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Mais da metade da população mundial estará acima do peso ou obesa até 2035

Última atualização 03/03/2023 | 15:00

Mais da metade da população mundial estará acima do peso ou obesa até 2035 se não houver uma ação significativa para conter o problema, de acordo com um novo relatório. O atlas 2023 da Federação Mundial da Obesidade prevê que 51% do mundo, ou mais de 4 bilhões de pessoas, serão obesas ou terão sobrepeso nos próximos 12 anos.

É uma pandemia que preocupa e tem até um Dia Mundial, o 4 de março, data criada pela Federação Internacional da Obesidade, para promover a reflexão e o conhecimento a respeito da doença. Para se ter uma ideia, estima-se que, no Brasil, uma em cada quatro pessoas com 18 anos ou mais está com obesidade, o equivalente a 41 milhões de pessoas.

Estas taxas também têm crescido entre crianças e adolescentes. Acredita-se que o número de crianças que vivem com obesidade aumente 60% em todo o mundo na próxima década, chegando a 250 milhões em 2030.

A médica endocrinologista Marília Zanier, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – regional Goiás (SBEM-GO), explicou ao Diário do Estado (DE) que a obesidade é causada por uma complexa interação de ambiente, predisposição genética e comportamento humano.

A obesidade é uma doença metabólica crônica caracterizada por excesso de gordura corporal habitualmente definida como um Índice de Massa Corporal (IMC) maior ou igual a 30 kg/m2. O sobrepeso, escala anterior à obesidade, é definido pelo IMC entre 25 e 29,9 kg/m2. O IMC, vale lembrar, é calculado pela divisão do peso (em kg) pelo valor da altura (em cm) ao quadrado.

Ela pontua que a obesidade favorece o surgimento de várias doenças crônicas, como as cardiovasculares (doença coronariana, hipertensão etc), cerebrovasculares (acidente vascular encefálico) e neuropsiquiátricas (ansiedade, depressão, demência etc.). Como também distúrbios metabólicos (diabetes melito tipo 2, dislipidemia, doença hepática gordurosa não alcoólica etc.), distúrbios digestivos (refluxo gastroesofágico etc.) e respiratórios (síndrome da apneia obstrutiva do sono, asma brônquica etc.). Além disso, alguns tipos de cânceres (de mama, de endométrio, vesícula biliar, de próstata e colorretal, entre outros).

“A obesidade está associada à redução expressiva da expectativa de vida e aumento das taxas de mortalidade, dependendo da gravidade das comorbidades. Também acarreta significativos incrementos de gastos com assistência médica e compra de medicamentos”, afirma.

Para a médica, a prevenção da obesidade é o melhor caminho e deve começar o quanto antes, ainda na infância, por meio de uma dieta saudável e atividade física regular, que devem ser mantidas ao longo de toda a vida. A especialista diz que o tratamento consiste na redução do peso corporal por meio de dieta com baixa quantidade de calorias e aumento do gasto energético com atividade física.

Marília frisa que crianças com um IMC mais alto aparentemente correm risco aumentado de desenvolver distúrbios alimentares. “É possível que esses jovens tenham enfrentado discriminação ou estigma com base em seu peso por parte de pessoas importantes em suas vidas e, portanto, se envolvam em distúrbios alimentares para tentar perder peso.”

De acordo com ela, o IMC maior associado à probabilidade elevada de transtorno alimentar é uma informação importante para familiares e profissionais de saúde. “Jovens com excesso de peso são a população que parece apresentar sintomas de transtorno alimentar com mais frequência. Embora a maioria dos adolescentes que desenvolve um transtorno alimentar não relate problemas prévios de excesso de peso, alguns adolescentes podem interpretar mal o que é uma alimentação saudável e se envolver em comportamentos não saudáveis (por exemplo, pular refeições para gerar um déficit calórico), o que pode levar ao desenvolvimento de um distúrbio alimentar”, destaca.

Influência da pandemia

A pandemia de Covid-19 está associada a um aumento de até 15% nos transtornos alimentares em adultos e adolescentes, de acordo com diversos estudos. Mesmo após o retorno à rotina, o problema continua. Uma pesquisa da Universidade de Massachusetts publicada em dezembro passado constatou que as admissões de pacientes internados com esses transtornos aumentaram 7% entre 2020 e 2021. “A pandemia foi um evento universalmente traumatizante para praticamente todo mundo e sabemos que, no contexto do trauma, os distúrbios alimentares tendem a ser bastante comuns”, disse a principal autora, Sydney Hartman-Munick.