Ex-zagueiro do Corinthians vira assessor de investimentos e sócio de empresa que gere DE $ 70 bilhões
Campeão da Copa do Brasil de 2009 no Timão, William Machado aposentou um ano depois e apostou em carreira no mercado financeiro: “Tudo que ganhei no futebol está intocado”
A questão financeira é um dos pontos mais críticos da vida de um ex-jogador de futebol. Os poucos que conseguem acumular fortuna ao longo da carreira sofrem para conseguir manter o padrão de vida ou até mesmo administrar o dinheiro para evitar perder tudo o que foi conquistado.
William Machado é um exemplo de boa administração e gestão financeira depois da aposentadoria do futebol. Atualmente com 48 anos, o ex-zagueiro com passagens por Cruzeiro, Grêmio e Corinthians atua como assessor de investimentos, sendo sócio de uma das maiores empresas do seguimento, controlando a gestão de mais de $ 70 bilhões de 50 mil clientes do Brasil e do mundo.
A escolha pelo mercado financeiro começou ainda durante a carreira, quando cursava paralelamente a faculdade de Ciências Contábeis. Depois da aposentadoria e experiências como gerente de futebol do Santos e comentarista de televisão, William passou a apostar na carreira de assessor financeiro.
– Quando comecei a ganhar um pouco mais de dinheiro, me vi ali no momento de como vou investir. E eu não tinha muito conhecimento, não tinha quem me auxiliasse, ou pelo menos quem eu confiasse que queria realmente me ajudar, porque o meu recurso estava no mercado financeiro, estava em bancos, em grandes instituições, mas já tinha um conhecimento, até por ter estudado ciências contábeis, de como funcionava mais ou menos o modelo de banco. Queria o melhor para potencializar o meu patrimônio. Eu já sabia o que não era bom, mas não sabia o que era bom.
– E o que fiz foi ser bastante conservador e estudar durante a minha carreira, principalmente no Corinthians, tive a oportunidade de conhecer muita gente do mercado financeiro em São Paulo, e isso me abriu os olhos para várias coisas. E ali, também acompanhando a carreira de vários atletas, ídolos no passado, que eu via ter um sucesso, e daqui a pouco matérias e reportagens sobre ter perdido tudo, sobre estar quebrado, aquilo foi me dando uma sensação.
– Primeiro, eu tenho a dificuldade que eles tiveram no passado. Segundo, talvez tenha um pouco mais de conhecimento, quero aprender mais. E o terceiro, força motriz, gostaria de fazer alguma coisa no pós-carreira, que tivesse atrelado também com o esporte, mas que tivesse também um propósito. Eu era criança e queria ser jogador de futebol, conseguir alcançar esse sonho.
William Machado, ex-zagueiro e assessor de investimentos, sócio de empresa que gere $ 70 bilhões
A empresa em que William é sócio, a Fami Capital, tornou-se uma das maiores do segmento no Brasil, empregando mais de 600 funcionários e ajudando de ex-jogadores, famosos a qualquer pessoa que busque fazer investimentos. É a partir da experiência no futebol que o ex-jogador tenta ajudar os colegas de profissão a administrar o dinheiro.
– Esses $ 70 bilhões são recursos, patrimônio financeiro dos nossos clientes que estão hoje sob a nossa gestão, administração. Um multi-family office em Miami, que hoje faz a gestão mais ou menos de uns $ 10 bilhões lá fora, basicamente de brasileiros. Então, se o cliente tem um patrimônio que a gente entenda que faça sentido ele ter uma parte lá fora ou se ele já tem, a gente consegue fazer essa gestão.
– A gente tem aqui no Brasil também distribuídos as diversas classes de ativos, pode estar num fundo multimercado, pode estar em CDBs, quer dizer, vai estar onde aquele perfil de cliente direciona. O cliente é mais conservador, vai estar mais em algumas classes. Ele é mais arrojado, com certeza ele vai ter ações, ações A, B, C. Então, está distribuído, digamos assim, esses $ 70 bilhões nas diversas classes de ativos no Brasil e fora do Brasil – explica William.
A empresa em que William é um dos sócios possui 13 unidades no Brasil, além de uma filial em Miami, nos Estados Unidos. Entre os clientes famosos está o ator Murilo Benício.
OS GOLPES E AS CRIPTOMOEDAS
William Machado usa o exemplo recente do caso de criptomoedas envolvendo os jogadores Willian Bigode, Gustavo Scarpa e Mayke para identificar facilmente os golpes que estão disfarçados de ofertas vantajosas.
Segundo o ex-zagueiro e agora consultor financeiro, o investimento com retorno acima do praticado e oferecido pelo mercado dificilmente é confiável.
– Se você tem uma rentabilidade alta fora do que o mercado está ofertando e garantida, isso aí por si só, se tiver esses dois pontos, o pessoal pode até me falar assim, é arriscado, mas eu garanto, eu já saio fora. Por quê? Porque a garantia, não tem nada no mundo que você invista que você possa dar 100% de garantia. Então, ainda mais esse tipo de investimento.
– A gente fala de mercado financeiro, a gente tem muita noção, quem trabalha, que isso é impossível de se oferecer, na verdade, é proibido. Nós que somos fiscalizados e seguimos todo o padrão ético, mas também respeitando a lei, a gente não pode jamais, eu sou autuado e corro risco de perder a minha licença, se garantir algum tipo de investimento para os meus clientes. O risco é o quê? Qual que é a capacidade do banco te entregar isso? A gente vai discutir um outro ponto técnico, mas a exceção disso, tudo pode variar – explica William.
DINHEIRO DO FUTEBOL GUARDADO
William considera o futebol como um investimento de alto risco. Por isso, o consultor financeiro recomenda investir em produtos mais confiáveis e com perfil conservador. A partir desse modelo, ele revela que não mexeu no dinheiro acumulado durante a carreira como jogador de futebol e que atualmente mantém um padrão de vida com os rendimentos que conseguiu.
– Tudo o que ganhei no futebol está intocado, não precisei colocar a mão nesse patrimônio, porque no meu pós-carreira, graças a Deus, ganho o suficiente para manter um padrão de vida bom. Eu não tenho carro importado, eu não tenho três, quatro, cinco casas, eu não faço a todo momento viagem para o exterior, passeio, faço trabalho. Eu também preciso me controlar, porque eu tenho também vontade de fazer as coisas. Todo mundo tem, só que, pelo meu conhecimento, eu consigo hoje o que? É só um desejo, não é uma necessidade.
– Então, as minhas necessidades e da minha família estão supridas. E meu patrimônio está crescendo no longo do tempo. Já são lá 15 anos que, graças a Deus, quando eu olho quanto eu tinha em 2010, quanto eu tenho hoje, está maior, está batendo a inflação, que é o propósito principal – conta William.
DICAS DE INVESTIMENTOS
Veja abaixo as dicas de William Machado para iniciar e fazer um bom investimento no mercado financeiro:
Investimento seguro
– Investir no investimento. Esse dinheiro vai estar em alguma instituição financeira, se quiser mandar para cá, ótimo, a gente faz isso. Vamos colocar num LFT (Tesouro Direto), por exemplo, que é um produto do governo, é extremamente seguro, extremamente líquido, ou seja, se eu precisar resgatar, resgato a qualquer momento e que rende a taxa de juros do país.
Estudar o mercado
– E tire aí um ano para estudar. Por quê? Porque, na verdade, se eu quiser fazer qualquer tipo de investimento, de posse de um dinheiro, quanto menos eu sei, mais propenso eu estou a fazer um investimento errado.
Cuidado com amizades
– Tome muito cuidado com os amigos antigos e novos, quando descobrem que você tem uma bolada na mão. Não falando mal dos amigos, nem da família, muito pelo contrário, mas o que acontece é que todo mundo tem uma boa ideia para empreender, o brasileiro tem isso na veia. Só que normalmente também o brasileiro não é preparado.
– O que acontece normalmente com quem tem dinheiro, falando de atleta no caso, é que o atleta vai entrar como um investidor financeiro, e o amigo, primo, pai, mãe, irmão, enfim, vai entrar com a ideia. E vai tentar fazer a gestão daquele empreendimento. Uma pizzaria, um posto de gasolina, uma pousada, qualquer coisa. E isso é muito arriscado, porque todo investimento pode dar errado.
Manter o padrão de vida
– Tente não mudar tanto o seu padrão de vida no primeiro momento, e se conseguir segurar essa ansiedade do primeiro ano, começar a estudar, você vai achar investimentos interessantes, conservadores, sobretudo, porque você já tem uma bolada. Não precisa correr mais riscos, tem só que cuidar para perpetuar esse patrimônio ao longo do tempo.