Como falso interesse revelou esquema de venda ilegal de sangue de gatos no interior de SP
Crime veio à tona a partir de anúncio nas redes sociais que ofertava R$ 50 a tutores. Três pessoas foram presas. Animais passam por atendimento e serão colocados para adoção.
Como foi revelado esquema de venda ilegal de sangue de gatos em Monte Alto
Áudios e prints de mensagens obtidos pelo de [DE] mostram como foi revelado o esquema ilegal de venda de sangue de gatos em Monte Alto (SP). Na última semana, oito animais foram resgatados e três pessoas chegaram a ser presas.
A prática ilegal veio à tona depois que uma pessoa, que prefere não se identificar, viu um anúncio nas redes sociais que ofertava R$ 50 a tutores que desejassem submeter os animais ao procedimento.
Ela, então, fingiu interesse em doar o sangue dos gatos dela, entrou em contato com os suspeitos, negociou e depois fez a denúncia às autoridades.
Do outro lado, uma mulher, essa apontada como intermediadora do esquema, fez o atendimento. Nos áudios, ela explicou inicialmente como funcionava o procedimento e o pagamento em troca.
> “Cada animalzinho que doa sangue para salvar outras vidas, a gente ajuda com uma quantia de R$ 50. Uma ajudinha de custo para ajudar na ração, o que vocês precisarem. A gente vai na tua casa, faz a coleta de sangue do animal e te dá a ajudinha de custo. Cada um vai ganhar R$ 50. A gente dá um sedativo no gato para ele dormir, senão a gente não consegue fazer a coleta, depois a gente dá o inverso para eles levantarem. Tudo certinho”, diz a intermediadora na conversa.
Depois, a suspeita afirmou que o material coletado era levado a um banco de sangue em outra cidade e justificou a prática.
> “Se você aceitar que seus gatinhos sejam doadores, que estejam salvando vidinhas, novas vidas, porque não é só o ser humano que precisa de sangue, o gato também. Ainda mais com este tempo de hoje, tem muita doença do carrapato, acidente, gatinho abandonado, anêmico. Só nesta semana já morreram cinco gatinhos por falta de sangue.”
Em outro trecho da conversa, a intermediadora tentou argumentar por que só realiza a coleta em animais com donos, e não nos de ONG, por exemplo.
> “Animais de ONG, doadores, que você pega da ONG, a gente não tira [sangue], porque a ONG pega os bichinhos que eles acham na rua, que eles tratam, cuidam e doam, eles pegam esses animaizinhos para estar salvando os animaizinhos que eles acham que precisam de sangue também. Eles usam os animaizinhos deles, então a gente não pode estar mexendo.”
Após a conversa, a pessoa que fingiu interesse acionou a Guarda Civil Municipal e a Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente, que foram à casa onde eram realizadas as coletas. Ao chegarem ao local, os agentes constataram uma série de irregularidades nos procedimentos e se depararam com ao menos seis gatos desacordados.
Os animais resgatados estão em recuperação em uma clínica veterinária de Jaboticabal (SP). Segundo a veterinária Carla Adriana Marconato, responsável pelo tratamento dos felinos, dois gatos chegaram em estado grave, enquanto os demais apresentavam sinais de anemia, desnutrição e infestações por pulgas.
Uma gata foi diagnosticada com FIV, o vírus da imunodeficiência felina, doença similar ao HIV em humanos, que ataca o sistema imunológico dos felinos e não tem cura. De acordo com a veterinária, é possível que a doença tenha sido transmitida durante as transfusões irregulares. Depois da recuperação, os animais ficarão disponíveis para adoção.
Das cinco pessoas levadas à delegacia, três foram presas. O estudante de veterinária Cleiton Fernando Torres, de 37 anos, de Bady Bassit (SP), a aposentada Sandra Regina de Oliveira, de 50 anos, de Monte Alto (SP), e a empregada doméstica Angela Aparecida Alves Ribeiro, de 42 anos, também de Monte Alto. Eles foram levados para a Cadeia Pública de Pradópolis (SP), mas apenas Cleiton foi mantido preso após audiência de custódia. Na última quinta-feira (9), a Justiça negou um pedido de liberdade para ele responder ao processo em liberdade. Além deles, também são investigados o operador Everton Leite Silva, de 37 anos, de Bady Bassit, e o autônomo Jose Luiz de Lima, de 63 anos, de São José do Rio Preto (SP). Todos respondem por praticar ato de abuso a animais, delito previsto na lei de crimes ambientais (Lei 9605/98).
Segundo o delegado Marcelo Lourenço dos Santos, há informações de que o sangue seria direcionado a uma clínica específica, regularizada e localizada em outra cidade.
Jose, Everton e Cleiton disseram que trabalhavam como freelancers para uma clínica veterinária de São José do Rio Preto (SP), para fornecimento de sangue de gatos. No boletim de ocorrência, consta que Cleiton relatou que é estudante de veterinária e estaria coordenando os procedimentos, recebendo diária de R$ 300, enquanto Everton e Jose estariam como auxiliares, recebendo R$ 100 cada. Em nota, a defesa dele disse que o cliente é inocente e que, no caso em apuração, “não existe previsão legal que proíba a existência de bancos de sangue para animais nem que criminalize, por si só, a coleta de sangue de cães e gatos quando realizada com finalidade terapêutica”. Angela alegou à polícia que é dona da casa onde estavam sendo realizados os procedimentos e dos gatos que estavam desacordados. Ela afirmou que havia permitido a coleta de sangue dos animais, sob pretexto de estar ajudando outros gatos que necessitariam de doação de sangue. A mulher também ressaltou que não receberia nenhuma quantia financeira para isso. A versão de Sandra não constava no boletim de ocorrência. A clínica veterinária Hemoser, de São José do Rio Preto (SP) e que foi citada no boletim de ocorrência, afirmou que o banco de sangue veterinário não é uma prática ilegal e que não causa quaisquer maus-tratos aos animais doadores.
Esses acontecimentos revelam a importância de um controle rigoroso e ético quanto ao uso de animais para procedimentos de saúde e a necessidade de punições severas para quem comete esse tipo de crime contra os animais. Todos os envolvidos precisam responder pelas suas ações e garantir que episódios como esse não voltem a ocorrer. A conscientização sobre a proteção e respeito aos animais é fundamental para uma sociedade mais justa e compassiva.