A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) está acusando o cineasta José Padilha de distorcer a realidade e criar ‘fake news’ na série “O Mecanismo”, produção da Netflix que estreou na sexta-feira (23). Rousseff publicou uma nota em seu site defendendo o que chama de “propagação de mentiras de toda sorte” da trama, cujos escândalos da Operação Lava Jato são a principal fonte de inspiração.
Em entrevista cedida na última segunda-feira (26) para a Agência Reuters, a ex-presidente afirma ainda que o serviço de streaming não tem conhecimento sobre o impacto político da série. “O cineasta talvez saiba, mas a direção do Netflix não está sabendo onde se meteu. E acho muito grave para ela. Não vejo porque uma estrutura como aquela dar margem para isso”, disse.
Entre as distorções veiculadas na produção, Dilma diz que a série atribui ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a frase sobre “estancar a sangria”, dita , na realidade, pelo senador Romero Jucá, hoje presidente do MDB, numa conversa gravada pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. O emedebista sugere um pacto para conter as investigações da Lava Jato.
Rousseff nega ainda que fosse próxima do ex-diretor da Petrobras e delator da Lava Jato, Paulo Roberto da Costa, conforme retrata a ficção da série. Ela afirma também que o doleiro Alberto Youssef jamais participou de sua campanha de reeleição ou esteve na sede do comitê, como, segundo ela, mostra a série no primeiro capítulo.
O diretor José Padilha rebateu as críticas da ex-presidente lembrando que a série é uma obra de ficção. “‘O Mecanismo’ é uma obra-comentário. Na abertura de cada capítulo está escrito que os fatos estão dramatizados, se a Dilma soubesse ler, não estaríamos com esse problema”, diz Padilha. Para ele, o retrato feito na série representa um problema sistêmico de corrupção, que não seria exclusivo do PT, mas de outros partidos e setores (…)”
Nas redes sociais, posts com a hashtag #cancelanetflix promovidos por grupos de esquerda pedem para que os telespectadores entrem no site da empresa e classifiquem negativamente a série com o intuito de que outros percam o interesse pelo produto. O crítico de cinema Pablo Vilaça diz que decidiu cancelar a Netflix pelo choque diante do que foi feito em “O Mecanismo”. “Esta foi apenas a gota”, declara. “Basicamente, minhas ressalvas à Netflix envolvem três áreas: Cinema, ética corporativa e política”. Segundo ele, a série de José Padilha é “uma tremenda irresponsabilidade em tempos como os nossos” e traz “graves mentiras (como atribuir a Lula a famosa conversa entre Romero Jucá e Sérgio Machado, sobre ‘estancar a sangria’)”.
O ator brasileiro José de Abreu também cancelou sua assinatura no serviço de streaming, segundo o Jornal O Globo. “Ela é mentirosa, preconceituosa e mostra o ódio que José Padilha tem do Brasil”, confessa.
Até o momento da publicação dessa matéria, a Netflix ainda não havia se pronunciado sobre o assunto.
Baseada no livro “Lava Jato: o Juíz Sergio Moro e os bastidores da Operação que abalou o Brasil” e nos bastidores das investigações, a obra acompanha Marco Ruffo (Selton Mello), um delegado aposentado da Polícia Federal obcecado pelo caso que está investigando. Quando menos espera, ele e sua aprendiz, Verena Cardoni (Carol Abras), já estão mergulhados em uma das maiores investigações de desvio e lavagem de dinheiro da história do Brasil. A proporção é tamanha que o rumo das investigações muda completamente a vida de todos os envolvidos. (Via Estadão e Folha de São Paulo)