Espada-de-São-Jorge: planta símbolo de proteção tem origem africana
Folhas pontiagudas e resistência fazem da espécie uma das queridinhas nas casas
brasileiras.
A Dracaena trifasciata é nativa do oeste da África Tropical — Foto:
doggy0406 / iNaturalist
Com folhas longas, verticais e em forma de lança, a espada-de-são-jorge virou
presença quase obrigatória nas portas de entrada de muitos lares brasileiros.
Mais do que um item decorativo, a planta é cercada por crenças populares que
atribuem à ela o poder de proteção espiritual. Mas por trás do misticismo, há
uma planta resistente, de origem africana e com propriedades que exigem atenção.
Segundo a botânica Carolina Ferreira, doutora pela USP de Ribeirão Preto, a
espada-de-são-jorge tem o nome científico Dracaena trifasciata e pertence à
família Asparagaceae, a mesma de espécies como a dracena, a pata-de-elefante e o
agave, usado na produção de tequila.
> “As folhas dessa espécie são verde escuras com algumas manchas verdes
> acinzentadas e brancas; são laminares, lanceoladas (em forma de lança),
> coriáceas e estão dispostas de forma vertical, característica bastante
> marcante. Além disso, a espada-de-são-jorge forma touceiras e pode atingir até
> 70 cm”, explica a pesquisadora.
Origem africana
A espada-de-são-jorge tem baixa necessidade de manutenção. — Foto:
amberm21 / iNaturalist
A Dracaena trifasciata é nativa do oeste da África Tropical, abrangendo regiões
que vão desde o sul da Nigéria até a Tanzânia. Sua resistência ajudou na
popularização da espécie em diversos continentes, especialmente em ambientes
internos.
Cultivo
Um dos grandes motivos para o sucesso da espada-de-são-jorge em jardins é a
baixa necessidade de manutenção. O solo escolhido para plantar a espécie deve
ser bem drenado e rico em matéria orgânica, enquanto a adubação pode ser
realizada anualmente.
“É unânime entre os sites que tratam sobre o cultivo da planta em casa a
informação de que a rega da espada-de-são-jorge seja realizada moderadamente,
permitindo que o solo seque entre as regas, uma vez que o solo encharcado pode
apodrecer as raízes”, explica a botânica.
A planta também deve ficar em locais com luz indireta, já que a exposição direta
ao sol pode queimar suas folhas.
Planta tóxica
A planta também deve ficar em locais com luz indireta, já que a exposição
direta ao sol pode queimar suas folhas. — Foto: Mike Youdale / Wikimedia commons
Apesar de registros históricos sobre seu uso na medicina popular, para aliviar
dores, tratar gripes e até picadas de serpente, a botânica alerta: a
espada-de-são-jorge é classificada como planta tóxica.
> “A espécie apresenta substâncias químicas como saponinas, alcaloides e oxalato
> de cálcio, esses cristais podem causar irritação e até mesmo obstrução da
> garganta e da glote, além de casos de dermatite. Além disso, quando essas
> plantas são ingeridas por cães e gatos em grandes quantidades podem causar
> danos gastrointestinais, lesões hepáticas e renais e até mesmo podendo
> levá-los a óbito”, afirma Carolina.
Entre o sagrado e o simbólico
A planta também tem forte ligação com religiões de matriz africana. —
Foto: isatoro08 / iNaturalist
Na cultura popular, a espada-de-são-jorge é usada como amuleto contra o
mau-olhado, normalmente posicionada perto da entrada das casas. A crença tem
relação com a simbologia das folhas pontiagudas, associadas à espada do Santo
Guerreiro da Capadócia, que, segundo a tradição cristã, venceu um dragão com sua
espada.
A planta também tem forte ligação com religiões de matriz africana, simbolizando
a espada ou lança de Ogum, orixá da força, guerra e coragem.
Tradição que ajuda na preservação
Na visão da especialista, o apelo simbólico da planta contribui para sua
conservação. “Com o cultivo e uso para fins ornamentais a planta está sempre
sendo valorizada. No entanto é necessário que as informações, principalmente no
que se diz respeito ao uso medicinal e o risco à saúde de animais domésticos
sejam sempre repassados e frisados pelos meios de comunicação”, conclui.