Última atualização 10/07/2022 | 11:55
Desde que as aulas presenciais retornaram, após a paralisação em decorrência da pandemia da Covid-19, alunos vêm relatando dificuldades em se concentrar. Uma pesquisa de Conselho Nacional da Juventude (Conjuve) alerta que 30% dos estudantes brasileiros pensam em deixar a escola. Como driblar essas problemáticas?
Um professor e seus alunos
“Os alunos voltaram com capacidade de concentração e foco muito reduzida. É tão visível, você passa a olhar para eles e muitos estão com o olhar distante”. Assim descreve Edmilson Chagas, professor de inglês com vasta experiência na área. Segundo ele, os estudantes também estão mais “desleixados em relação às tarefas”.
Em sua visão, isso pode ter relação com a permissividade dos pais. Devido ao impacto negativo do período pandêmico, muitos responsáveis “pegaram mais leve” com os filhos, o que pode ter atenuado a pressão da época, mas acabou culminando em uma mudança de comportamento.
Para a Profa. Dra Jordana de Castro Balduino, que leciona Psicologia da Educação na UFG, esse fenômeno está totalmente atrelado com a falta de socialização que o período pandêmico provocou.
“Para crianças e adolescentes, que estão em uma fase importante no processo de desenvolvimento, o impacto psicossocial da pandemia foi enorme”, explica a psicóloga.
Quando ocorreu a volta das aulas presenciais, o impacto foi imediato. “Os alunos estão muito mais sensíveis, melindrados. […] Não estão mais aceitando cobranças, acham muito difícil lidar com isso. Se os pais, que são os primeiros a cobrar, não estavam cobrando tanto, na sala de aula isso acaba causando problemas”, descreve Edmilson.
Mudança de comportamento
A mudança de comportamento dos alunos, no entanto, já vinha acontecendo com o ensino remoto. “Durante as aulas online, tínhamos problema de atenção, equipamento. Alunos não queriam ligar a câmera, estavam ouvindo música durante as aulas”, relata o professor de inglês.
Com a retomada do ensino presencial, os obstáculos se intensificaram. Mesmo assim, Jordana de Castro defende a importância desse sistema, justamente por conta do desenvolvimento dos estudantes.
“Precisamos defender a escola presencial em que o estudante possa se confrontar com seus semelhantes e suas diferenças, estender seus laços familiares na figura do professor e naquilo que ele traz como cultura e conhecimento”, afirma.
Contudo, essas mudanças de comportamento não afetaram apenas os alunos, mas também os professores. “Nós perdemos a prática no relacionamento com os alunos. Você acaba perdendo um pouco o controle da sua autonomia como líder de um grupo”, conta Edmilson. Além disso, ele admite que está com menos paciência do que o habitual.
De qualquer forma, Jordana acredita que é preciso continuar insistindo na adaptação quanto a esse processo.
“Havia uma expectativa por esse retorno de uma forma idealizada, como se, com a pós pandemia, fôssemos viver um final feliz, quando na verdade outras questões se intensificaram. […] Desenvolver um projeto de acolhimento nessa retomada é uma tarefa para toda escola, com escuta, replanejamento de planos de ensino, atividades e projetos envolvendo professores, famílias e estudantes”, finaliza a psicóloga.