Bombou no DE: o que rola em festa liberal com sexo e exibicionismo sem tabus no
interior de São Paulo
Reportagem sobre festa conhecida por reunir héteros, gays, lésbicas, bissexuais,
pansexuais e pessoas cis e trans no mesmo ambiente viralizou em novembro de
2025.
Festa liberal: como é o rolê no interior de SP com sexo e exibicionismo sem
tabus
Histórias curiosas, personagens divertidos e casos virais. Neste mês de
dezembro, o DE reconta reportagens que foram sucesso entre os nossos leitores ao
longo de 2025. Hoje é dia de relembrar a história da festa liberal que viralizou
com sexo e exibicionismo sem tabus.
Esta reportagem foi originalmente publicada em novembro de 2025.
Depois de mais de um ano de conversas, o DE foi autorizado a acompanhar a
“Clandestina do Padre”, em Campinas
(SP), festa que reúne
participantes de diferentes regiões de São Paulo
e também de outros
estados.
O número de carros estacionados no entorno e o som alto deixam claro que o local
abriga uma festa. Dentro da chácara, o ambiente decorado com o tema de Halloween
é preenchido por conversas, risadas, bebidas e… sexo. Sim, sexo e
exibicionismo sem tabus entre pessoas com diferentes corpos, cores, idades e
gêneros.
Divulgada em estabelecimentos do meio liberal, como casas de swing no interior e
na capital, e principalmente em um grupo de mensagens onde cerca de mil pessoas
interagem diariamente, a festa é conhecida por reunir héteros, gays, lésbicas,
bissexuais, pansexuais e pessoas cis e trans no mesmo ambiente. A única
restrição é quanto à entrada de menores de 18 anos.
> “Eu não quero saber de qual partido político você é. Não me interessa. Não me
> interessa que religião você é, não me interessa o que você curte. Se é feio,
> preto ou branco”, afirma Wagner Galdini, de 52 anos, organizador que tem o
> apelido de “padre”, que dá nome à festa.
VAI COMEÇAR A FESTA!
O local da festa só é divulgado no dia para os participantes. O relógio marca
22h de sábado, e o clima ainda não “pegou fogo”.
Uma equipe na portaria confere a lista dos participantes, que gastaram cerca de
R$ 150 de ingresso. Além da entrada, que dá direito a preservativo e brindes,
como copo e sacola com a logo da festa, o visitante deve pagar ou levar comida e
bebida.
Com três edições por ano, boa parte dos participantes já se conhece, mas sempre
há novatos atraídos pela oferta do sexo liberal.
“Eu vim ver como é que é, se vai ter fervo mesmo. Quero todo mundo transando”,
pedia Júlio (nome fictício), de 46 anos, que saiu de Caraguatatuba (SP) para
conhecer o “rolê quente”.
A presença de um público acima dos 40 anos, aliás, é marcante. Há pais, mães e
avós, casados ou solteiros. Pessoas que vivem na festa uma realidade, e outra
bem diferente no dia a dia. Como é o caso de Luciana e Roberto, de Sorocaba, em que a família e
os filhos não sabem do estilo de vida liberal que vivem.
> “A gente ainda fica muito limitado em questão da própria família, né? Você tem
> que blindar tudo, a família não sabe de jeito nenhum. Quando a gente participa
> de uma festa como essa, a gente vive a nossa verdade. E fora desse meio, a
> gente representa um papel. Porque a gente tem que viver em sociedade, tem que
> viver em família, e aí a gente não pode revelar essa verdade”, explica Luciana
> (nome fictício), de Sorocaba.
É perceptível que não há no ambiente preocupação com preferências sexuais,
tamanhos de corpos ou de roupas – e até mesmo pela falta delas.
> “Eu sou uma mulher trans. Em alguns lugares, não sou bem-quista; em outros,
> não sou bem-vinda. E aqui não existe bandeira, só existe: ‘chega, vem,
> aproveita e se divirta'”, destaca Anne Trans, que veio de São Paulo curtir a
> festa com o marido.
“Ai, eu quero ir na festa liberal, mas como vai ser uma festa liberal? Chegar lá
vai estar todo mundo pelado? Todo mundo transando? Não necessariamente, mas é o
momento de você se sentir livre”, defende Anne Trans.
A festa segue o lema de que tudo é permitido, mas nada obrigatório. Não há
restrição quanto a práticas sexuais em qualquer ambiente da chácara, desde que
consensual.
Mas para quem é exibicionista, como é o caso de Luluzinha, de 45 anos, tudo fica
melhor sob os olhares de uma plateia.
Após sair de Jaú (SP) e percorrer 210 quilômetros para “ferver” em Campinas, ela encarnou uma “zumbi sexy” e desfilou com maquiagem, roupas rasgadas e partes íntimas à mostra até se despir completamente ao se relacionar com diferentes parceiros na pista de dança.
> “Tento vir sempre nua, é a primeira vez que eu vim produzidérrima. Mas chego,
> cumprimento todo mundo, bebo, tiro umas fotos e aí eu falo: agora eu vou
> transar”, conta.
A cena de Luluzinha esquenta o clima para quem quiser ver – e participar, claro. A exigência, ela diz, é o uso de camisinha. Mas nem todo sexo na festa é
exposto.
Entre os ambientes da chácara, há também o chamado “dark room”, cômodo
totalmente escuro, onde o pudor fica do lado de fora.
Não dá pra ver quase nada, mas não é preciso muita imaginação para saber o que
está rolando. Os gemidos e o calor do espaço denunciam. Em um momento de
empolgação, um grupo quase derruba a lona usada na cobertura do ambiente.
Ao lado da piscina, entre conversas, danças e goles, em vários momentos
observam-se pessoas “recompondo” o visual após uma incursão ao “dark room”.
De saia vermelha e um top da mesma cor, uma mulher que preferiu não gravar
entrevista entrou e saiu algumas vezes no dark room, mas também recebeu sexo
oral de um parceiro sem se importar com a plateia.
Ela afirmou que não poderia ser identificada por conta do trabalho e família,
mas enfatizou que se sentia mais tranquila ali do que em baladas convencionais,
onde o assédio, afirma, é muito mais frequente.
Na festa liberal, ela destaca que as carícias, beijos e o sexo ocorrem
naturalmente, sem exigência, e o veto é respeitado. “O não é não”.
Com o avançar das horas pela madrugada, a intensidade e o erotismo escalam.
A festa estimula a interação dos participantes com brincadeiras apimentadas na
pista de dança, com homens e mulheres se revezando em cenas de sexo oral para
serem julgados – algumas vezes às cegas – por suas performances.
Em uma delas, o chamado pelo microfone pede por homens voluntários, que rapidamente preenchem a fila de cadeiras. Da mesma forma, há mulheres cis e
trans à espera da ação, sob os olhares de um público ávido por sexo.
Como a festa acontece sempre na noite de sábado e dura até a tarde do domingo, é
comum que os participantes levem barracas – usadas tanto para momentos de
descanso quanto para o sexo.
Por isso, a busca da organização é sempre por chácaras que comportem, também,
essa estrutura.
“A gente comprou a barraca depois da primeira vez na festa. Vimos que o pessoal
trazia, e era um caminho sem volta (risos). A gente investiu, e agora trazemos
ela para curtir até o último instante”, avisa Luciana.
Ao lado do companheiro, Mel, de 46 anos, moradora de Sumaré (SP), exibia uma
barraca tamanho família, com direito a colchão de casal e luzes de LED.
“Conheci a festa por um amigo, gostei e fiquei. Tem muita coisa legal, mas o
melhor é conhecer o pessoal, porque tem um grupo que a gente só fala pela
internet, e a festa serve desse momento de interação. Claro, todo mundo sabe o
que rola aqui, mas é mais que isso”, afirma.
Dono de uma casa de swing em Campinas, Alessandro Donizete, de 49 anos, destacou
que festas em chácara não se assemelham aos eventos em boates do gênero. “São
dois mundos diferentes.”
Adepto do estilo de vida liberal, defende que encontrou nele uma forma de melhorar a confiança do casal.
> “Quando você busca o estilo de vida no meio liberal, ele é engraçado, né? Ele
> unifica a estrutura familiar, né? Pô, mas como assim? Acaba aquele lance de
> ciumeira, aquele negócio chato, e você acaba pegando uma confiança, ela em
> mim, e o marido na esposa. Acaba aquele ciuminho besta”, garante.
O “padre” que dá nome à festa garante que a referência não tem qualquer
provocação religiosa, e trata-se apenas do apelido que carrega há anos, desde os
tempos em que morou na Itália.
“Eu não gostava do apelido, mas aí quando você não gosta, esquece. Aí o negócio
pega”, brinca Galdini.




