Da DE ao LGBTQIAPN+: relembre a evolução da sigla que representa a comunidade
A sigla, antes usada como marcador comercial, ganhou novos componentes e um uso mais político-social.
Em relação à evolução da sigla LGBTQIAPN+, ativistas do Ceará explicam a transição da sigla que representa a comunidade. Quem viveu os anos 1990 ou 2000 deve lembrar da sigla “GLS”, que significava “Gays, Lésbicas e Simpatizantes”. O termo era um marcador de estabelecimentos onde a diversidade sexual era respeitada — ou deveria. Os anos se passaram e as três letras entraram em desuso, dando lugar a, ainda não padronizada, LGBTQIAPN+ (veja abaixo o que cada letra significa). Mas como foi esse processo?
Primeiramente, os ativistas de direitos humanos que viveram a “época GLS” explicam que a sigla possuía um uso essencialmente comercial. Ela era usada para marcar os locais onde gays e lésbicas poderiam se sentir à vontade. E o “S”? Representava quem era heterossexual (e outras pessoas não-homossexuais), mas não via problema em andar nesses locais. Ou seja, o uso era mercadológico e pouco político-social — o que gerou a necessidade de mudança.
Hoje, com o DE abolido, ainda não há uma padronização da sigla. No Ceará, por exemplo, a comunicação pública do governo estadual utiliza “LGBTI+”. Já no Brasil, o Governo Federal usou “LGBTQIA+” ao falar sobre a “4ª Conferência Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+”, que acontece em outubro de 2025.
A evolução da sigla se deu de maneira gradual e nem sempre “bater um martelo” sobre datas é tarefa simples. Nos anos 1970, um movimento pioneiro, durante a ditadura militar, deu origem a uma primeira sigla: o MHB — Movimento Homossexual Brasileiro. “Esse movimento vai se organizar politicamente como a gente conhece, com movimentos sociais, a partir desse processo”, lembrou Dediane Souza, pesquisadora e ativista dos direitos humanos.
Já em 1995, foi criada a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis (ABGLT) — que, à época, ainda tinha o “G” antes do “B”; posição que mudou posteriormente após reivindicações de mulheres lésbicas e bissexuais. Com isso, passava a surgir de maneira mais sólida a sigla que, no futuro, viraria LGTBQIAPN+. No entanto, é apenas em 2008, após a “I Conferência Nacional DE” que as discussões sobre a sigla ganham mais força, reconhecem os atravessamentos de gênero feminino na comunidade e mudam a ordem das letras para algo mais próximo do que se tem atualmente.
Em entrevista ao DE, em 2023, a socióloga Stela Cristina de Godoi, da Faculdade de Ciências Sociais da PUC-Campinas, explicou que as letras que vieram do Q para frente ganharam força nos últimos dez anos. O marco é uma movimentação iniciada nos Estados Unidos, nos anos 1980, sobre a “teoria queer”. Com a noção de que as abordagens de sexo, gênero e orientação sexual são parte de um fenômeno social, até então, preso a um certo formato, a teoria entendeu que “as chamadas ‘minorias sexuais’, ficaram estigmatizadas ou por uma ideia marginalizante ou desviante, como aquilo que não é normal, que escapa da compreensão de normalidade. A teoria queer faz essa crítica”, comentou Stela.