Com 11 mil habitantes, cidade no RS teme perder 5 mil empregos com fechamento de usina: ‘É ficar desempregado e sair da região’
Desde 1º de janeiro, quando os contratos de geração e fornecimento de energia terminaram, as atividades na Usina Termelétrica Candiota III estão paralisadas. Medida provisória pode estender prazo de funcionamento.
Moradores de uma cidade de 11 mil habitantes no RS temem o fechamento de uma usina termelétrica que emprega cerca de 5 mil trabalhadores, o que representa mais de metade da força de trabalho do município.
Desde 1º de janeiro, quando os contratos de geração e fornecimento de energia da empresa que administra a Usina Termelétrica Candiota III com o governo federal terminaram, as atividades na usina estão paralisadas. Uma reunião entre a prefeitura da cidade, representantes da usina e o vice-presidente Geraldo Alckmin está marcada para esta sexta (17).
“Acredito na sensibilidade das autoridades federais, amanhã (sexta) teremos audiência com o vice-presidente Alckmin, que é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. (Contamos com a) nova medida provisória pra prorrogar o contrato e não ter essas demissões, esses grandes prejuízos”, diz o prefeito de Candiota, Luiz Carlos Folador (MDB). O DE entrou em contato com o governo federal, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Os trabalhadores vêm se manifestando em frente à usina nos últimos dias.
“A paralisação desta usina é o fim de um ciclo. É ficar desempregado e deixar, no meu caso, meu e da minha família, ter que sair da região. É começar tudo do zero com 50 anos de idade. Não sou só eu, são todos os amigos. É deixar tudo pra trás”, diz o técnico mecânico Alex Madruga Castro.
A usina que está com as atividades suspensas é uma das duas que há na cidade. A outra, por contrato, tem funcionamento garantido até 2043. Em 10 de janeiro, o projeto de lei sobre geração de energia eólica em alto-mar, sancionado pelo presidente Lula, vetou um dispositivo sobre contratos de usinas termelétricas, que seriam prorrogados até 2050.
O veto será analisado pelo Congresso Nacional, que pode aprová-lo ou derrubá-lo. De acordo com a Prefeitura de Candiota, uma medida provisória deve ser proposta pelo governo federal para que os contratos sejam mantidos até 2043, o que garantiria o funcionamento da usina.
Em 2023, a termelétrica foi vendida pela Eletrobras para a empresa Âmbar, que administra o complexo. A companhia afirma que, caso o projeto seja sancionado, a paralisação será breve, e as atividades serão retomadas em pouco tempo.
Candiota fica na Região Sul do RS e abriga a maior reserva de carvão mineral do Brasil, o que torna a cidade um polo estratégico para a geração de energia. A produção começou na década de 1960 e, desde então, é um dos pilares da economia da cidade – cerca de 70% da economia do município é baseada na cadeia do carvão e da energia elétrica.
Toda a energia produzida em Candiota vai para o Sistema Interligado Nacional, que pode enviá-la para qualquer lugar do Brasil. Mas a energia produzida a partir do carvão não é sustentável, já que gera poluentes como dióxido de carbono e dióxido de enxofre. É considerada a fonte de energia mais poluente que existe. Apesar disso, é um tipo de energia que pode ser usada de forma contínua.
A usina funciona da seguinte maneira: o carvão mineral é extraído e queimado. O calor gerado esquenta a água das caldeiras, e esse processo gera vapor em alta pressão, que faz as turbinas rodarem. Esse movimento é convertido em energia elétrica.
Em uma cidade dependente da mineração, o tema da transição energética e da busca por fontes renováveis surge como um desafio ainda mais impactante.
“O mundo inteiro fala em transição energética. Por que que só nós não temos direito a transição? Por que só a região do pampa, que já é uma das mais pobres do Rio Grande do Sul, não tem direito a transição? Nós não defendemos como uso eternamente, mas tem um prazo, pra nós o prazo melhor é até 2043”, diz o coordenador da comissão de transição energética do Pampa, Sérgio Görgen.