O Diário do Estado traz uma série de perfis de mulheres que, assim como você, leitora, orgulham e constroem a história de Goiás
Nascida na comunidade Kalunga, maior território quilombola do país, Vercilene Dias, natural de Cavalcante, região Nordeste de Goiás, está entre as “20 mulheres de Sucesso” da revista Forbers. A lista é divulgada anualmente com nomes femininos que se destacaram em diversas áreas de atuação. Ela é a primeira quilombola com o título de mestre em Direito do Brasil.
Sem acesso a energia elétrica, internet ou escola, aos 11 anos Vercilene precisou se mudar para estudar. Neste período, ela conta que trabalhou como doméstica, em troca de casa e comida, além do direito à educação.
“Eu saí da comunidade muito cedo para estudar, porque não tinha escola mais. Em 2001, fui morar no município de Arraias, com uma família de fazendeiros. Trabalhava como empregada doméstica e estudava. Ganhava as coisas e as matérias para estudar. Morei com essa família até 2004, depois que eu fui conhecer o município de Cavalcante”, contou a quilombola.
Para defender a família, movida pelo desejo de justiça, na infância, Vercilene tinha o intuito de se tornar militar.
“Quando eu morava na comunidade tinha um coronel que vivia ameaçando minha família. Ele chegava geralmente armado lá em casa, com um monte de cachorro, capangas. Falava que dava para gente um tempo para sair de casa, meu pai dizia que a gente não tinha para onde ir.
Aí meu primeiro brinquedo industrializado, foram dois soldados. Foi até meus padrinhos que me deram. Na época, eu perguntei se eram gêmeos, e eles falaram que eram pessoas do bem, que puniam pessoas do mal. Então, eu decidi que ia ser militar, ia para o exército para poder punir este coronel que vivia ameaçando a gente”, contou Vercilane.
Apenas durante sua estadia em Arraias, a Kulunga teve conhecimento sobre o curso de Direito, no qual é graduada pela Universidade Federal de Goiás (UFG).
“Quando eu fui morar com esta família em Arraias, uma das filhas deles tinha feito direito e, conversando com ela, ela falou para mim assim: Olha se você fizer direito você pode ir muito mais além, não só militar, não só soldado. Você pode ser advogada, promotora, você tem outras possibilidades para ajudar sua família. Então, eu decidi que queria fazer direito e fui em frente”, relatou
Vercilene ingressou no ensino superior em 2011, pelo programa UFGInclui, que destina vagas para indígenas e quilombolas.
No primeiro semestre da faculdade eu chorava muito porque achava que não ia conseguir. Em 2011 ainda não tinha sistema de cotas, eram poucos os negros dentro da faculdade e eu era a único quilombola, apesar de ninguém saber que eu era quilombola. A não ser as pessoas que conversavam comigo, mas o restante não sabia”, recordou Vercilene. Vercilene ingressou no ensino superior em 2011, pelo programa UFGInclui, que destina vagas para indígenas e quilombolas.
“Hoje a gente continua na mesma disputa. Tem várias pessoas que reivindicam os territórios, mas nenhum tem prova que são realmente donos. Alguns continuam ocupando e ameaçando as famílias que estão lá, não só a minha. A gente luta ainda, existem muitos conflitos e disputas territoriais, por pessoas de fora, fazendeiros. Essas invadem mesmo o território, utilizam de força, de poderio econômico” contou.
Vercilene conta que a família continua morando no Vão do Moleque, em Cavalcante, região da Chapada dos Veadeiros. Dentre os 13 irmãos, apenas ela conseguiu concluir o ensino superior.
“Lá em casa ninguém conta que eu fiz direito, desde que eu entrei na universidade ‘a filha de Timão faz advocacia e agora é advogada’, mas nunca fiz direito”, conta ela, rindo.
No primeiro semestre da faculdade eu chorava muito porque achava que não ia conseguir. Em 2011 ainda não tinha sistema de cotas, eram poucos os negros dentro da faculdade e eu era a único quilombola, apesar de ninguém saber que eu era quilombola. A não ser as pessoas que conversavam comigo, mas o restante não sabia”, recordou Vercilene.
O local onde os pais vivem, continua sem energia e acesso à internet. Ao visitá-los em janeiro, ela disse ter ficado isolada por 14 dias. As fortes chuvas deixaram a região completamente alagada, destruiu casas e pontes do município.
“Todo a minha família continua vivendo lá, com exceção de quatro irmãos que moram em Goiânia. Eu fiquei 14 dias isolada, sem notícias, todo mundo desesperado atrás de mim. A casa dos meus pais caiu, a gente está tentando organizar recursos para arrumar. Outras famílias também perderam suas moradias. Mas graças a Deus ninguém teve grandes prejuízos, se feriu ou perdeu a vida. O resto a gente constrói”, afirmou Vercilene.
Para finalizar a quilombola deixa uma mensagem de inspiração para toda a comunidade.
“A minha luta não é somente minha, eu não cheguei até aqui sozinha. A gente vem de uma luta coletiva, uma luta do povo quilombola, não só das 58 comunidades quilombolas no estado de Goiás, mas das 6 mil comunidades espalhadas pelo país, e que são invisibilizadas, e que lutam desde de que foi reconhecida como sujeito de direito na Constituição de 1988, pela efetivação dos direitos. Que luta para a efetivação das políticas públicas que deve ser garantida pelo Estado brasileiro, a todo e qualquer cidadão, e que não chega às comunidades quilombolas”, concluiu Vercilene.
Apaixonada pela estrada, Idelmarcia Fonseca Rodrigues, de 56 anos, abriu mão da sala de aula para dirigir pelo Brasil. Mãe de dois filhos e avó de três netos, Marcinha, como gosta de ser chamada, precisa lidar com a dor da saudade e com o preconceito, por ter escolhido uma profissão dominada pelos homens.
“Meus irmãos são caminhoneiros, meu pai é analfabeto. Meu irmão desde jovem passou a ser caminhoneiro e minha irmã dirigiu dentro de Goiânia por um tempo. E eu sempre gostei, mas eu era casada, do interior, dava aula, mas sempre gostei do caminhão, na verdade uma carreta. Aí depois de um tempo eu juntei a vontade de mexer com caminhão e uma oportunidade e comprei um”, explicou.
Ainda de acordo com a caminhoneira, apesar de ter a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) categoria A e E, foi em seu primeiro caminhão que aprendeu a dirigir.
“Eu aprendi a dirigir na carreta que eu tinha mesmo. Não era nova, mas era a que eu tinha”, contou.
Com seu primeiro caminhão, Marcinha trabalhou como autônoma entregando frutas em diversas capitais do país. Apenas em 2015, a ex-professora resolveu se credenciar a uma empresa. Mas se esbarrou em um problema, já que não tinha experiência.
“Eu cheguei lá falei pro cara, olha eu sou motorista, lá não tinha motorista mulher, fui a primeira mulher na carreta. Eu cheguei lá e falei, olha eu sou motorista e estou querendo um emprego. Ele olhou e falou assim: “Mas não tem nada assinado na sua carteira”, lá só tinha como professora. Aí eu falei assim: Não, mas eu tinha meu próprio caminhão, aí ele falou : “Então, vamos entrar numa carreta ali e dar uma volta” e eu entrei no caminhão, e a gente foi até a barreira da saída para Brasília, fui e voltei, coloquei na garagem. Aí ele falou: Parabéns pode ir no RH arrumar sua papelada que o emprego é seu”, relembrou a caminhoneira.
Em sua primeira viagem longa, a ex-professora precisou lidar com a ‘dor’ de deixar seus filhos e o medo de acidentes.
“Minha primeira viagem não foi fácil não, meus filhos já estavam grandinhos, mas não foi fácil não. O medo maior que a gente tem nas primeiras viagens é acidente. Eu fiquei com muito medo, eu olhava aqueles caminhões compridões, eu olhava e dizia assim: ‘Meu Deus ! Será que eu vou dar conta? contou.
Ainda de acordo com ela, em alguns dias a saudade aperta o peito. Comemorações como Natal e aniversário, nem sempre podem ser comemoradas ao lado da família. Mas a satisfação de estar na estrada vai além da solidão.
Além da solidão, Marcinha diz enfrentar problemas para preparar suas refeições e tomar um banho.
“Às vezes a gente chora, bate a solidão, quer fazer uma comida e tem que fazer debaixo de chuva, no barro. Às vezes você quer tomar um banho e não tem um banheiro, se às vezes tem eles cobram ali R$ 10, porque você não abasteceu o caminhão. Hoje está melhor pra dormir, porque o Bolsonaro fez uma lei que não pode mais cobrar a pernoite de caminhões nos postos. Tinha um lugar que cobrava até R$ 80 pra você dormir”, relatou.
Com três irmãos, caminhoneiros, Marcinha, natural de Iporá, Oeste de Goiás, se diz gostar de carretas deste a juventude. Mas apenas em 2000, após seu divórcio, viu no veículo a oportunidade de sustento e realização pessoal.
“Tem dias que o coração ai,(suspira),bate bem forte de saudades. Natal, réveillon, aniversário a gente não passa junto. Aí quando eu pego as minhas férias eu passo 15 dias na casa de cada filho. É complicado, quando eu pego um dia, dois dias não tem como eles irem lá em casa me ver, aí a gente fica se falando por vídeo chamada. Tem dia que a gente chora, dá uma solidão, dá vontade de largar de mão.
A caminhoneira relata que já passou por diversos episódios de preconceito. Em uma das ocasiões, ela foi impedida de entrar em um prédio para carregar o caminhão.
“Aqui São Paulo, eu fui carregar meu caminhão, cheguei lá era uma mulher que estava na portaria e ela falou assim: “Aqui não entra mulher!”, aí eu falei assim: “Mas como que não entra? O caminhão é meu, não deixo ninguém pôr a mão no meu caminhão. Mas ela continuou dizendo: “Não entra!”. Aí teve que ligar para chamar uma rapaz, mas ela não queria deixar eu entrar de jeito nenhum. Aí o chefe de lá teve que vir para deixar eu entrar.
Marcinha diz ter sofrido apenas um acidente, mas relata ter passado por diversas situações na qual, por pouco, não houve uma colisão.
“Susto é o que a gente mais passa nas rodovias. Às vezes a pessoa faz uma ultrapassagem de frente para você e você tem que jogar para o acostamento para não bater. Eu sofri um acidente só. Mas a gente coloca Deus na frente e vai. Essas normas de ter que andar só de 80km evita muito acidente, porque antes a gente deixa o caminhão ir”, contou.
Os dois filhos da caminhoneira também dirigem caminhões, um deles, inclusive, tem uma autoescola. Mas, apesar de dirigir, um deles sempre pede para a mãe deixar a profissão.
“O mais velho dirige profissional porque tem carreta na auto escola dele, o outro só tem a D, então a carreta ele não pode. Todos os dois dirigem, mas assim, o mais novo não gosta de caminhão, ele quer que eu pare por tudo. Agora o mais velho é apaixonado, inclusive, já trabalhou por um tempo na profissão, que foi quando a gente conseguiu juntar dinheiro para comprar a auto escola”, contou.
Preocupados, os filhos ficam desesperados quando não conseguem falar com a mãe.
“Eles ficaram preocupados, esses dias meu celular estragou, eu tive que pegar um telefone emprestado. Quando eu liguei dizendo que queria falar, meu mais velho chegou a sentar preocupado”, contou a caminhoneira.
Ainda de acordo com ela, seu neto mais novo, chamado Theo, ama seu caminhão e sempre pergunta à avó.
Para concluir, Marcinha deixa um conselho para as mulheres que desejam entrar para a profissão.
“Eu falo sempre aqui pra meninas que estão começando, não é fácil, mas não desista, tudo que tem mais dificuldade tem o sabor mais gostoso”, contou Eu acho muito bonito, dou o maior apoio, mas eu falo, a pessoa quer trabalhar mas tem que ser profissional, não só motorista, porque isso tem demais. Mas você tem que ser profissional, tem que respeitar as regras de trânsito. Todos têm direito de ir e vir, todo mundo tem que respeitar, principalmente nós que somos grandes temos que respeitar os mais pequenos. E a gente tem que ter amor por aquilo que faz, tem que ser divertido.
Inspirada no sonho da mãe, Eliane de Oliveira Moura, 35 anos, trabalha na zona rural de Flores de Goiás, região Nordeste do Estado. A agricultora planta diversos leguminosos e folhagens, inclusive, no ano passado, participou do programa de Cerveja de Mandioca. A conquista reacendeu a chama da esperança de ter o negócio da família bem-sucedido.
A mãe de Eliane sempre morou na zona rural, e seu maior desejo era ser uma grande agricultora, para isso, trabalhou arduamente com as “mãos na terra”.
“Ela sempre teve muita garra, sempre teve o sonho de crescer, mas ela nunca teve oportunidade, as condições eram muito difíceis. E nós, filhos, resolvemos trabalhar para realizar o sonho dela. E a gente quer muito que realize, porque mesmo com esse sonho quase perdido, ela continua trabalhando na terra, continua plantando e colhendo”, contou Eliane.
De acordo com Eliane, ela e os três irmãos trabalham todos os dias, seja no plantio ou na feira.
“A gente trabalha na feira, de domingo a domingo, não tem folga nem feriado. A gente vende a mandioca, a abóbora, além das hortaliças. Meu pai também tem uma barraquinha de caldo de cana. A gente mesmo planta a cana. E a gente não tem funcionário, é a gente mesmo que faz tudo”, relatou.
Ainda segundo ela, o trabalho sempre esteve presente em sua vida. Nascida em uma família humilde, Eliane e os irmãos percorriam 4km a pé para chegar a escola. Eles acordavam às 4h. Os cadernos e livros eram levados em embalagens de pacotes de arroz.
“A gente morava muito longe da cidade, então a gente tinha que andar 4 km para ir e 4 km para voltar da escola. A gente acordava às 4h, e não tinha tempo para merendar e ir não, a gente acordava, trocava de roupa rápido e ia. A merenda era o lanche da escola. A gente só ia almoçar às 14 horas, quando a gente chegava. Depois ia trabalhar na terra, ajudava a plantar milho, mandioca e abóbora.
Demorava muito o percurso da escola para casa. De manhã era fácil de ir, mas à tarde era difícil com o sol do meio-dia. No período de chuva ainda era pior, molhava tudo, o caderno e não tínhamos mochilas. Leva na mão ou no pacote de arroz. E a gente disputava quem ia levar no pacote, meu pai comprava um pacote por mês e minha mãe determinava ela dizia: ‘Olha o pacote de arroz deste mês e de fulano, do outro mês é do outro fulano’”, relembrou a agricultora.
Eliane conta que na infância seu maior sonho era ter uma boneca para brincar, mas por conta das condições financeiras da família, este sonho só foi realizado após os 30 anos.
“A nossa infância não foi muito boa, a gente não se divertiu, não brincou. A gente trabalhava muito, a nossa infância foi isso, estudar e ajudar na roça.
“Nossa minha mãe ficou feliz demais, a gente também. Nos dias de serviço que a gente teve para arrancar toda a mandioca, colocar no caminhão, parecia que nem era trabalho. Todo mundo vendo a gente trabalhar naquela felicidade, ficava espantado. Mas a gente nunca tinha tido aquela oportunidade.”
Casada e com um filho de 16 anos, a produtora rural luta ao lado dos irmãos para produzir e ter para quem vender. E assim, ter a oportunidade de ‘mudar de vida’.
“A gente começou a bater em portas pedindo oportunidade e quem deu essa oportunidade foi a Ambev. No ano passado, a gente conseguiu entregar uma grande quantidade de mandioca, deu um retorno muito bom, deu para começar a trabalhar melhor na terra. Esse ano a gente conseguiu essa parceria de novo. Agora, a mandioca é nossa maior renda, minha mãe vê na mandioca a oportunidade para mudar de vida”, conta.
Sem condições financeiras para a contratação de funcionários, quando surgiu a oportunidade de entregar um carregamento de mandioca para a produção de cervejas para a Ambev, eles contaram com ajuda de familiares e amigos.
“A gente precisou plantar dois hectares, aí a gente fez um mutirão, chamamos a família, os amigos e no fim todo mundo comeu carne de porco com mandioca”, contou ela rindo.
Apesar de árduo, diante da oportunidade a alegria falou mais alto que o cansaço físico.
“Nossa minha mãe ficou feliz demais, a gente também. Nos dias de serviço que a gente teve para arrancar toda a mandioca, colocar no caminhão, parecia que nem era trabalho. Todo mundo vendo a gente trabalhar naquela felicidade, ficava espantado. Mas a gente nunca tinha tido aquela oportunidade.
O pessoal perguntava ‘como vocês conseguem trabalhar assim, feliz desse jeito? ’, o rapaz do caminhão ficou sem saber o que estava acontecendo. Minha mãe ficou feliz demais, ela sempre falou que era o sonho dela ver a terra toda plantada. E quando ela viu o caminhão a esperança ressurgiu novamente”, lembrou Eliane.
A produtora conta que a terra, onde eles moram, foi financiada pelo ‘crédito de terra’, modelo de financiamento de terras adotado nos anos 90. E isso, faz com que a família trabalhe constantemente para reunir o valor da parcela anual.
“A gente trabalha juntando o dinheiro, e no final do ano a gente vende uns porcos, um bezerro para conseguir ter todo o dinheiro. Às vezes cada um tem que tirar R$300 ou R$400 para inteirar o valor da parcela. A gente paga uma vez no ano a terra, a gente fica muito apertado, mas sempre conseguimos pagar”, contou.
A bombeira goiana Alessandra Riad Iskandar Plaza, de 37 anos, luta há 7 meses contra o câncer de mama. Apesar do processo doloroso, Alessandra mantém o sorriso no rosto e a alegria em poder viver todos os dias.
Graduada em Educação Física pela Faculdade Universo, Alessandra serve ao Corpo de Bombeiros de Goiás desde 2013. Ela conta, que a princípio o desejo era ser policial militar, mas a pedido da mãe, descobriu a vocação de salvar vidas.
Na verdade, eu queria ser policial, mas minha mãe não deixou. Ela falava: Pelo amor de Deus não mexe com isso não minha filha”, disse ela rindo.
De acordo com Alessandra, com apenas três anos de idade foi atingida com uma bala que atingiu de “raspão” sua cabeça. O episódio que ocorreu no setor Marista, região Sul de Goiânia, deixou sua mãe “traumatizada”.
“Quando eu tinha três anos, eu levei um tiro na cabeça de um ladrão. Pois isso, minha mãe falava: ‘Pelo amor de Deus não mexe com isso não, tem que se envolver com arma, com ladrão’. Acabou que ficou um pouco traumatizada com a situação e implorou para eu não ser policial. Aí eu falei: ‘Tudo bem então mãe, eu vou ser bombeira’”, contou Alessandra.
Segundo Alessandra, o convite de um colega de farda foi fundamental para a tomada de decisão.
“Na minha família não tem militares, eu que sempre quis. Eu lembro que estava terminando o curso de Educação Física, e uma professora levou a turma para uma aula de salvamento aquático. O curso era ministrado por dois bombeiros, na época, o cabo Antônio, hoje sargento, e o falecido tenente Marcos.
Durante as aulas, eu sempre fui muito dedicada, um deles chegou em mim e falou: ‘Menina porque você não presta concurso para os bombeiros, você é boa na água, você vai se dar bem’, aí eu fiquei com uma pulga atrás da orelha. Eu formei em 2007 e em 2010 eu prestei o concurso e passei. Fui da turma que foi chamada em 2013”, relembrou Alessandra.
Anteriormente, a militar trabalhava como personal trainner, mas afirma ter se sentido realizada apenas quando começou a trabalhar como bombeira.
“Eu dava aula de personal, eu gostava, mas parecia uma obrigação. Era tipo, eu tenho que fazer isso para ganhar dinheiro. Agora como bombeira, eu trabalho feliz. Ajudar em incêndios, em acidentes”, finaliza.
Alessandra descobriu o câncer de mama, após sentir uma sensibilidade no seio, em agosto do ano passado. Ela já realizou todas as sessões de quimioterapia, e nesta quarta-feira (9) vai passar pela mastectomia bilateral, cirurgia de retirada da mama.
“Descobrir um câncer não é fácil. A gente passa realmente por um luto, porque o cabelo cai, os cílios caem, a unha cai, a libido já não existe. E agora essa é a fase principal, porque, graças a Deus, a quimioterapia eu já passei, agora eu vou perder uma mama. Como vai ser? eu ainda não sei, estou um pouco apreensiva.
E quando eu já fui afastada do trabalho, nem pude ir para o administrativo por causa da imunidade. Então, eu não tive muito o que fazer.
Mas eu tento não me martirizar ou vitimar ‘ai coitadinha de mim’. Não! Cara eu estou com câncer, beleza! Hoje é quimioterapia? Vamos lá fazer” contou.
“Descobrir um câncer não é fácil. A gente passa realmente por um luto, porque o cabelo cai, os cílios caem, a unha cai, a libido já não existe. E agora essa é a fase principal, porque, graças a Deus, a quimioterapia eu já passei, agora eu vou perder uma mama. Como vai ser? eu ainda não sei, estou um pouco apreensiva.
Ela relata que além do apoio que está recebendo de familiares e amigos, além de realizar atividades comuns no dia a dia, são importantes para não deixar o psicológico abater.
“Quer sair para ir ao Shopping? Vai! Deu vontade de assistir um filme, ou desenho? Assiste. Não falo que é viver uma vida ‘normal’, mas a gente tenta levar a vida até onde a gente consegue. É não se entregar nunca, porque o câncer trabalha muito com o psicológico, a gente não pode se deixar abater. Porque na hora que você se abate a imunidade cai, você se entrega e isso não pode acontecer.
Se precisar chorar, vai para o chuveiro e chora. Já fiz isso várias vezes, ninguém viu, mas eu chorei. É levantar a cabeça, já matei um leão hoje, agora é a outra fase. E é dia após dia! ”, disse.
Motivo de inspiração de muitas mulheres, Alessandra se diz feliz em poder continuar ajudando e animando as pessoas que estão na mesma situação que ela.
“Lá no Ingoh (Instituto Goiano de Oncologia e Hematologia), eu chegava era alto-astral, colocava todo mundo pra cima. O pessoal chegava abatido e eu dizia: ‘Gente calma’, e tentava animar o pessoal. Eu fiz uma brincadeira com as meninas, dizia que quando fosse minha última quimioterapia ia colocar uma gravação do Galvão Bueno falando ‘Acabouuuuuu!’, ao lembrar a icônica frase do narrador durante a Copa do Mundo.
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