Ex-funcionário de escola particular do DF diz ter sido xingado com ofensas racistas por alunos
Caso aconteceu em setembro do ano passado. Colégio Everest diz que ‘acusação se baseia unicamente no relato do próprio denunciante’.
1 de 1 Ex-funcionário de escola do Lago Sul diz ter sofrido racismo por alunos, no DF — Foto: TV Globo/Reprodução
Ex-funcionário de escola do Lago Sul diz ter sofrido racismo por alunos, no DF — Foto: TV Globo/Reprodução
Um ex-funcionário de uma escola particular do Lago Sul, área nobre do Distrito Federal, diz ter sido vítima de racismo. Segundo ele, quatro alunos fizeram insultos racistas contra ele em setembro do ano passado.
“Alguns deferiram palavras ofensivas para mim. Macaco, urubu, fedorento. Naquele momento, saí e fui até a sala de aula para perguntar para eles e para sua professora qual o motivo. Eles estavam me xingando”, conta o porteiro que não quis se identificar.
Ele acionou a escola pra que providências fossem tomadas. No entanto, de acordo com ele, nada foi feito. “Procurei o meu encarregado, procurei o setor de câmeras, procurei depois a coordenadora e o diretor geral do colégio. Eles sempre falavam que iriam resolver e nada foi feito”, conta o ex-funcionário.
Em nota, o Colégio Everest afirmou que “não houve qualquer identificação de criança como autora das falas” e que “toda a acusação se baseia unicamente no relato do próprio denunciante” (confira íntegra da nota abaixo). O ex-funcionário conta que foi transferido de unidade e, na última semana, foi demitido. Segundo o advogado Gabriel Santana, que representa o porteiro, o caso foi registrado na Polícia Civil. Ele também vai entrar com uma ação judicial contra a escola.
OUTRO CASO NA MESMA ESCOLA
A família de uma ex-aluna da mesma escola diz que a menina também sofreu insultos racistas, em setembro de 2023, quando ela tinha 12 anos.
“Eu fui buscar a minha filha no colégio e ela estava chorando muito no carro. Ela disse que duas colegas da escola comentaram que um menino falou que ela era uma ‘barata preta’, que não seria nada na vida, porque era uma ‘neguinha'”, conta a mãe.
A mulher mandou um e-mail para escola e a resposta que recebeu foi que a direção já tinha conversado com os alunos. A direção também informou que estavam investigando o caso com todo o rigor e que marcariam uma reunião com ela, o que aconteceu. “A minha filha ficou arrasada. Eu fiquei arrasada. Abri boletim de ocorrência na polícia. Ela teve que prestar depoimento em delegacia, o que uma criança de 12 anos não precisa”, diz a mãe.
Sobre o caso, o Colégio Everest afirma que a equipe pedagógica realizou as intervenções que cabiam à equipe naquele momento, com a aplicação de medidas disciplinares previstas no regimento. A escola afirmou que foram feitas apresentações para as turmas sobre o combate ao racismo, produzidas pelos próprios estudantes, incluindo o aluno acusado.
O QUE DIZ O COLÉGIO EVEREST
“A escola citada vem a público prestar os devidos esclarecimentos, reafirmando seu compromisso com a verdade, o respeito e a transparência. No episódio mencionado, o colaborador relatou ter sido alvo de ofensas verbais por parte de alunos por meio da janela de uma sala de aula. No entanto, ele não soube identificar quem teria feito tais comentários, tendo apenas indicado a sala de onde supostamente partiram as falas. O professor da turma já havia se retirado no momento do ocorrido,
A denúncia apresentada não foi direcionada a nenhum aluno específico. Não houve qualquer identificação de criança como autora das supostas falas. Toda a acusação se baseia unicamente no relato do próprio denunciante. A única pessoa que afirmou ter conhecimento da mesma versão foi a orientadora pedagógica mencionada na matéria — que, por sua vez, é a companheira do denunciante. Diante da gravidade da alegação, a escola instaurou imediatamente uma apuração interna, com total responsabilidade. Mesmo sem qualquer indício concreto, a instituição optou por ouvir todos os alunos que estavam presentes na sala no momento indicado, os quais foram identificados pelas imagens de segurança. Nenhum dos estudantes corroborou a versão apresentada. Todos negaram, de forma unânime, qualquer fala ou atitude ofensiva ou discriminatória.
As imagens captadas pelo sistema de videomonitoramento da escola — composto por câmeras que cobrem toda a unidade, sem pontos cegos — foram analisadas com rigor. Não houve nenhuma prova de que os alunos tenham cometido qualquer ato discriminatório ou de racismo. Nenhum aluno foi individualmente acusado, nem há evidências de que qualquer ofensa tenha sido proferida.
Ainda assim, como instituição educativa, aproveitamos a situação para reforçar com os alunos — por meio de rodas de conversa e orientações pedagógicas — a importância do respeito mútuo, da empatia e da rejeição a qualquer forma de preconceito ou discriminação, independentemente da existência de comprovação dos fatos relatados. O colaborador permaneceu normalmente em sua função após o episódio, sem qualquer tipo de punição ou prejuízo profissional. No fim do ano letivo, com a aposentadoria de um porteiro em outra unidade da rede, ele foi transferido para ocupar a vaga disponível. Seu desligamento não teve qualquer relação com a denúncia. Prova disso é que ocorreu apenas recentemente e se deu exclusivamente por razões disciplinares e operacionais, após diversas tentativas de alinhamento de conduta que, infelizmente, não resultaram na mudança esperada. Além disso, é importante reforçar que os supostos envolvidos são alunos do 6º ano, em fase de formação, o que exige ainda mais cautela, responsabilidade e equilíbrio na apuração de qualquer acusação.
Reafirmamos que nossa escola é um espaço dedicado à formação integral dos alunos, orientado pela fé, pela ética e pelo respeito ao próximo. Como instituição de inspiração cristã, ensinamos que todos são filhos de Deus, iguais em dignidade e valor. Não toleramos, em hipótese alguma, qualquer forma de preconceito ou discriminação, e trabalhamos diariamente para cultivar um ambiente de respeito, diálogo e fraternidade. Permanecemos à disposição das autoridades competentes para qualquer esclarecimento adicional.”
VÍDEO: ENTENDA A DIFERENÇA ENTRE RACISMO E INJÚRIA RACIAL
Entenda a diferença entre racismo e injúria racial
LEIA TAMBÉM:
VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS: casos de lesão corporal crescem 24% em um ano no DF
VÍDEOS: ‘me encontra lá na rua’: professor e aluno trocam socos após discussão em escola pública do DF
Leia mais notícias sobre a região no G1 DF.