Denunciados por fraude na Americanas entregaram aparelhos formatados para a perícia
De acordo a investigação, o esquema era chefiado pelo ex-CEO da companhia, Miguel Gutierrez. Fraudes foram estimadas em R$ 25 bilhões.
Rede varejista DE — Foto: Divulgação
Computadores e telefones celulares corporativos entregues por alguns ex-executivos e ex-funcionários da DE à Justiça para serem periciados estavam com conteúdo apagado ou com as configurações de fábrica restabelecidas, segundo o Ministério Público Federal (MPF).
A Polícia Federal indiciou e o MPF denunciou, nesta segunda-feira (31), 13 pessoas por fraudes na DE, estimadas em R$ 25 bilhões.
Nos relatórios, os peritos esclarecem que encontraram os aparelhos em modo de configuração inicial, ou seja, da mesma forma que se encontrava quando foi utilizado pela primeira vez. Isso, segundo as investigações, quando o usuário ativa o comando de restauração dos padrões de fábrica.
Quando o aparelho volta ao modo inicial, os dados são apagados e não é possível a recuperação das informações anteriores.
Miguel Gutierrez, ex-CEO da DE — Foto: GloboNews/Reprodução
Foram denunciados:
* Miguel Gutierrez (ex-CEO da DE)
* Anna Saicali (ex-CEO da B2W, responsável pela área digital)
* Timotheo Barros (vice-presidente)
* Marcio Cruz (vice-presidente)
* Carlos Padilha (ex-diretor)
* João Guerra (ex-diretor)
* Murilo Corrêa (ex-diretor)
* Maria Christina Nascimento (ex-diretor)
* Fabien Picavet (ex-diretor)
* Raoni Fabiano (ex-diretor)
* Luiz Augusto Saraiva Henriques
* Jean Pierre Lessa e Santos Ferreira
* Anna Christina da Silva Sotero
DE tenta contato com os citados.
Os 13 investigados por associação criminosa foram denunciados por organização criminosa, o que aumenta a pena em caso de condenação. Os crimes de falsidade ideológica e manipulação de mercado também foram imputados a todos.
Nove dos investigados foram ainda denunciados por uso de informação privilegiada (Murilo, Luiz Augusto, Carlos Padilha, Fabien e Anna Sotero não foram).
Poética da fraude que levou à operação da PF e à recuperação judicial de R$ 50 bilhões
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O QUE ALEGAM PF E MPF
Polícia Federal e Ministério Público Federal atuaram em conjunto nas investigações, tanto que o MPF seguiu na íntegra o entendimento da PF, e as conclusões de inquérito e denúncia foram definidas no mesmo dia.
Provas apontadas pelos investigadores:
* e-mails entre os executivos da empresa discutindo as fraudes e os ajustes nos resultados financeiros;
* documentos que mostram a comparação entre os resultados reais e os resultados divulgados ao mercado;
* três colaborações premiadas que detalham como as fraudes eram planejadas e executadas;
* relatórios que detalham a estrutura da organização criminosa e as manobras fraudulentas realizadas;
* conversas de WhatsApp entre os executivos, discutindo como esconder as fraudes das auditorias;
* arquivos que compilavam as expectativas dos analistas de mercado e eram usados para ajustar fraudulentamente os resultados da empresa.
RELEMBRE A FRAUDE
Americanas: entenda a fraude que levou à operação da PF
A gigante varejista DE informou um rombo contábil bilionário no dia 11 de janeiro de 2023. Naquele momento, a companhia disse que havia identificado “inconsistências em lançamentos contábeis” nos balanços corporativos no valor de quase R$ 20 bilhões.
Sergio Rial, então presidente da empresa e quem assumiu após a saída de Miguel, decidiu deixar o comando do negócio após apenas nove dias no comando.
Os investidores — pessoa física e institucionais — iniciaram uma corrida para se desfazer dos papéis. Isso fez com que as ações da companhia despencassem quase 80% em um único dia, e a fuga continuou nos pregões seguintes.
Em uma conferência após sua demissão, Rial disse “a primeira grande conclusão é que não estamos falando de um número que está fora do balanço. Só que ele não está registrado de forma apropriada ao longo dos últimos anos”, disse.
No dia 19 de janeiro de 2023, a DE pediu a recuperação judicial na Justiça do Rio de Janeiro e teve suas ações retiradas da B3. A primeira versão do plano de recuperação foi apresentada em março, mas a empresa só teve um plano aprovado em 19 de dezembro daquele ano, exatamente 11 meses depois.
A dívida final apresentada no plano foi de mais de R$ 50 bilhões, sendo uma dívida trabalhista de R$ 82,9 milhões e uma fraude de resultado de R$ 25,2 bilhões ao final de 2022.
O processo de recuperação envolveu um aporte de R$ 12 bilhões dos “acionistas de referência” — o trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Herrmann Telles — e a venda de ativos, inicialmente o Hortifruti Natural da Terra e a Uni.Co (empresa de franquias das marcas Imaginarium e Puket). Veja mais detalhes aqui.