Ex-guarda que matou jovem negro em abordagem de perturbação de sossego no Paraná é preso por ordem judicial três anos após ser condenado
Fernando Neves foi condenado em 2021 pela morte de Matheus Evangelista, mas não chegou a ser preso porque processo não tinha transitado em julgado. O crime aconteceu em 2018, em Londrina.
Uma decisão no Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) determinou que o ex-guarda municipal, Fernando Ferreira das Neves, condenado por matar o jovem Matheus Evangelista em 2018 durante uma abordagem policial, volte para a cadeia para cumprir uma pena de 18 anos de prisão.
Matheus, que à época tinha 18 anos, foi atingido por disparo de arma de fogo em Londrina, norte do estado, na madrugada de 11 de março durante a realização de uma abordagem por perturbação de sossego.
A determinação da prisão, da última quinta-feira (3), é do desembargador Benjamim Acácio de Moura e Costa. Fernando chegou a ficar preso entre abril de 2018 e outubro de 2020, mas conseguiu liberdade provisória e passou a responder ao processo usando tornozeleira eletrônica.
O ex-guarda foi julgado em júri popular em agosto de 2021, três anos e meio depois do crime. Ele foi condenado a cumprir pena em regime fechado por homicídio qualificado e fraude processual – por ter levado a vítima baleada até o hospital dentro do veículo da GM – e por falsidade ideológica – devido ao Boletim de Ocorrência registrado por ele dizendo que o tiro partiu de outra pessoa e não de um integrante da GM.
Mesmo condenado, Fernando não foi preso. Antes da decisão, ele cumpria prisão domiciliar e estava sendo monitorado por tornozeleira eletrônica.
O mandado contra Fernando foi expedido na sexta-feira (4). No mesmo dia, ele se apresentou na Penitenciária Estadual de Londrina e foi preso.
Ao DE, o advogado Marcelo Camargo, que defende o condenado, disse que a decisão de mandá-lo para a prisão contraria “preceitos constitucionais imutáveis e insuperáveis”. Disse, também, que executar uma pena antes do trânsito em julgado pode “acarretar um dano irreparável”.
O advogado que representa a família da Matheus disse que a decisão reafirma a soberania do júri e o compromisso com a Justiça. Além disso, afirmou que o caso “é um marco no enfrentamento ao racismo estrutural, prática que atinge de forma desproporcional jovens negros e periféricos no Brasil”.