Sayed Sadaat teve uma grande reviravolta em sua vida. Antes, era ministro no governo no Afeganistão e agora ganha a vida entregando comida em domicílios na Alemanha.
A jornada é de seis horas, de segunda a sexta-feira, de meio-dia às 22h nos finais de semana. Sayed usa uniforme laranja e anda por ai carregando uma mochila com os pedidos de seus clientes.
”Não tem por que ter vergonha. É um trabalho como outro qualquer”, diz ele à AFP nas ruas de Leipzing, na Alemanha. “Se há emprego, é porque há uma determinada demanda e que alguém deve se encarregar de satisfazê-la”, explica.
Mlihares de afegãos tem deixado o país recentemente, após retomada do Talibã, em voos das forças de coalizão que ocuparam o país durante 20 anos.
Sayed Sadaat chegou meses antes do colapso do governo de Cabul. Ele foi ministro de Comunicação do país entre 2016 e 2018, e deixou o cargo pois estava cansado da ”corrupção dentro do governo” e encontrou trabalho como consultor no setor de telecomunicações. Em 2020, a segurança começou a se deteriorar no país. ”Então decidi ir embora”, diz ele.
Apesar de ter nacionalidade afegã e britânica, optou por se instalar na Alemanha no final de 2020, pouco antes do Brexit. Em sua opinião, a economia alemã oferece mais oportunidades em seu setor. Sem saber alemão, no entanto, é difícil encontrar trabalho.
Agora ele se dedica a quatro horas por dia ao estudo do idioma, antes de sair com a bicicleta para fazer entregas pela empresa Lieferando. Sadaat ganha 15 euros por hora (R$ 92), um salário modesto, mesmo que seja bem acima do salário mínimo na Alemanha (R$ 56). Ele afirma que o dinheiro é capaz de atender às suas necessidades.
O posto de entregador “é por um período limitado, até que eu encontre outro emprego”, diz ele.
Como cidadão britânico, Sadaat não pode solicitar o ”status” de refugiado, nem os respectivos benefícios. O ex-ministro, que não quer falar sobre a família no Afeganistão, diz que não se arrepende de sua decisão.