Um vídeo publicado no TikTok por duas alunas de medicina gerou indignação ao expor comentários desrespeitosos sobre a jovem Vitória Chaves da Silva, de 26 anos, que passou por três transplantes de coração e um de rim. A postagem foi feita por Gabrielli Farias de Souza e Thaís Caldeiras Soares Foffano, enquanto ambas estavam no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), onde Vitória esteve internada. A jovem faleceu no dia 28 de fevereiro, vítima de choque séptico e insuficiência renal crônica.
No vídeo, posteriormente excluído, as estudantes comentam de forma sarcástica sobre a quantidade de procedimentos realizados por Vitória e insinuam que a necessidade de múltiplos transplantes seria responsabilidade dela por, supostamente, não seguir corretamente os protocolos médicos. Em tom de deboche, uma das estudantes chega a dizer: “essa menina tá achando que tem sete vidas?”
A gravação teve grande repercussão nas redes sociais, e a família de Vitória decidiu denunciar as responsáveis. A Polícia Civil de São Paulo instaurou um inquérito no 14° Distrito Policial (Pinheiros), tratando o caso como injúria. O Ministério Público de São Paulo (MPSP) também confirmou o recebimento da denúncia, que foi encaminhada à Promotoria de Justiça de Direitos Humanos da Capital.
Em nota, a Faculdade de Medicina da USP esclareceu que Gabrielli e Thaís não são alunas da instituição, mas participaram de um curso de extensão de curta duração. A faculdade afirmou ter notificado as universidades de origem das estudantes e destacou não haver qualquer vínculo acadêmico delas com o InCor ou com o HC da FMUSP.
“A FMUSP repudia com veemência qualquer forma de desrespeito a pacientes e reafirma o compromisso inegociável com a ética, a dignidade humana e os valores que norteiam a boa prática médica”, diz o comunicado oficial. A instituição informou ainda que tomará medidas adicionais para reforçar a orientação sobre conduta ética e uso responsável das redes sociais, incluindo a exigência de um termo de compromisso de respeito aos pacientes.
Vitória nasceu com uma cardiopatia congênita rara chamada Anomalia de Ebstein. O primeiro transplante de coração foi realizado em 2005, seguido por outro em 2016. Em 2022, ela passou por um transplante de rim e, em 2024, por um terceiro transplante cardíaco. A jovem morreu um ano após o último procedimento e dois anos depois do transplante renal, que acabou comprometido durante o tratamento para o coração.
Estudantes de medicina zombaram de jovem que passou por quatro transplantes, nove dias antes de sua morte:
“Na segunda vez, ela não tomou os medicamentos corretamente, o corpo rejeitou o órgão e precisou transplantar de novo, erro dela. Agora, o novo transplante foi aceito, mas… pic.twitter.com/IPxaVs3dmB
— poponze (@poponze) April 8, 2025