Fé, cultura e tradição: a preservação da consciência negra em Divinópolis

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Consciência negra no cotidiano: como fé, cultura e tradição seguem vivas em Divinópolis

Moradores mostram como preservam raízes afro-brasileiras por meio do Candomblé, da produção cultural, do reinado e de ações comunitárias. A cidade de Divinópolis tem quase metade da população que se declara negra, segundo o Censo.

No decorrer do Dia da Consciência Negra, o Diário do Estado se depara com a manifestação da consciência negra na fé, na arte, na pesquisa e nas tradições que atravessam gerações em Divinópolis. Ela aparece naqueles que mantêm viva a cultura da periferia, preservam ritos ancestrais, transmitem saberes comunitários e reforçam identidades negras no dia a dia, afastados dos holofotes. O G1 ouviu moradores que carregam essa herança e trabalham para sustentá-la na cidade.

De acordo com o Censo 2022, Divinópolis possui 231.091 moradores, dos quais 105.993 se declaram negros, somando pessoas pretas e pardas conforme a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse grupo representa quase metade da população da cidade e está ativo em coletivos culturais, terreiros, congadas, grupos de pesquisa, projetos sociais e manifestações que contribuem para a memória afro-brasileira do município.

Fany Santos, uma figura influente em projetos que fortalecem a cultura da periferia e a expressão da população negra na cidade, destaca a importância da produção cultural, da ocupação de espaços e da criação de narrativas próprias como elementos essenciais para a consciência negra. Ela, nascida em Santo Antônio do Amparo e com raízes em Oliveira, encontrou em Divinópolis um caminho para fortalecer a identidade da periferia por meio da arte, organizando eventos e projetos culturais que dão visibilidade à comunidade.

Na Casa Coletiva, onde Fany atua como produtora, ela acompanha batalhas de slam e destaca o poder transformador da palavra. Além disso, seu trabalho artesanal, que envolve a criação de velas, incensos e produtos de autocuidado, reflete o cuidado e a transformação de elementos naturais em experiências significativas. Como integrante de um coletivo de mulheres pretas, Fany utiliza a fotografia para registrar vivências e valorizar a estética, as histórias e a força da população negra, promovendo uma trajetória em conjunto.

Célio Lopes, por sua vez, preserva tradições do Candomblé de Angola e atua no Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial, destacando a fé e o cotidiano como pilares da consciência negra em sua comunidade. Definindo o bairro onde nasceu e cresceu como um berço de resistência cultural, ele ressalta a importância da preservação das raízes negras por meio dos ritos, festas e convivência comunitária. Célio enfatiza a Festa de Cosme e Damião como um exemplo de construção coletiva que promove a união e alegria, além de mencionar os desafios diários enfrentados em meio ao preconceito e racismo religioso.

Jessica Moreira da Silva, presidente da Congadiv e estudante de Serviço Social na UEMG, dedica mais de duas décadas ao Reinado, tradição que a acompanha desde a infância. Sua consciência negra se expressa na dança, na pesquisa, na fé e no compromisso com a comunidade, destacando o reinado como uma forma de manter viva a herança dos ancestrais. Além de atuar nas festas e irmandades, Jessica coordena a pesquisa “Memória do Rosário Cantado e Contado”, que registra histórias e práticas da cultura afro-brasileira na cidade, reconhecendo e valorizando as raízes da comunidade. Para ela, a consciência negra também está ligada ao pertencimento e ao afeto coletivo, promovendo a união das irmandades congadeiras, reinadeiras e grupos correlatos para fortalecer as raízes culturais e garantir que continuem a florescer.

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