A doação de sangue é conhecida por salvar vidas de pessoas hospitalizadas ou em tratamento, mas a boa ação também pode revelar problemas de saúde daquele que pratica o ato solidário. No caso de Bruna (nome fictício para preservar a identidade) foi justamente a urgência médica de uma amiga, precisando de transfusão, que a revelou com hepatite C. Ela faz parte dos 1.417 goianos diagnosticados em 2021, número 113% maior do que aquele registrado no ano anterior pela Secretaria Estadual de Saúde (SES-GO)
A maior parte dos cinco tipos da doença, que vai do A ao E, pode ser prevenida com vacinas e testes rápidos disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O diagnóstico precoce faz muita diferença já que normalmente o corpo não apresenta sinais da presença dos vírus.
“Eu levei um susto quando a enfermeira do banco de sangue informou que eu não poderia doar por estar com hepatite C. Eu nunca havia cogitado estar com uma infecção desse tipo. Ela me orientou a procurar um especialista e foi o que fiz. Passei por um tratamento medicamentoso e agora estou curada”, afirma a auxiliar administrativo.
As estatísticas da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) apontam cerca de 300 mil pessoas com a doença, mas que não sabem da condição e por isso é um questão de saúde pública. Ao todo, seriam mais de 1,5 milhão de brasileiros com o diagnóstico. Mais comum em adultos, a hepatite C é transmitida por materiais contaminados por sangue e pode causar cirrose e câncer de fígado.
Bruna diz que não havia sido vacinada quando bebê, por isso foi infectada. Segundo ela, a contaminação pode ter sido na manicure através de alicates de unhas ou outros utensílios de trabalho usados durante sangramento provocado pela retirada de cutículas. A orientação dos especialistas nessas situações é que o profissional utilize materiais descartáveis.
Segundo o infectologista Boaventura Braz, as hepatites virais são decorrentes de um processo inflamatório das células do fígado. Ele explica que a A geralmente surge na infância e tem transmissão fecal-oral através de água ou alimentos contaminados, a B ocorre em adultos sexualmente ativos, a C normalmente de transmissão por via sanguínea, a D pode estar relacionada a relações sexuais sem preservativo e a E costuma ser por água contaminada.
“A progressão silenciosa da doença ocorre em mais de 50% dos casos de tipo A podendo ocorrer apenas náuseas ou diarreia. Apenas 30% expressam um quadro evidente, como febre, diarreia e olhos amarelos. A A pode ser evitada com duas doses de vacina, que está disponível pelo Programa Nacional de Imunização a partir de um ano de idade da criança. A B também é prevenível, sendo a primeira das três doses necessárias aplicada no primeiro mês de vida do bebê. Já a C não tem imunizante”, frisa o médico.
Vacina e testagem
Um dos grandes obstáculos para as autoridades é conseguir detectar a doença, que é silenciosa. O estímulo à testagem é o foco neste Julho Amarelo, considerado o mês de prevenção à enfermidade. Em Goiânia, 46 unidades públicas de saúde oferecem o serviço (acesse a lista clicando aqui). O mesmo exame rápido detecta HIV, Hepatites B e C, e sífilis.
Por outro lado, a queda na cobertura vacinal de crianças para diversos tipos de vacina, incluindo as de hepatites, preocupa os governos nas diversas esferas. Neste ano, os dados parciais sugerem que a aplicação da tríplice viral contra sarampo, rubéola e caxumba em crianças goianas de um ano de idade não alcançará todas as que se encaixam no público-alvo. Somente 22,03% delas estão imunizadas. Em 2019, apenas 88,39% foram protegidas contra o vírus, no ano seguinte o índice baixou para 75,36% e em 2021, a taxa subiu discretamente e chegou a 76,92%.