse que se sente “violada e desrespeitada” e que Trump é “um homem doente que ocupou a presidência da República dos EUA e se sente dono da verdade”.
A Embaixada dos Estados Unidos no Brasil não se pronunciou sobre o caso.
Viagem cancelada
De acordo com Erika, o visto seria utilizado para realizar uma viagem aos EUA, onde ela participaria de um painel na Brazil Conference. O evento é organizado pela comunidade brasileira de Harvard e do MIT.
A parlamentar contou que, apesar da importância do evento, desistiu de viajar devido ao medo do preconceito que sofria no aeroporto. “Senti medo, para ser sincera. E não aceitei me submeter a esse tipo de coisa”, conta. “Achei que não merecia, mesmo perdendo uma atividade importante a qual eu gostaria muito de participar, não deveria me submeter a tamanha violência e desrespeito como esse”, diz.
Decreto de Trump
A decisão que afeta a parlamentar brasileira está relacionada a um decreto que afeta diretamente pessoas trans nos EUA. Na ordem executiva, assinada em janeiro por Trump, é reconhecido apenas os gêneros femininos e masculinos em documentos emitidos pelo país norte-americano.
A ordem estabelece que formulários governamentais devem considerar apenas o gênero biológico dos cidadãos e ignorar informações sobre identidade de gênero. Além disso, também foi proibido a emissão de passaportes com a marcação de gênero “X”, para pessoas que se identificam como não binárias.