“Esse Plano Diretor não reflete as demandas de Goiânia. Ele é genérico e poderia servir para qualquer outra cidade”, afirma arquiteta

A rapidez da tramitação do novo Plano Diretor de Goiânia tem causado descontentamento entre diversos setores e pode haver suspensão das audiências públicas

As discussões levantadas em relação a aprovação do do novo Plano Diretor de Goiânia (PDG) colocam em debate o próprio desconhecimento da população sobre o que seja esse projeto. Na Câmara Municipal de Goiânia, as articulações são para que o projeto seja aprovado de forma célere em menos de 20 dias.

Para ganhar tempo, a prefeitura de Goiânia aproveitou que o projeto já havia sido aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e no plenário da Câmara em 2019 e enviou para a Casa o projeto sem nenhuma alteração, esperando assim, apenas as emendas que os vereadores irão propor. Nem mesmo as alterações sugeridas do grupo de trabalho criado pela própria gestão de Rogério Cruz (Republicanos) foram anexadas no documento.

Ao Diário do Estado, a arquiteta e urbanista Maria Ester, que já fez parte do Conselho Municipal de Política Urbana (Compur), explica sobre o PDG “O plano é uma lei que deve organizar o crescimento da cidade. Neste documento deve estar escrito quais são os programas e ações que a prefeitura da cidade precisa implantar para que haja o desenvolvimento no município“, diz.

De forma didática, ela continua “O crescimento não é a cidade aumentar de tamanho, mas é relacionado ao desenvolvimento. É apontar onde a cidade precisa ter mais escolas, hospitais, praças, comércios e possibilidade de lugares culturais. No Plano vai estar escrito como o prefeito faz isso. Por exemplo, as diretrizes de mobilidade deverão dizer como as pessoas podem se locomover sem que precise ter um carro“, explica.

Arquiteta e Urbanista Maria Ester, que já fez parte do Conselho Municipal de Política Urbana (Compur) acredita que a aprovação rápida do Plano Diretor não é o melhor caminho.

Sobre a prerrogativa de revisão do PDG a cada 10 anos, conforme exigido por lei, ela diz que o Plano começou a ser revisto, de fato, ainda em 2017 – o atual PDG é de 2007, mas que a gestão da época não tinha um interesse na discussão, “não era uma prioridade“.

Se vai dar tempo de discutir até o final deste mês, ela afirma, de prontidão, que “não dá”. “Se você considerar que parte dos vereadores eleitos, desde janeiro na Câmara, nunca tiveram contato com esse material da forma que tem agora, com o objetivo de estudá-lo mesmo, é preciso que seja ofertado algum tipo de ensino, como um seminário, uma conferência, algo que eles possam entender o Plano“, diz. Vale lembrar que a maioria dos vereadores da Casa são novatos.

Sobre a discussão com a sociedade, ela fala que o problema está na “falta de transparência e interesse”. “Esse plano não foi construído agora, ele foi escrito em 2019 e naquele ano a gente já dizia que ele precisava constar como a cidade pode ser construída em cada canto. Como o bairro Setor Sul precisa ser preservado, quais investimentos o bairro Novo Mundo precisa ter e se o bairro Jardim Cerrado terá mais moradias… É mostrar quais bairros precisam de ações municipais, com a implementação de teatro, cinema, shopping, comércio. Esse Plano não reflete as demandas de Goiânia. Ele é genérico e poderia servir para qualquer outra cidade, porque nele não tem nenhuma especificação“, conclui.

Plano Diretor já tem relatora

Como já era de se esperar, a escolhida para ser a relatora do projeto PDG na Comissão Mista é a vereadora Sabrina Garcez (PSD). Desde o primeiro mandato, em 2017, Sabrina já era uma entusiasta das alterações para o Plano.

A vereadora foi também relatora do Código Tributário do Município (CTM), o qual foi aprovado. Sabrina participou das três audiências públicas realizadas nos últimos anos e compôs o grupo de trabalho criado pela gestão do prefeito Rogério Cruz (Republicanos) para analisar a proposta.

Durante suas entrevistas, a parlamentar acredita que o PDG não está sendo discutido com rapidez, pois desde 2017 já existe o debate. Além disso, a expectativa é de que seja aprovado até o final deste ano, entretanto, sem obrigatoriedade.

O presidente da Comissão Mista, vereador Cabo Senna (Patriota) afirmou que haveria um co-relator do projeto, entretanto, até o momento, o nome não foi definido.

Impasse

Logo após a divulgação do cronograma de tramitação do novo PDG na Comissão Mista da Câmara Municipal nesta terça-feira (7), o Ministério Público de Goiás (MP-GO) enviou duas recomendações – uma para o presidente da Casa, vereadora Romário Policarpo (Patriota) e outra para o prefeito Rogério Cruz (Republicanos). Ambos documentos pedem a ampla participação popular no projeto e ressaltam a importância de um prazo mínimo de 15 dias para a divulgação das alterações propostas.

Conforme divulgado pelo Diário do Estado, no dia 30 de novembro, o MP-GO já havia entregue à prefeitura de Goiânia uma recomendação para que o PDG fosse submetido ao Compur antes de ser enviado à Câmara. O prazo final de resposta referente a recomendação era até essa segunda-feira (6).

Plano Diretor na Câmara

A promotora Alice Freire recomendou que a Câmara Municipal suspenda as audiências públicas programadas e designe outras para o ano que vem, após o recesso legislativo. O objetivo é de que dê tempo das pessoas conhecerem as emendas que serão apresentadas pelos vereadores, respeitando o prazo mínimo de 15 dias, para “ampla publicidade” e efetiva participação social.

É recomentado também que o presidente da Câmara, Policarpo, devolva o projeto para a prefeitura de Goiânia, visando a discussão com a população pelo poder Executivo.

Plano Diretor na Prefeitura

Ao prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Republicanos) é recomendado que ele retire o projeto da Câmara e submeta a conclusão do grupo de trabalho criado ao Compur, com a garantia da efetiva participação dos membros.

Mais transparência

Na tarde de ontem (7), os representantes de associações de moradores pediram mais transparência em relação a tramitação do PDG. Eles se queixam da celeridade de votação do projeto e apontam a impossibilidade legal de realização das audiências em dias seguidos, conforme o cronograma anunciado pela Câmara Municipal.

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Indiciado, Bolsonaro diz que Moraes “faz tudo o que não diz a lei”

Após ser indiciado pela Polícia Federal (PF), o ex-presidente Jair Bolsonaro publicou em sua conta na rede social X, nesta quinta-feira (21), trechos de sua entrevista ao portal de notícias Metrópoles. Na reportagem, ele informa que irá esperar o seu advogado para avaliar o indiciamento. 

“Tem que ver o que tem nesse indiciamento da PF. Vou esperar o advogado. Isso, obviamente, vai para a Procuradoria-Geral da República. É na PGR que começa a luta. Não posso esperar nada de uma equipe que usa a criatividade para me denunciar”, disse o ex-presidente.

Bolsonaro também criticou o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo no Supremo Tribunal Federal (STF). “O ministro Alexandre de Moraes conduz todo o inquérito, ajusta depoimentos, prende sem denúncia, faz pesca probatória e tem uma assessoria bastante criativa. Faz tudo o que não diz a lei”, criticou Bolsonaro.

Bolsonaro é um dos 37 indiciados no inquérito da Polícia Federal que apura a existência de uma organização criminosa acusada de atuar coordenadamente para evitar que o então presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e seu vice, Geraldo Alckmin, assumissem o governo, em 2022, sucedendo ao então presidente Jair Bolsonaro, derrotado nas últimas eleições presidenciais.

O relatório final da investigação já foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF). Também foram indiciados pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos; o ex-diretor da Agência Brasileira de Informações (Abin) Alexandre Ramagem; o ex-ministro da Justiça Anderson Torres; o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno; o tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro; o presidente do PL, Valdemar Costa Neto; e o ex-ministro da Casa Civil e da Defesa, Walter Souza Braga Netto.

Na última terça-feira (19), a PF realizou uma operação para prender integrantes de uma organização criminosa responsável por planejar os assassinatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente, Geraldo Alckmin, e do ministro Alexandre de Moraes.

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