Estudo revela que 91% dos moradores de Acari, no Rio, vivem em ruas que alagam; 47% elevaram as casas contra enchentes
Em 2024, a região sofreu uma das maiores enchentes de sua história. Pesquisa, que será apresentada na COP30 e mostra impactos das chuvas em favelas, também traz dados sobre ouras comunidades do Rio de Janeiro e de Pernambuco.
Enchente em Acari invadiu casas de 20 mil pessoas, segundo associação de moradores [https://s02.video.glbimg.com/x240/12272709.jpg]
Quase todos os moradores da Favela de Acari, na Zona Norte do Rio, convivem com alagamentos frequentes. Ao todo, 91,2% das famílias da comunidade afirmaram que suas ruas alagam com regularidade, segundo pesquisa do Instituto Decodifica.
O levantamento, que será apresentado nesta terça-feira (18), na Cas’Amazonia Brasil, em Belém [https://g1.globo.com/pa/para/cidade/belem/], como parte das atividades da COP30 [https://g1.globo.com/meio-ambiente/cop-30/], também aponta que 47,8% dos entrevistados tiveram que adaptar suas casas para enfrentar enchentes — elevando pisos ou construindo andares superiores.
A pesquisa ouviu 726 pessoas da comunidade de Acari. O estudo integra o relatório ‘Retratos das Enchentes’ e buscou medir o impacto climático em comunidades vulneráveis. No recorte do Rio, Acari aparece com alguns dos indicadores mais altos de danos, adoecimento, perdas financeiras e interrupção de serviços essenciais.
Ocupações irregulares nas margens do Rio Acari — Foto: Reprodução TV Globo
Acari foi uma das áreas mais atingidas pelas chuvas de 2024, quando cerca de 20 mil pessoas tiveram suas casas invadidas pela água. A favela, com aproximadamente 29 mil habitantes, é cortada pelo Rio Acari e sofre com baixa altitude, assoreamento e falta de saneamento básico, fatores que agravam os impactos das mudanças climáticas.
Os efeitos na saúde também são marcantes, visto que 48,5% dos moradores da favela adoecem após enchentes. A dengue aparece em 36,6% dos diagnósticos. As doenças de pele, em 12,1%. A leptospirose, em 4,7%. A comunidade registrou 2 óbitos relacionados às enchentes de 2024. O impacto emocional é profundo para os moradores de Acari. Ao todo, 55% deles dizem que o medo das cheias afeta o sono ou a concentração. Entre mulheres negras, 35% relatam que choram frequentemente ou sempre em razão das enchentes.
Apesar da gravidade dos danos, a pesquisa revela avaliação majoritariamente negativa sobre a atuação do poder público. Em Acari, 35,8% classificou como “péssima” a resposta governamental às enchentes. Apenas 24,3% receberam algum tipo de auxílio financeiro. Esse cenário reforça um processo de “privatização da adaptação climática”, em que famílias, sozinhas, tentam se proteger de eventos extremos cada vez mais frequentes.
As enchentes em Acari atingem diretamente a estrutura das casas e a capacidade econômica das famílias. Segundo a pesquisa, 84,1% perderam móveis, eletrodomésticos ou bens pessoais, enquanto 71,7% registraram danos estruturais, como rachaduras. Documentos foram perdidos por 49,1%, dificultando acesso a serviços públicos e políticas de assistência. Os itens mais descartados após as enchentes foram sofás (64,9%), camas (62%) e colchões (60,6%) — perda que compromete dignidade, descanso e condições de higiene.




