A pressão alta, problema de saúde muito comum na população, pode afetar a qualidade do sêmen masculino desde a juventude, conforme indicado por um estudo realizado no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP). Além disso, essa pesquisa mostrou que as alterações causadas pela hipertensão arterial não são completamente revertidas com o uso de medicamentos anti-hipertensivos. Essas descobertas sinalizam desafios significativos para a preservação da saúde reprodutiva dos homens.
O estudo, coordenado pelo professor Stephen Rodrigues, revelou que as mudanças na qualidade do sêmen, incluindo danos ao acrossoma, uma estrutura essencial para a fertilização, e comprometimento da microcirculação testicular, ocorrem precocemente e persistem ao longo da vida adulta masculina. Essa constatação é impactante e destaca a importância de se compreender melhor os efeitos da pressão alta na saúde reprodutiva.
Publicado na revista Scientific Reports, o trabalho teve a mestranda Nicolle Machado como primeira autora e contou com o apoio da FAPESP por meio de três projetos. A pesquisa foi conduzida em ratos hipertensos, utilizando um modelo de estudo em que os animais desenvolvem hipertensão de forma espontânea, abrangendo diferentes faixas etárias, desde a juventude até a fase mais avançada da vida.
A principal descoberta foi que as alterações na qualidade do sêmen, como diminuição na concentração de espermatozoides e danos ao acrossoma, ocorrem de maneira precoce e persistem ao longo de toda a vida reprodutiva. Isso salienta a necessidade de medidas eficazes para proteger a saúde reprodutiva masculina, especialmente em um contexto de prevalência cada vez maior de hipertensão arterial.
Os pesquisadores avaliaram a eficácia de diferentes medicamentos anti-hipertensivos e observaram que nem todos foram capazes de reverter as alterações nos espermatozoides. Enquanto a losartana, um medicamento amplamente utilizado, reduziu a pressão arterial, não foi eficaz na correção dos danos no sêmen. Já a prazosina, um antagonista do receptor alfa-adrenérgico, além de reduzir a pressão arterial, corrigiu parte dos danos observados nos espermatozoides.
Diante desses resultados, o professor Rodrigues enfatiza a importância de combinar diferentes abordagens terapêuticas para preservar a saúde reprodutiva. Além disso, o grupo de pesquisa pretende investigar o impacto da hipertensão arterial no epidídimo e o papel da atividade física na qualidade do sêmen e na microcirculação testicular, visando promover melhorias naturais na saúde reprodutiva masculina.
Em um cenário onde a hipertensão arterial afeta milhões de pessoas em todo o mundo, estudos como esse se mostram cruciais para compreender os impactos sistêmicos dessa condição na saúde reprodutiva. Os pesquisadores ressaltam a importância de investigar a fundo os efeitos da pressão alta, especialmente diante da redução significativa na quantidade de espermatozoides observada nas últimas décadas. A busca por soluções que revertam ou previnam esses problemas é fundamental para garantir a saúde reprodutiva no futuro.