Ex-diretora suspeita de facilitar fuga de 16 presos na BA é investigada por
morte de jovem que a teria chamado de ‘miliciana’
Joneuma Silva Neres está presa desde janeiro. Alan Quevin foi sequestrado em
junho do ano passado após fazer postagens nas redes sociais. O corpo ainda não foi
encontrado.
A ex-diretora do Conjunto Penal de Eunápolis, Joneuma Silva Neres, presa em janeiro deste ano, suspeita de facilitar a fuga de 16 presos, em dezembro de 2024, é investigada por mandar matar um jovem que teria chamado ela de “miliciana” nas redes sociais. A informação foi revelada na denúncia oferecida pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) à Justiça em março deste ano.
Segundo o documento que a TV Bahia teve acesso com exclusividade, Joneuma descobriu que Alan Quevin Santos Barbosa teria comentado com algumas pessoas que ela “trabalhava politicamente para determinados candidatos” e que facilitava a entrada de produtos e objetos ilícitos no presídio.
As investigações apontam que a diretora ficou “muito irritada” com as publicações feitas por Alana e solicitou para Ednaldo Pereira de Souza, o Dadá, que “desse um jeito” no autor das postagens. Dadá é um dos 16 presos que conseguiram deixar o presídio na fuga em massa. Ele é apontado como chefe de uma facção criminosa com atuação na cidade e amante de Joneuma Silva Neres. Alguns detentos relataram que os dois mantiveram relações sexuais dentro da unidade.
Em 7 de junho de 2024, dias depois da identificação do dono da página que
publicou as críticas contra Joneuma nas redes sociais, Alan foi sequestrado
dentro da casa em que morava, em Eunápolis, por dois integrantes do grupo criminoso. Um deles foi reconhecido como Marcos Vinicius Tavares Ferreira Santos, conhecido como “Gago”. Não há informações se ele foi preso pelo crime ou se está foragido. O documento afirma que após ter sido sequestrado, Alan Quevin foi morto e teve o corpo descartado em um local que ainda não foi descoberto pela polícia.
Alguns detentos do Conjunto Penal de Eunápolis tiveram refeições especiais com
moquecas de camarão e lasanhas e uma comemoração do Dia da Consciência Negra com
direito a distribuição de acarajés e roda de capoeira. Um dos presos também
“velou” o corpo da avó dentro da unidade. Entre as autorizações inusitadas dadas por Joneuma aos detentos, chamou a atenção a entrada de um caixão e um corpo no interior do Conjunto Penal, para que um dos chefes de um grupo criminoso, “velasse”, dentro do presídio, o cadáver da avó.
Segundo o documento, um detento, que estava preso no Conjunto Penal há quatro meses, relatou quando foi ouvido pela polícia, que todas as celas estavam abertas no feriado da Consciência Negra. Durante este momento, de acordo com o depoimento, uma mulher vestida com trajes típicos, na presença de Joneuma, distribuiu acarajés para os detentos. Além disso, outras duas mulheres praticaram uma roda de capoeira, na qual a própria diretora participou, convidando Dadá, para integrar a roda.
A ex-diretora do Conjunto Penal de Eunápolis, o ex-coordenador de segurança da unidade, Wellington Oliveira Sousa, e o suspeito de chefiar uma facção criminosa na cidade, Ednaldo Pereira de Souza, são apontados pelo Ministério Público da Bahia como responsáveis por planejar a fuga dos detentos. A operação de fuga tinha o objetivo de livrar Ednaldo, mais conhecido como Dadá, e outros 15 presos do cárcere. Em janeiro, um dos homens morreu em confronto com policiais civis na cidade. Os demais seguem foragidos. O caso segue sob segredo de Justiça, porém o DE obteve acesso ao documento na sexta-feira (4).
Segundo as investigações, além de colocar todos os aliados de Dadá na mesma cela, dias antes da fuga, a ex-diretora do Conjunto Penal de Eunápolis e o subordinado, Wellington, colaboraram de outras formas para o sucesso do plano. Entre as ações, está o fato de Joneuma e Wellington terem “elevado o status” de mais de 12 integrantes da facção, que estavam presos, como meio de facilitar as fases da fuga. Com isso, atribuíram aos escolhidos o posto de “correrias”, o que na linguagem do sistema carcerário significa que esses detentos têm liberdade de circulação na unidade prisional e atuam como intermediadores das reivindicações dos internos.