Estudo aponta altos níveis de açúcar e gordura em alimentos para crianças: como garantir uma alimentação saudável?

Mais de 54% dos alimentos destinados às crianças apresentam altos níveis de açúcar e gordura, conforme aponta um estudo realizado pelo Instituto Saúde e Sociedade (ISS) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) na Baixada Santista, litoral paulista. Essa descoberta acende um alerta sobre a importância da formulação de políticas públicas e regulação da indústria alimentícia, a fim de garantir uma alimentação saudável para as crianças.

A pesquisa examinou 8.942 produtos disponíveis em supermercados durante um período de quase três anos, entre fevereiro de 2021 e setembro de 2023. Dentre esse total, 10,7% dos rótulos utilizavam estratégias de marketing direcionadas às crianças. A análise levou em consideração indicadores nutricionais como o Nutri-Score e o Perfil Nutricional da Anvisa, com foco em calorias, gorduras, açúcares e sódio.

É alarmante observar que a presença de personagens e mascotes nos rótulos dos alimentos influencia diretamente na escolha dos consumidores, especialmente das crianças. A professora Veridiana Vera de Rosso destacou que os produtos avaliados possuem altos teores de açúcar adicionado, gordura saturada e sódio, enquanto carecem de nutrientes positivos, como fibras, proteínas, vitaminas e minerais.

Além disso, quase metade dos produtos analisados contém corantes artificiais, que são utilizados para torná-los mais atrativos ao público infantil. No entanto, esses corantes, como Allura Red AC e Brilliant Blue FCF, podem gerar impactos negativos na saúde em longo prazo. A preocupação é ainda maior quando se identifica a presença de edulcorantes artificiais em quase 7% dos produtos, como acesulfame de potássio e aspartame.

Diante desses dados alarmantes, torna-se crucial a formulação de políticas públicas eficazes que promovam uma alimentação saudável para as crianças. Os pais desempenham um papel fundamental nesse cenário, sendo responsáveis por orientar a escolha dos alimentos adequados para seus filhos. A atuação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também se faz necessária, proibindo o uso de estratégias de marketing prejudiciais nos produtos destinados ao público infantil.

É essencial que o consumidor utilize a rotulagem nutricional como um instrumento de escolha consciente dos alimentos, buscando reduzir o consumo de açúcar, gordura e sódio. A implantação de selos de advertência nos produtos é um passo importante, mas o Brasil deve avançar em outras estratégias, como a taxação desses alimentos e a limitação do uso de marketing infantil. A conscientização e a educação alimentar desde a infância são fundamentais para garantir um futuro mais saudável para as próximas gerações.

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Macuquinho: Ave rara usa cavidade de árvore para amplificar canto

Ave usa ‘caixa de som’ natural para amplificar canto

Macuquinho foi flagrado em cavidade de árvore para emitir som mais alto. Registro raro foi feito em Florianópolis (SC).

Quem aí gosta das famosas “caixinhas de som”? Com o recurso do bluetooth, facilmente elas garantem a trilha sonora de qualquer festa ou até da faxina em casa. Agora, sabia que, na natureza, tem passarinho que deu um jeito de amplificar o som do próprio canto?

O registro foi feito pelo observador de aves Jonathan Idalencio Imperator, em Florianópolis, Santa Catarina. Só que, ao contrário de muitos registros, este foi planejado por algum tempo. Jonathan conta que sempre ouvia o macuquinho (Eleoscytalopus indigoticus) quando ia passarinhar numa mata, perto da casa dele. E, durante um dos encontros com a espécie, em 2022, notou este comportamento.

“Consegui fazer uma imagem escura, mas pude compartilhá-la para tentar entender o que era”. Foi aí que o observador descobriu que se tratava de um registro raro e que o macuquinho procura amplificar o canto. Diante da raridade, as tentativas para um vídeo melhor se seguiram. Mas o macuquinho não facilitou a vida de Jonathan, que por muitas vezes tentou fazer o registro ao ouvir a vocalização. “Desta última vez, estava passando na trilha quando ouvi, fui chegando mais perto. Vi novamente o comportamento dele entrar e sair da cavidade. Montei a câmera diante da árvore e fiquei cerca de uma hora aguardando”, conta o observador.

A espera valeu a pena. Em um vídeo de pouco mais 40 segundos o macuquinho demostra toda a habilidade em ser um “DJ da natureza”. Um som contínuo é emitido e silencia a mata. “Eu tive uma palpitação na hora, foi muita emoção, fiquei muito feliz com o flagrante e poder assim contribuir para que mais gente conheça esse comportamento da espécie. Eu estava decidido e deu certo”, compartilha Jonathan.

Segundo o ornitólogo do Terra da Gente, Luciano Lima, embora seja um comportamento conhecido e descrito na literatura, observar e, principalmente, registrar a espécie executando esse comportamento é algo raro. “O macuquinho não vocaliza apenas a partir do interior de cavidades. Um estudo publicado em 2012, identificou que a espécie exibe esse comportamento apenas eventualmente, especialmente quando emite o tipo de vocalização mostrado no vídeo, que é um trinado grave e contínuo”, explica o especialista. “Além dessa vocalização, o macuquinho também emite uma sequência de notas rasgadas que crescem em velocidade, lembrando um trem e por isso, não por acaso, foi apelidado pelos observadores de aves de “canto do trenzinho”. No entanto, essa outra voz ainda não foi registrada sendo emitida a partir de cavidades”, finaliza Luciano, que completa que esse estudo também confirmou que a espécie canta nas cavidades com o objetivo de amplificar o som.

Segundo as apurações de Jonathan nos grupos de observadores, o comportamento flagrado é pouco estudado e não há conclusões sobre o motivo para o macuquinho amplificar o som do canto. “Falaram de ele querer intimidar outro indivíduo, defender território, mas nada é comprovado. Mas é fato que é algo muito difícil de gravar. Sem dúvida meu registro mais especial”, afirma.

O macuquinho é ave pequena (11 cm), discreta e habita áreas de vegetação mais densa, próximo ao solo. É chamado também de macuquinho-perereca, por conta de sua vocalização lembrar o som de anfíbios. Endêmico da Mata Atlântica do Sul e do Sudeste do Brasil está quase ameaçado de extinção, pela falta de habitat. Macho e fêmea se diferem na cor, sendo o macho mais escuro, com um detalhe esbranquiçado na garganta e com parte do corpo azul.

Jonathan Idalencio Imperator, autor do registro do macuquinho, começou a observar aves durante a pandemia, em 2020. O jovem de 33 anos conta que costumava fotografar o pessoal do surf, nas praias de Florianópolis, mas que, motivado por um outro amigo observador, passou a usar o equipamento para ir para a mata nos dias de isolamento. “Aí fui melhorando meu equipamento, estudava as espécies que poderiam ter perto da minha casa, gravava as vocalizações que desconhecia para estudar. Comprei livros e passei a mergulhar neste universo”, relembra o observador. Hoje Jonathan possui registros de cerca de 300 espécies. Entre os destaques, um visitante do comedouro da casa dele chama a atenção: uma fêmea do canário-andino-negro. “No Brasil havia apenas três registros da espécie, o meu foi o quarto e o primeiro para Florianópolis. Ele ficou cerca de uma semana aparecendo. Um monte de gente veio aqui em casa fazer o registro dele”, conta. Atualmente é Jonathan quem inspira as pessoas a observar as aves. “Pessoal manda mensagem perguntando que passarinho é aquele, ou falam que viram alguma espécie, é muito legal”, finaliza.

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