Europa se reorganiza diante de incertezas sobre apoio dos EUA e ameaça russa

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Líderes europeus discutiram medidas para fortalecer a defesa do continente em uma reunião emergencial após declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que colocaram em dúvida o compromisso americano com a segurança da Europa e o apoio à Ucrânia.

Desde o início de seu mandato, Trump suspendeu a assistência militar e o compartilhamento de inteligência com Kiev, além de questionar novamente se os EUA defenderiam seus aliados da Otan em caso de ataque. Diante da crescente ameaça russa, descrita pelo presidente francês Emmanuel Macron como “existencial”, os países europeus aceleram preparativos para um cenário em que precisem se proteger sem o respaldo de Washington.

Em Bruxelas, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky participou do encontro e anunciou uma viagem à Arábia Saudita, onde apresentará um plano de cessar-fogo antes das negociações entre Kiev e Washington.

Investimentos bilionários em defesa

Na reunião extraordinária do Conselho Europeu, foi discutida uma proposta que pode mobilizar até 800 bilhões de euros para fortalecer a segurança do continente. Parte desse valor incluiria 150 bilhões de euros em empréstimos aos países europeus para rearmamento. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, classificou o momento como decisivo e afirmou que detalhes jurídicos do plano serão avaliados antes de um novo encontro no final do mês.

Macron anunciou que a União Europeia destinará mais de 30 bilhões de euros à Ucrânia, financiados por ativos russos congelados. Os líderes europeus declararam que o conflito desencadeado pela Rússia representa um “desafio existencial” e defenderam maior autonomia na segurança do bloco.

Incertezas sobre a Otan

As declarações de Trump sobre o compromisso dos EUA com a Otan aumentaram a apreensão entre os aliados. O ex-presidente criticou o nível de investimento dos países-membros na aliança e sugeriu que Washington não defenderia aqueles que não aumentassem seus gastos militares. O artigo 5º do tratado, que prevê defesa coletiva entre os países da Otan, tem sido uma pedra angular da segurança ocidental.

O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, reafirmou a importância da parceria transatlântica e alertou para os riscos de uma mudança na postura americana. Enquanto isso, o embaixador da Ucrânia no Reino Unido, Valerii Zaluzhnyi, afirmou que a Casa Branca tem se aproximado de Moscou e alertou que a Europa pode ser o próximo alvo da Rússia.

Negociações de paz em debate

Os líderes europeus também debateram caminhos para um cessar-fogo na Ucrânia. Um documento assinado por quase todos os representantes da União Europeia pede um acordo que respeite a soberania e a integridade territorial do país. O único líder a se abster foi o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán.

Macron propôs um cessar-fogo inicial de um mês em áreas estratégicas como infraestrutura energética e portuária, mas alertou que qualquer negociação precisa ser cuidadosamente conduzida. Zelensky afirmou que está preparando propostas para encerrar o conflito e que a primeira condição seria o fim imediato dos ataques russos contra alvos civis e no Mar Negro.

O presidente ucraniano tem reuniões agendadas com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, enquanto sua equipe discutirá os próximos passos com representantes dos Estados Unidos.

A proposta de um cessar-fogo encontrou resistência em Moscou. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, rejeitou a iniciativa e afirmou que o envio de forças europeias para a Ucrânia seria “inaceitável”. Enquanto isso, a China observou que as tensões entre EUA e Europa podem levar o bloco europeu a reconsiderar sua postura em relação a Pequim.

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