Estudo inédito revela impactos de ações em saúde mental na periferia de Campinas: atividades em grupo e culturais se destacam

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Saúde mental na periferia: estudo inédito mapeia entidades, ações e impactos em
jovens de Campinas

Levantamento recebeu respostas de 33 organizações que atendem ao menos 2,2 mil
jovens em territórios periféricos e como suas atividades impactam no cuidado da
mente.

1 de 1 Região do Parque Oziel, em Campinas — Foto: Reprodução/EPTV

Um estudo inédito divulgado nesta sexta-feira (26) mapeou 33 organizações e como
elas atuam no cuidado com a saúde mental de ao menos 2,2 mil jovens na periferia
de Campinas (SP) [https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/cidade/campinas/]. O
trabalho revela que, nesses territórios, as atividades em grupo e de cultura
estão entre as que mais impactam na melhora do bem-estar emocional e no senso de
comunidade de moradores entre de 12 a 29 anos.

A pesquisa “Mapamentes das Juventudes” foi elaborada pelo Departamento de
Demografia da Unicamp em parceria com a Fundação Feac e a associação Minha
Campinas. De acordo com organizadores, a expectativa é que ela ajude na tomada
de decisões do poder público, evidenciando a importância do cuidado
multidisciplinar nas regiões mais vulneráveis da metrópole.

“A saúde mental da população é profundamente influenciada pelo contexto
social, econômico, político, cultural e ambiental em que vive. Trata-se de um
problema que transcende a esfera individual, sendo resultado de fatores
complexos que afetam a coletividade […] é fundamental a implementação de
políticas públicas eficazes, a criação de redes de proteção social robustas, a
garantia de melhores condições de vida, a segurança alimentar e o
fortalecimento do suporte comunitário”, Elisa Muller, co-fundadora da
associação Minha Campinas.

Nesta reportagem o DE detalha:

quais são os territórios e que ações desenvolvem
quais as atividades que mais impactam na saúde mental
como a pesquisa espera contribuir para a tomada de decisões do poder público

TERRITÓRIOS PERIFÉRICOS E SUAS AÇÕES

Para a pesquisa, o Departamento de Demografia elaborou um formulário que foi
respondido voluntariamente pelas 33 instituições nos seguintes territórios:

Campo Grande
Campo Belo
Centro
São Marcos
Ouro Verde
Oziel

Elas realizam iniciativas que incluem:

atividades esportivas;
oficinas culturais e projetos artísticos;
formações em direitos;
cursos profissionalizantes;
rodas de conversa;
atendimento psicossocial;
apoio à saúde mental.

Com as informações de cada uma, os pesquisadores desenvolveram um mapa, que pode
ser consultado pela internet, que mostra onde estão e que atividades realizam.

QUAIS ATIVIDADES MAIS IMPACTAM POSITIVAMENTE NA SAÚDE MENTAL

Por meio das respostas, recebidas entre outubro e novembro de 2024, a iniciativa
analisou a relação entre as atividades realizadas pelas organizações e os
impactos que elas provocaram nos atendidos (veja a tabela abaixo).

Os 33 respondentes precisaram indicar no formulário quais os resultados
obtidos com cada tipo de trabalho, podendo escolher uma ou mais opções. Entre as
descobertas estão:

Três categorias de atividades se destacaram por consistentemente associadas
aos maiores números em praticamente todos os impactos positivos. São elas:
atividades em grupo (32 iniciativas), direitos e prevenção (31 iniciativas),
atividades lúdicas e culturais (30).
Os principais impactos provocados por esse tripé são, segundo o levantamento,
estão ligados à: melhora do bem-estar emocional, maior senso de pertencimento
e comunidade, e criação de espaços seguros e acolhedores.
Bem-estar emocional, senso de pertencimento, comunicação familiar e criação
de espaços seguros são impactos diretamente proporcionados pelo ambiente
acolhedor das atividades.

A partir desses achados, o estudo recomenda, principalmente:

Priorizar a destinar recursos para projetos que combinam atividades em grupo,
culturais/lúdicas e de direitos/prevenção, considerando que os editais devem
incentivar essa abordagem de forma integrada, não atividades isoladas.
Incentivar a “Educação em Saúde Mental” como um componente integrado a
outras, por exemplo, uma oficina artística que discuta a ansiedade ou uma
roda de conversa após um jogo de futebol.

PARA OLHAR ALÉM DO ATENDIMENTO CLÍNICO

O mapeamento pontua que apenas 15,2% das organizações oferecem atendimento
clínico especializado como forma de cuidado com a saúde mental. Embora avalie a
atenção em psicoterapia como indispensável, Viviane Junta, que faz parte da
Minha Campinas e integra o Conselho Municipal da Juventude, ressalta que esse
trabalho deve ser multidisciplinar, especialmente na periferia.

Oferecer renda, segurança, senso de comunidade e acesso à cultura também são
políticas que favorecem o bem-estar. “Não adianta investir apenas em CAPS
[Centros de Atenção Psicossocial] e não pensar no todo, na geração de emprego,
no lazer. É preciso cuidar antes, evitar a medicalização, cuidar da cidadania”.

“Quando a gente fala de investimento social, quando a gente fala de política
pública, a gente também fala de olhar para esses dados, para essas informações
e tomar decisões estratégicas a respeito disso. Quando a gente fala da saúde
mental, a gente entende que é uma temática que ela perpassa por várias
questões, culturais, políticas, sociais, e o quanto as ações integradas elas
são necessárias para atuar frente a essas demandas”, comenta Joyce Setubal,
coordenadora de projetos da Feac.

“Esses dados vão dar luz e entender e nos dar subsídios para tomar essas
decisões estratégicas, até pensando no nosso papel enquanto sociedade, de cobrar
essas políticas públicas mais efetivas para essas populações de vulnerabilidade.
A gente tem discutido aqui muito nesse momento, a necessidade de políticas
públicas integradas, não apenas para saúde mental, mas o quanto a gente precisa
ainda melhorar e avançar em políticas de educação, políticas de habitação, de
emprego, de saúde, e aí esse trabalho integrado é ser possível melhorar as
questões de saúde mental”, completa.

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