Família denuncia negligência em hospital do DF após menino morrer com bactéria Streptococcus Pyogenes – Caso Miguel Fernandes

Família denuncia negligência após menino morrer com bactéria em hospital do DF

Miguel, 13 anos, morreu com bactéria Streptococcus Pyogenes 26 dias após dar entrada no Hospital Brasília. Família denuncia negligência

Os pais de Miguel Fernandes Brandão, 13 anos, denunciaram à Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) suposta negligência médica no Hospital Brasília após o menino morrer com o corpo necrosado, 26 dias depois de dar entrada na unidade hospitalar. A mãe, Genilva Fernandes, 40 disse à coluna Grande Angular que o diagnóstico de infecção pela bactéria Streptococcus Pyogenes e o tratamento demoraram.

As costas, os glúteos, as pernas e as partes íntimas do menino ficaram necrosadas e tiveram de passar por raspagem para retirada do tecido morto. Fotos enviadas à reportagem pela família mostram essas graves feridas no corpo de Miguel. A coluna optou por não divulgar todas as imagens.

Imagens Fortes mostram Miguel Fernandes na UTI em 19 de outubro de 2024, Miguel Fernandes, na UTI, em 07 de novembro, dois dias antes de morrer, Miguel Fernandes Brandão, 13 anos, Miguel Fernandes Brandão com seus pais, Luiz e Genilva Brandão, Miguel amava futebol. Segundo Genilva, era o melhor do time.

Em 14 de outubro de 2024, Miguel foi levado ao hospital com sintomas gripais, como febre, dificuldade para respirar, irritação na pele, dor no corpo e moleza. O menino acabou indo para casa após resultado negativo para o exame de Influenza, mas retornou à unidade no dia seguinte porque os sintomas persistiram, com episódios de vômito.

Inicialmente, os responsáveis pelo atendimento no Hospital Brasília dispensaram uso de antibiótico e relataram “ansiedade” da mãe. O quadro piorou rapidamente e Miguel foi internado na UTI em 18 de outubro. Nos dias seguintes, o corpo do menino ficou completamente roxo e cheio de feridas. Ele morreu na madrugada de 9 de novembro, 26 dias após dar entrada no hospital.

“ANSIEDADE MATERNA”

Em ao menos dois documentos, a equipe médica do Hospital Brasília citou “ansiedade” da mãe com o quadro do filho, antes de ele ser internado na UTI com choque séptico.

Um relatório do dia 16 de outubro, dois dias após Miguel procurar o hospital pela primeira vez, diz que o diagnóstico do menino era de “quadro viral”. O documento cita que o paciente tinha acabado de ser internado, mas foi avaliado novamente devido à “ansiedade materna”. A médica que fez o atendimento informou, naquele momento, que Miguel não precisava de antibiótico.

Genilva contou à coluna ter insistido para que a equipe médica aplicasse antibiótico no filho ou fizesse um raio-x de tórax para verificar a situação da criança, mas os médicos preferiram aguardar a evolução do quadro, tratando-o com soro, Novalgina e Tylenol.

Em 17 de outubro, mesmo com o menino apresentando tosse, diarreia e dor no peito, a médica relatou novamente que a mãe estava “ansiosa” e disse que Genilva fez “praticamente as mesmas perguntas de ontem, com as mesmas queixas, preocupada com a febre”. “Explico novamente o quadro e a conduta, que é medida de suporte”, detalhou a profissional no documento.

No dia seguinte, em 18 de outubro, a equipe médica aplicou uma dose de Tylenol, mas como Miguel estava com dor no estômago, a mãe impediu o procedimento. Genilva afirmou à reportagem que disse à equipe médica que não era para aplicar mais nada no filho até que explicasse o que estava ocorrendo, porque desconfiou de que a conduta não era “normal”. Segundo Genilva, a médica fez uma segunda tentativa com Novalgina e o filho começou a transpirar excessivamente.

Horas depois, ainda em 18 de outubro e quatro dias após dar entrada na unidade hospitalar, Miguel ficou roxo e entrou em choque séptico, segundo a mãe. Uma foto feita por Genilva mostra que as manchas começaram a surgir pelo corpo do menino, o que piorou de forma severa nos dias seguintes.

Miguel foi levado à UTI no dia 18, onde foi constatado que os rins estavam muito debilitados e que o quadro era “gravíssimo”. Na unidade, o menino sofreu várias paradas cardiorrespiratórias, mas resistiu. Ele chegou a ser intubado e a fazer hemodiálise na UTI.

Em 19 de outubro, cinco dias depois da internação no Hospital Brasília, os médicos confirmaram a contaminação por Influenza, infecção por Streptococcus – uma bactéria grave que compromete órgãos e tecidos –, falência de órgãos e necrose.

Entenda o caso

Miguel Fernandes, de 13 anos, começou a apresentar febre, coriza e espirros, inicialmente tratados como rinite alérgica pela mãe, com uso de Novalgina. Após o agravamento dos sintomas, Miguel foi ao Hospital Brasília no dia 14 de outubro, onde exames descartaram influenza e Covid-19. No dia seguinte, em 15 de outubro, Miguel apresentou novos sintomas, como vômitos, diarreia, unhas roxas e fraqueza nas pernas. Retornou ao hospital, onde exames inconclusivos levantaram suspeitas de miocardite e dengue. Miguel foi transferido para um quarto adulto devido à falta de vagas na pediatria. O quadro clínico persistia grave, com febre, exantema e fraqueza, sem diagnóstico definido. A mãe, Genilva, denunciou o atendimento inadequado e a demora na realização de exames na Ouvidoria. Miguel desenvolveu choque séptico com falência de órgãos. Foi transferido para a UTI após deterioração significativa de sua saúde, com a necessidade de intubação e hemodiálise. Na UTI, os médicos identificaram a infecção por Streptococcus pyogenes e Influenza A, enfermidades responsáveis pelo agravamento do quadro. Miguel passou várias vezes por raspagem dos tecidos necrosados, mas ainda apresentava múltiplas complicações, como falência renal e cerebral. Uma traqueostomia agravou ainda mais sua condição e ele passou por mais um choque séptico. Miguel morreu na madrugada do dia 09 de novembro devido ao choque séptico por Streptococcus pyogenes, Influenza A, insuficiência renal aguda e gangrena periférica.

A família reconhece os esforços intensivos da equipe da UTI, mas diz que já era “tarde demais” e que a negligência médica ocorreu no início do atendimento. “Meu filho foi matado no hospital. Na UTI, fizeram o possível, exceto a médica que perfurou a bexiga dele”, afirma Genilva.

O caso é investigado pela 10ª Delegacia de Polícia (Lago Sul).

A BACTÉRIA

Infecções invasivas pela bactéria Streptococcus pyogene muitas vezes se apresentam com sintomas mais gerais, como febre, dor no corpo e mal-estar. A progressão para manifestações graves, como choque séptico, pode ocorrer em questão de horas ou poucos dias, de acordo com o infectologista Leandro Machado.

A bactéria libera toxinas e enzimas que desencadeiam uma resposta inflamatória exacerbada, causando danos significativos aos tecidos e sistemas do corpo, como no caso de Miguel. Para Machado, “é crucial que os profissionais de saúde mantenham um alto índice de suspeita, especialmente diante de sintomas que não respondem às abordagens iniciais”.

Nesses quadros, de acordo com o especialista, devem ser feitos exames precocemente para verificar bactérias no sangue, PCR, estudos de imagem, ultrassonografia e raio-x de tórax. Segundo Genilva, Miguel não fez raio-x de tórax antes de ir para a UTI.

Genilva foi infectada pela mesma bactéria que o filho, mas tomou medicação indicada para o quadro nos primeiros dias, também no Hospital Brasília. Mesmo assim, ela sentiu febre persistente, tosse, além de dificuldade para respirar e irritação na pele.

A mãe do menino ficou internada por pneumonia enquanto acompanhava o filho na UTI e foi tratada com Amoxicilina.

OUTRO LADO

Em nota enviada ao Metrópoles, a assessoria do Hospital Brasília disse que “em respeito à privacidade e confidencialidade, não divulgamos informações sobre o histórico de saúde dos nossos pacientes, conforme determinam as normas éticas e legais de sigilo médico”.

Já leu todas as notas e reportagens da coluna hoje? Acesse a coluna do Metrópoles.

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