Lobistas, doleiros e políticos: quem é quem no esquema de fraude em licitações de materiais escolares no interior de SP
Ex-Nora de Lula, Carla Ariane Trindade, e Kalil Bittar, ex-sócio do filho do presidente, estão entre os investigados. Cinco pessoas foram presas suspeitas de atuar em esquema que superfaturava em até 35 vezes o valor de produtos vendidos às prefeituras.
O processo judicial que resultou na operação Coffee Break, da Polícia Federal, nesta terça-feira (12), indica que o esquema de fraudes em licitações de material escolar em prefeituras do estado de São Paulo envolvia, além de autoridades municipais, empresários, doleiros e lobistas. Cinco pessoas foram presas, entre elas, o vice-prefeito de Hortolândia, Cafu César (PSB).
Segundo a PF, alguns dos investigados alegavam ter influência no governo federal, dentre eles, Carla Ariane Trindade, ex-nora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e Kalil Bittar, ex-sócio de outro filho do petista.
Entenda a seguir como funcionava o esquema e o papel de cada suspeito segundo a investigação da PF e da Controladoria-Geral da União (CGU).
Operaçao Coffee Break
➡️ 50 mandados de busca e apreensão
➡️ 6 mandados de prisão preventiva
➡️ 5 pessoas presas
➡️ 24 pessoas são alvos dos mandados
➡️ 4 prefeituras ligadas à maior parte dos desvios: Sumaré, Hortolândia, Limeira e Morungaba
➡️ O nome coffee break se dá porque os suspeitos chamavam a propina de “café”
O Esquema
Segundo a investigação, a organização criminosa utilizava lobistas para intermediar contatos entre a Life Tecnologia Educacional, empresa usada no esquema, e o poder público. Eles fraudavam licitações, vendendo a prefeituras materiais didáticos e kits de robótica com valores superfaturados em até 35 vezes o preço real. O dinheiro arrecadado era lavado por meio da ação de doleiros que geravam o montante em espécie para repassar propinas aos envolvidos nas etapas anteriores. A Life registrou uma entrada de R$ 128 milhões, por meio de mais de 305 transferências, sendo quase todas provenientes de prefeituras.
Quem é quem no esquema
André Gonçalves Mariano: é apontado como o líder da organização criminosa, proprietário da empresa Life Tecnologia Educacional, responsável por gerar lucro ilícito por meio de licitações superfaturadas, lavar o dinheiro e coordenar o pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos e intermediadores políticos. Segundo a PF, ele recebeu mais de R$ 16 milhões diretamente em sua conta pessoal.
Carlos Augusto Cesar, o “Cafu”: é vice-prefeito e secretário de Governo de Hortolândia, investigado por atuar ativamente no direcionamento de licitações do município e liberação de pagamentos para a Life em troca de vantagens indevidas. A investigação aponta indícios de que ele teria recebido (por meio de terceiros) pelo menos R$ 2,4 milhões. Ele foi preso preventivamente nesta quarta.
Fernando Gomes de Moraes: é o secretário municipal de Educação de Hortolândia (SP), acusado de assinar atas de registro de preços, direcionar licitações e agilizar pagamentos da Life em troca de propina. Foi preso preventivamente na operação desta quarta.
José Aparecido Ribeiro Marin: é ex-secretário municipal de Educação de Sumaré, apontado como o principal parceiro de André Mariano na cidade, responsável por direcionar licitações e liberar pagamentos em troca de propina. Ele foi alvo de mandado de prisão, não cumprido.
Carla Ariane Trindade: foi casada com Marcos Cláudio Lula da Silva, filho adotado por Lula. É mãe de neto do atual presidente. Carla foi alvo de busca e apreensão nesta quarta. Segundo a Polícia Federal, ela integra o núcleo político da organização criminosa, atuando como lobista e intermediária para a empresa Life Tecnologia Educacional, defendendo seus interesses junto a órgãos públicos federais — especialmente o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) — e municipais. É citada na investigação com as alcunhas de “Nora” e “amiga de Paulínia”.
Kalil Bittar: é ex-sócio de filho de Lula (Fábio Luís Lula da Silva) e apontado como intermediador político e “lobista”, sendo considerado pela PF como figura de “grande importância e participação no sucesso empresarial da Life”. Ele teria recebido pagamentos diretos e “mesada” de André Mariano, além de um carro de luxo da marca BMW, doado também por Mariano. Ele foi alvo de busca e apreensão em Brasília nesta quarta.
Os envolvidos
Mario Botion, que era prefeito na época das irregularidades, informou que, durante sua gestão, a licitação junto à empresa Life Educacional foi regular e transparente e que está à disposição para esclarecimento. Já a atual administração da prefeitura disse que não renovou o contrato com a empresa, nem fez qualquer pagamento à Life neste ano.
A empresa Life Educacional, principal alvo da investigação, apenas informou que não vai se pronunciar. A defesa de Abdalla Ahmad Fares disse que ainda não teve acesso aos autos e que a investigação vai provar a inocência do empresário.
O DE solicitou posicionamento a todos os envolvidos e até a publicação desta reportagem não teve retorno dos demais.
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