Família brasileira repatriada das Filipinas após suspeita de tráfico humano

Família brasileira é repatriada das Filipinas após cearense ser recrutado para
trabalhar em plataforma suspeita de ligação com tráfico humano

Morando nas Filipinas há pouco mais de um ano, o brasileiro trabalhava em uma
plataforma de jogos on-line, que se tornou ilegal pelo governo do país. A
família do rapaz também estava nas Filipinas. Todos se encontravam em situação
de vulnerabilidade econômica.

1 de 5 Família aguardando o embarque ainda nas Filipinas, acompanhada de um
funcionário da embaixada brasileira. — Foto: Divulgação/MPCE

Família aguardando o embarque ainda nas Filipinas, acompanhada de um funcionário
da embaixada brasileira. — Foto: Divulgação/MPCE

Uma família cearense foi repatriada das Filipinas no início de janeiro deste ano
após a plataforma de jogos on-line em que um dos familiares trabalhava ser
fechada por suspeita de ligação com atividades criminosas como tráfico humano,
trabalho análogo à escravidão, golpes e até com o crime organizado chinês.

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O homem, que não teve identificação repassada pelo Ministério Público do Ceará,
foi recrutado para trabalhar nas Filipinas em 2023. A família do rapaz foi ao
encontro dele no país asiático seis meses depois. Todos estavam em situação de
vulnerabilidade após o brasileiro perder o emprego. A repatriação aconteceu em
uma atuação conjunta do Ministério Público do Ceará (MPCE) e órgãos estaduais e
federais.

RISCO DE SER PRESO POR TRABALHO EM SERVIÇO IRREGULAR

2 de 5 Foto tirada escondida pelo brasileiro no local de trabalho. De acordo com
o MP, o uso do celular era proibido durante o expediente. — Foto:
Divulgação/MPCE

Foto tirada escondida pelo brasileiro no local de trabalho. De acordo com o MP,
o uso do celular era proibido durante o expediente. — Foto: Divulgação/MPCE

O cearense trabalhou pouco mais de um ano em uma plataforma de jogos on-line,
que se tornou ilegal pelo governo do país do sudeste asiático após ser associada
a atividades criminosas – conforme informações do MP.

Fascinado pela cultura asiática há cerca de 15 anos, ele conta que foi
pesquisando pelas Filipinas na internet que conheceu um canal que mostrava o dia
a dia de brasileiros que moravam em Manila, capital do país.

Curioso para saber mais detalhes, ele começou a trocar mensagens com a dona do
canal, que também atuava recrutando brasileiros para trabalhar no exterior. Ela,
então, lhe convidou para trabalhar no país.

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Após conversar com a esposa, ele decidiu aceitar a oferta. O homem foi primeiro
e, após se estabilizar, levou a família.

Em 20 de junho de 2023, ele desembarcou no Aeroporto Internacional Ninoy Aquino
(MNL), em Parañaque, onde foi recebido pela recrutadora. Dois dias depois, já
estava na empresa, aprendendo a como utilizar os sistemas.

Com uma jornada de 12h por dia e uma folga na semana, o cearense trabalhava no
serviço de atendimento ao cliente e recebia 100 mil pesos filipinos por mês
(aproximadamente R$ 10 mil).

> “A média de atendimento diário, dependendo da plataforma, ficava em 500 até
> 700 clientes por dia. E detalhe: por que que eu sei, por que que eu lembro o
> número que nós atendíamos? Porque eram todos protocolados. Eu tinha que
> atender o cliente, tinha que protocolar cada atendimento no excel, tinha que
> especificar qual era o problema do cliente, tinha que anotar o número do IP do
> cliente, então era bem cansativo. Muitas vezes a gente até ‘esquecia’ de
> anotar alguns pra poder conseguir atender o próximo cliente”.

Em 1º de fevereiro de 2024, a esposa, os filhos e a sogra chegaram às Filipinas,
o que fez os gastos subirem ainda mais. “Minhas contas fixas mensais ficavam em
torno de R$ 7 mil”, lembrou.

FECHAMENTO DE TODOS OS CASSINOS ON-LINE

3 de 5 Cearense com colegas de trabalho na entrada da empresa. — Foto:
Divulgação/MPCE

Cearense com colegas de trabalho na entrada da empresa. — Foto: Divulgação/MPCE

Em 21 de julho de 2024, o presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos Júnior,
ordenou o fechamento de todos os cassinos on-line que funcionavam no país. A
medida foi tomada diante da ligação das plataformas com o tráfico humano,
trabalho análogo à escravidão, golpes e até com o crime organizado chinês.

O decreto presidencial determinou que os pogos (como são conhecidas as
plataformas de jogos de azar on-line nas Filipinas) encerrassem suas atividades
no país até 15 de novembro de 2024 e que todos os estrangeiros que trabalhassem
na atividade deixassem o território filipino até 31 de dezembro do mesmo ano.

“Muitas empresas saíram no último dia e muitos funcionários também, mas uma
grande parte deles não conseguiu. Eu fui um dos que não conseguiu”, explicou o
cearense.

O brasileiro destaca que ele estava em uma situação ainda pior, já que havia
sido demitido um pouco antes do decreto, em junho de 2024, após uma reportagem
veiculada em uma emissora nacional denunciar que brasileiros estavam trabalhando
em condições análogas à escravidão em cassinos on-line no Laos, também no
Sudeste Asiático. “Veio uma ordem de cima para demitir todos os brasileiros”,
acrescenta.

REPATRIAÇÃO COM AJUDA DE AMIGO

4 de 5 Chegada da família a Fortaleza. — Foto: Divulgação/MPCE

Chegada da família a Fortaleza. — Foto: Divulgação/MPCE

Para tentar sair do país, o brasileiro publicou em outubro de 2024 um vídeo
pedindo ajuda financeira. A esperança era de que o pedido de ajuda chegasse em
alguma autoridade ou influencer que pudesse pagar as passagens dele e da
família.

O vídeo chegou a um amigo antigo do cearense, o pastor guineense Luís Mantampa.
Ele intermediou o contato entre a família e o promotor de Justiça do MP do
Ceará, Germano Rodrigues.

Em novembro de 2024, o promotor do MP realizou uma audiência virtual com a
família. “Conversei com o casal, com a idosa e com as duas crianças. Pude ver um
pouquinho do ambiente doméstico e atestei a realidade dura que eles estavam
passando (…) A idosa também necessitava de alguns medicamentos, já que possui
algumas comorbidades. Por isso, resolvi atuar, com o viés centralizado nos
direitos da pessoa idosa”, disse Germano Rodrigues.

O MP comunicou o caso ao Ministério das Relações Exteriores (MRE) e à Secretaria
de Direitos Humanos do Ceará (Sedih) no dia 11 de novembro, reforçando a
necessidade de repatriação da família. “O Governo Federal tem as suas políticas
de repatriação. O que fizemos foi requisitá-las”, comentou o promotor.

COMO OCORREU O PROCESSO DE REPATRIAÇÃO

5 de 5 Cearense com a esposa e o filho mais novo na casa de familiares, em
Fortaleza. — Foto: Divulgação/MPCE

Cearense com a esposa e o filho mais novo na casa de familiares, em Fortaleza. —
Foto: Divulgação/MPCE

Em 2 de dezembro de 2024, o Itamaraty respondeu ao pedido do MP do Ceará dando
ciência que passaria a acompanhar o caso. No mesmo mês, a Secretaria de Direitos
Humanos do Estado (Sedih) informou ao MP que prestaria o suporte necessário para
que a família fosse repatriada em segurança.

A família começou a retornar para o Brasil no dia 4 de janeiro de 2025. No dia
5, eles chegaram a São Paulo e embarcaram em outro voo até Fortaleza.

Na capital, eles foram recebidos por familiares e pelo promotor de Justiça
Germano Rodrigues. Atualmente, o cearense mora com a família em uma casa cedida
por uma irmã e seguem sendo acompanhados pelo MP e pela Sedih.

Os cearenses estão entre as 699 pessoas atendidas em 2024 pelo Programa Estadual
de Atenção ao Migrante, Refugiado e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. De
acordo com o MP, a polícia criada em 2019 busca acolher esse público que chega
ao estado e também cearenses que se encontram em situação de vulnerabilidade no
exterior.

> A ideia é atendermos essas pessoas da forma mais humanizada possível. Nós,
> enquanto Estado do Ceará, temos essa responsabilidade e nos preocupamos em
> garantir esse retorno seguro”, disse Jamina Teles, supervisora do programa.

Promotor fala sobre repatriação de família cearense das Filipinas.

Promotor fala sobre repatriação de família cearense das Filipinas.

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