A Europa enfrenta a primeira onda de calor de 2025 com termômetros ultrapassando os 40°C em diversas regiões do sul do continente nesta segunda-feira, 30. O pico foi registrado no sábado, 28, na Espanha, onde a temperatura chegou aos 46°C. Diante do cenário, países como Portugal, França, Itália e Grécia emitiram alertas para riscos à saúde e incêndios florestais.
Na Alemanha, medidas como a proibição de regar jardins e fazer churrascos em parques públicos já foram adotadas, e a expectativa é de quebra de recorde na quarta-feira, 2, podendo superar os 41,2°C registrados em 2019.
Durante a Conferência da ONU sobre Financiamento e Desenvolvimento, em Sevilha, o secretário-geral da organização, António Guterres, reforçou a gravidade da situação: “Ondas extremas de calor não são mais eventos raros. São o novo normal”.
O calor extremo tem afetado especialmente idosos e crianças. Na Itália, autoridades pediram que a população evite sair de casa entre 11h e 18h. Já na França, mais de 200 escolas suspenderam as aulas. A ministra do Meio Ambiente francesa, Agnès Pannier-Runacher, classificou como inédita a situação em que 84 dos 101 departamentos do país estão em alerta laranja — o segundo mais alto. Nesta terça-feira (1º), Paris e outras 15 regiões devem entrar em alerta vermelho.
O calor também já provoca consequências ambientais. A França registrou o primeiro incêndio florestal da temporada: 400 hectares foram consumidos em Bizanet, próximo à fronteira com a Espanha. Na Alemanha, a seca acende o alerta para possíveis restrições no consumo de água.
Segundo o serviço meteorológico alemão (DWD), a temperatura média em junho no país foi de 18,5°C — bem acima da média histórica de 15,4°C entre 1961 e 1990. A mudança no clima pressiona os hábitos locais e até a arquitetura das cidades, que não estão preparadas para tanto calor. Aparelhos de ar-condicionado ainda são pouco comuns em capitais como Berlim.
Com a alta nas temperaturas, jornais e redes sociais têm compartilhado dicas para manter os ambientes frescos, como abrir janelas nas primeiras horas da manhã e manter cortinas fechadas ao longo do dia.
O calor também está relacionado a um aumento no número de mortes por afogamento. No último fim de semana, 15 casos foram registrados na Alemanha — o maior número do ano. Segundo autoridades, além da imprudência, a diferença brusca de temperatura entre o ambiente e a água pode causar colapsos.
Outro dado alarmante vem do mar Mediterrâneo. A temperatura média da superfície atingiu 26,1°C, a mais alta já registrada em um mês de junho, segundo o observatório europeu Copernicus. Desde 2023, a média cresce cerca de um grau por ano, reflexo direto da crise climática causada principalmente pela queima de combustíveis fósseis. Cientistas apontam que os oceanos absorvem cerca de 90% do calor gerado pelas atividades humanas, mas já não conseguem conter o ritmo atual de aquecimento.
O impacto do calor também foi sentido nas quadras do Torneio de Wimbledon, em Londres. As partidas da primeira rodada ocorreram sob temperaturas de até 32°C.
Durante o evento da ONU, António Guterres também alertou para os desafios enfrentados pela cooperação internacional em meio ao agravamento das mudanças climáticas. Ele criticou os cortes de mais de US$ 60 bilhões em programas de assistência global desde o início do governo Trump, destacando o impacto direto na ajuda a países pobres.
“Vivemos em um mundo onde a confiança está se desintegrando, o multilateralismo está sob pressão, e a crise climática se agrava. O apoio aos mais vulneráveis é mais urgente do que nunca”, declarou o secretário-geral.