Fila de cirurgias eletivas do SUS no RS tem quase 220 mil à espera

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Fila de cirurgias do SUS no RS tem quase 220 mil à espera; veja dados

Estado soma 620 mil pedidos de consultas, redução de 50 mil em relação ao último levantamento. Prefeituras afirmam que os repasses federais e estaduais não cobrem os custos reais da saúde.

Pacientes aguardam cirurgias eletivas via SUS no RS

[Imagem ilustrativa de paciente deitado]

Pela primeira vez em um ano, a fila da Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul para consultas com especialistas apresentou queda. Dados obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) mostram que o Rio Grande do Sul soma, atualmente, 620 mil pedidos de consulta pelo SUS, uma redução de 50 mil em relação ao último levantamento, divulgado em novembro.

A melhora, no entanto, não se reflete na etapa seguinte do atendimento. Quem consegue a consulta pode enfrentar outra espera, que pode durar anos: a fila de cirurgias eletivas reúne quase 220 mil pedidos de procedimentos em todo o estado, segundo números inéditos também revelados via LAI.

Moradora de Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana de Porto Alegre, a dona de casa Valéria Flores da Silva passa os dias com dor na coluna. Ela fica semanas sem subir ao andar superior da casa, onde está a sala, por não conseguir subir a escada. Por isso, dorme no quarto de hóspedes, que fica no andar térreo.

> “Faz mais de mês que eu não vou lá pra cima. É muito difícil”, desabafa Valéria.

Dona de casa Valéria Flores da Silva

Ela precisa da ajuda do marido para tomar banho e fazer o básico de casa, como cozinhar.

Valéria aguarda consulta com ortopedista desde 2020. Além da dor física, ela relata que o impacto emocional é profundo.

> “É muito triste. Você não tem ideia. Eu choro todo dia. Eu tenho um quarto ali que eu apelidei de ‘quarto do choro’, porque ou eu tô rezando ou eu tô chorando”, lamenta.

Se precisar de cirurgia após o diagnóstico com especialista, Valéria terá de enfrentar outra fila: dos 219 mil pedidos de cirurgia via SUS cadastrados na secretaria estadual da Saúde, a especialidade com maior demanda é justamente ortopedia, com 45 mil solicitações, seguida por cirurgia do aparelho digestivo (33 mil) e cirurgias da visão (31 mil).

O construtor Valmir de Freitas Inácio, morador de Sapucaia do Sul, também é um desses pacientes. Ele está na fila desde 2022 e precisa de uma prótese para o fêmur.

“Meu estado de saúde agravou bastante. A cada dia que passa eu fico pior, com dificuldade para caminhar. Não consigo mais fazer os meus afazeres e hoje dependo dos meus filhos e da minha mulher”, declara.

Construtor Valmir de Freitas Inácio

Durante os três anos de espera, Valmir passou a sentir dores também no joelho e na coluna.

“O médico disse que, do jeito que tá a situação da perna, da coluna e do joelho, ele não me dá mais um ano caminhando”, afirma.

Outro caso envolve um aposentado de 69 anos, que prefere não se identificar. Ele está internado há 80 dias no Hospital Getúlio Vargas, também em Sapucaia do Sul, aguardando transferência para operar a perna.

“Conformado eu não digo, mas o psicológico está bom. Tem que aceitar, não tem o que fazer”, comenta.

Diabético, ele já perdeu uma perna e corre o risco de novas amputações. O alerta é do diretor-geral do hospital, Clóvis Schmitz.

“A amputação de membros inferiores pode causar isquemia. Ele pode perder dedos dos pés e, se a situação se agravar e não forem feitos os procedimentos necessários, pode chegar até a uma amputação total da perna”, declara Schimitz.

Prefeituras afirmam que os repasses federais e estaduais não cobrem os custos reais da saúde. O prefeito de Sapucaia do Sul, Valmir Rodrigues, diz que o município investe em saúde um percentual superior aos 15% previstos na Constituição.

“O dinheiro que vem do governo federal e do governo estadual é insuficiente. Quem banca essa diferença é o município de Sapucaia do Sul”, afirma.

Um levantamento da Associação das Federações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) mostra que todas as cidades ultrapassaram o percentual mínimo constitucional na soma dos investimentos dos últimos cinco anos. A entidade defende, entre outras medidas, a atualização da tabela do SUS.

As cinco cidades que mais investem em saúde (percentual da receita), segundo a Famurs:

1. Esteio – 33,62%
2. Panambi – 32,96%
3. Cidreira – 32,70%
4. Estância Velha – 31,74%
5. São Leopoldo – 31,08%

“Temos que cuidar da atenção básica e também abrir espaço para ajudar nas especialidades, no transporte e em toda essa estrutura que a saúde pública hoje está exigindo”, diz a presidente da Famurs, Adriane Perin.

Em agosto, após reportagem da RBS TV revelar o descumprimento da norma constitucional que prevê investimento mínimo de 12% das receitas estaduais em saúde, o governo do estado firmou acordo com o Ministério Público do Rio Grande do Sul. Pelo acordo, esse percentual deverá ser atingido gradualmente até 2030.

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