Família contesta versão da PM sobre morte de trabalhador em Costa Barros; Advogado aponta ilegalidade dos policiais

Família de trabalhador morto em Costa Barros diz que jovem foi tratado como traficante; PMs disseram que ele portava um fuzil

Daniel Vitório do Nascimento Moreira, que trabalhava como terceirizado da concessionária Águas do Rio, morreu após ser baleado durante um confronto entre a Polícia Militar e bandidos, no Complexo da Pedreira. Advogado da família aponta ilegalidade dos policiais.

Familiares do funcionário terceirizado da concessionária Águas do Rio Daniel Vitório do Nascimento Moreira, de 21 anos, morto durante ação da PM no Complexo da Pedreira, em Costa Barros, Zona Norte, no sábado (11), contestam a versão apresentada pelos PMs que participaram da operação que resultou na morte do jovem.

Segundo Anderson Oliveira, avô do jovem morto, o neto foi tratado como traficante. Já a mãe de Daniel disse que encontrou o filho no hospital sob custódia (preso) dos policiais.

> “Quando ele estava no hospital, o que a gente queria era que a verdade viesse à tona. Ele tava sendo tratado como bandido, como traficante”, disse o avô.

O corpo de Daniel foi enterrado na tarde da última segunda-feira (13), no Cemitério de Inhaúma, na Zona Norte do Rio.

Três policiais que participaram da ação que terminou com a morte de Daniel estiveram na 39ª DP (Pavuna) para registrar a ocorrência no Complexo da Pedreira no domingo.

Os depoimentos prestados pelos policiais no dia da ocorrência apontaram Daniel como o condutor de uma das duas motos que atacou os PMs. Ainda segundo o relato dado na delegacia, Daniel foi baleado e encontrado no chão com um fuzil calibre 762.

A equipe contou que estava patrulhando a Estrada Botafogo, junto com um veículo blindado, quando perceberam duas motos, cada uma com dois homens portando armas de fogo. Os três PMs disseram que ao abordarem as motos, foram alvos de disparos de fuzil.

Os policiais contaram que revidaram, disparando contra os homens nas duas motos. Nesse momento, os PMs também contaram que o blindado também foi alvo dos tiros.

Em seguida, cada um dos PMs afirmou em seu depoimento que “observou dois elementos caídos, um de cada motocicleta e que, junto de um dos elementos, que era o condutor de uma das motos encontrava-se um fuzil de calibre 762, em sua posse, que ora se sabe chamar Daniel Vitorio do Nascimento Moreira”.

Os depoimentos foram dados pelos PMs: Marcos Jose Oliveira de Amorim (tenente); Anderson de Souza Figueira (subtenente); e Marcos Vinícius de Oliveira e Silva (sargento).

A versão é diferente daquela que foi divulgada pela Secretaria de Estado de Polícia Militar no domingo (12). Nessa versão, os PMs não foram atacados por duas motos e quatro bandidos.

Segundo o material divulgado, os PMs realizavam um patrulhamento pela Estrada de Botafogo quando avistaram dois homens armados em uma moto.

> “Ao perceberem a aproximação dos policiais, os indivíduos atiraram contra a equipe e houve confronto. Um agente foi ferido por estilhaços. Um indivíduo também foi ferido e socorrido ao Hospital Estadual Carlos Chagas”, dizia a nota da PM.

A nota divulgada ainda cita que “outro homem ferido deu entrada no Hospital Municipal Souza Aguiar, onde ficou sob custódia”.

Após ser baleado durante a ação policial, Daniel foi internado no Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro do Rio, onde não resistiu aos ferimentos.

“Ele era um menino muito querido. brincalhão por todos. Não tenho que falar. Arrancaram um pedaço do meu coração, sem deixar cicatriz”, comentou Kelly Cristina, tia de Daniel.

> “Eu vou lutar por Justiça pelo meu filho. Nada vai trazer a vida dele de volta. Mas a mancha de bandido, ele não vai ficar. Não vai porque ele não era bandido”, afirmou a mãe do jovem.

A Delegacia de Homicídios da Capital investiga o caso.

‘VERSÃO FALACIOSA’, DIZ ADVOGADO

O advogado José Dimas Mazza Marcondes, representante da família de Daniel, afirmou que a versão apresentada pelos PMs é “completamente falaciosa”.

Dimas questionou também o motivo dos policiais não estarem com as câmeras corporais em suas fardas.

“Daniel, que era trabalhador e íntegro, morreu como se fosse bandido e preso sob custódia do Estado: isso é inadmissível. O Estado precisa antes de mais nada admitir esse erro é repará-lo (…) Daniel é vítima da incompetência do Estado no que tange a segurança pública”, disse o advogado.

> “Não se pode mais tratar esse tema como sendo “dano colateral”, é preciso que o Estado respeite nosso bem jurídico mais valioso: a vida.

O QUE DIZ A POLÍCIA MILITAR

Em nota divulgada na segunda-feira (13), a Polícia Militar informou que, no sábado, uma equipe fazia o patrulhamento na Estrada de Botafogo quando foi atacada por dois criminosos armados em uma moto.

A corporação disse ainda que os agentes revidaram. A Polícia Militar instaurou um procedimento para apurar o ocorrido.

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