França cogita usar arsenal nuclear para proteger Europa de ameaças da Rússia

França: oferta de arsenal nuclear aos países vizinhos (Foto: Pixabay)

Diante da possibilidade de uma aliança entre Donald Trump e Vladimir Putin em relação à Guerra da Ucrânia e das recentes declarações do ex-presidente americano sugerindo que poderia abandonar seus aliados europeus, a França decidiu levantar a possibilidade de colocar seu arsenal nuclear a serviço da segurança do continente.

O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou no sábado, 1º, que está disposto a discutir o uso das armas nucleares do país para proteger outras nações europeias caso a segurança regional seja ameaçada pela Rússia. “Os interesses vitais da França sempre tiveram uma dimensão europeia em nossa doutrina nuclear”, disse Macron em entrevista à emissora portuguesa RTP.

A declaração foi dada às vésperas de um encontro de líderes europeus com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, no Reino Unido. Zelenski, que esteve recentemente em Washington, foi alvo de críticas públicas de Trump, que o recebeu na sexta-feira, 28, em uma reunião marcada por tensão e desentendimentos sobre o futuro da guerra.

Trump tem repetido o discurso russo sobre as causas do conflito e já sinalizou que aceitaria um acordo de paz nos termos de Putin, o que incluiria a perda de território ucraniano e a ausência de garantias de segurança por parte dos Estados Unidos.

Nesse contexto, Macron busca reforçar a posição da França, que possui o quarto maior arsenal nuclear do mundo, atrás apenas de Estados Unidos, Rússia e China. Em 2023, o presidente francês chegou a responder diretamente a ameaças de Putin sobre uma possível intervenção militar francesa na Ucrânia, realizando um teste com míssil de cruzeiro nuclear como forma de aviso.

Nos últimos dias, a imprensa britânica já havia especulado sobre a possibilidade de Paris oferecer caças Rafale equipados com mísseis nucleares para serem posicionados em território alemão. O Reino Unido, sob comando do primeiro-ministro Keir Starmer, teria demonstrado apoio à ideia.

Atualmente, a defesa nuclear da Europa no âmbito da Otan é baseada principalmente no arsenal americano, com cerca de cem bombas nucleares armazenadas em bases da Alemanha, Bélgica, Holanda, Itália e Turquia. A base britânica de Lakenheath também está sendo preparada para voltar a receber essas armas após duas décadas.

A França, embora membro da Otan, mantém sua força nuclear sob comando independente. O país dispõe de quatro submarinos com capacidade de lançar mísseis estratégicos e de uma frota de caças Rafale adaptados para disparar mísseis de cruzeiro com ogivas nucleares. Mesmo assim, há dúvidas sobre a viabilidade prática de transferir esses aviões para uma base na Alemanha, mais próxima da Rússia.

Durante a Guerra Fria, a França chegou a posicionar aeronaves com armas nucleares em território alemão, mas o rompimento com a estrutura militar da Otan nos anos 1960 encerrou esse arranjo. Atualmente, o Reino Unido, terceira potência nuclear da aliança, concentra seu arsenal em submarinos da classe Vanguard, cujos mísseis Trident operam de forma integrada à estratégia americana.

Com isso, a proposta de Macron — que ecoa uma ideia já apresentada em 2007 e rejeitada pela Alemanha na época — soa mais como uma sinalização política diante da imprevisibilidade de Trump do que como um plano concreto de dissuasão.

Internamente, a oferta também gerou críticas. A líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, afirmou que o arsenal nuclear do país deve permanecer sob controle exclusivo da França e não pode ser compartilhado ou cedido a outros países.

O tema nuclear tem voltado com frequência ao debate europeu desde o início da guerra na Ucrânia, especialmente após a Rússia posicionar armas nucleares táticas em Belarus em 2023. A Polônia, por exemplo, busca ser incluída no programa americano de compartilhamento nuclear como forma de reforçar sua defesa.

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