Fundo de Cotia: Presidente do São Paulo revela planos e investimento de até R$ 350 milhões nas categorias de base do clube

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Vai vender a base? Vai virar SAF? Presidente do São Paulo diz o que pensa sobre futuro de Cotia

Em entrevista ao ge, Julio Casares explica criação de fundo de investimento que promete captar até R$ 350 milhões em troca de ações das categorias de formação do clube

Julio Casares, presidente do São Paulo, explica a operação do Fundo de Cotia

O São Paulo está vendendo as suas categorias de base? Segundo o presidente Julio Casares, que concedeu entrevista ao ge nesta semana em sua sala no Morumbis, a resposta é “não”.

Em parceria com a Galapagos, a mesma gestora que cuida do seu fundo de investimentos em direitos creditórios (FIDC), a diretoria do São Paulo propõe a criação de um Fundo de Investimento em Participações (FIP) que promete captar ao menos R$ 250 milhões para as categorias de base, podendo chegar a R$ 350 milhões caso o clube atinja metas previamente estabelecidas.

Estes valores, caso o projeto seja aprovado pelo Conselho Deliberativo do clube, serão referentes à compra de 30% das “ações” do fundo e serão pagos pela Galapagos. O Tricolor ficará com 70%. As ações poderão ser compradas por pessoas comuns.

Julio Casares, presidente do São Paulo, em entrevista ao ge — Foto: Marcelo Braga

– O que eu estou querendo propor não é vender a base. Jamais. Por quanto foi vendida a SAF de outros clubes? Não quero nem mencionar o clube, mas teve um que vendeu por R$ 400 milhões tudo (Cruzeiro). O São Paulo está fazendo um acordo operacional com dinheiro na frente, onde esse parceiro vai ganhar do líquido. E nós não estamos vendendo patrimônio, vendendo base, o know-how é nosso – disse o presidente do Tricolor.

O São Paulo, por determinação do plano de governança montado para o fundo, terá um diretor de vendas e um headscout (espécie de chefe de recrutamento) dedicados exclusivamente à base.

– Tem garantias de metas. Nós vamos ter que ter um scout profissional, não vamos trazer o “Pedrinho” porque ele é bom, porque tem um vídeo. Não, é muito profissional. Nós vamos ter que trazer jogadores onde você vai tentar fazer o máximo de acerto possível (…) Eu estou falando de um acordo operacional de até R$ 350 milhões, que vai nos dar um rendimento muito maior. Se eu vender 15 Henriques, quanto vai valer a nossa condição? Então, isso tudo é olhar para o futuro.

Neste modelo, o São Paulo receberia o valor inicial de R$ 250 milhões da seguinte maneira:

– Poucos meses após a assinatura do contrato: R$ 50 milhões para pagar dívidas e R$ 100 milhões para investimento na base (R$ 22 milhões para contratar jogadores, R$ 15 milhões para infraestrutura e tecnologia e R$ 63 milhões para capital de giro);
– 12 meses depois da assinatura do contrato: R$ 75 milhões para uso exclusivo da base;
– 24 meses depois da assinatura do contrato: R$ 25 milhões para uso exclusivo da base;
– Depois de cinco anos: mais R$ 50 ou R$ 100 milhões caso cumpra metas preestabelecidas.

Julio Casares, presidente do São Paulo, em entrevista ao ge — Foto: Marcelo Braga

AVAIXO, VEJA A RESPOSTA AMPLIADA DE CASARES:

ge: Em meio a toda essa questão financeira, Júlio, surgiu a possibilidade do fundo de Cotia, que é um tema que já foi debatido no Conselho de Administração e ainda vai ser debatido no Conselho Deliberativo. Qual a sua expectativa sobre ele e sobre sua aprovação?

Julio Casares: – O fundo é algo que desenvolvemos num projeto que está há dois anos em discussão, em análise interna, e que foi formatado de forma técnica. É um fundo que tem Galapagos com o mercado de capital, que traz um aspecto financeiro para que a gente não tenha só um investidor ligado ao futebol, mas que nós todos, depois dele estar listado na Bolsa de Valores, que traz transparência, responsabilidade, para que todos possamos investir. É um fundo de investimento. Nós achamos que esse é o melhor formato. Esse fundo foi discutido à exaustão no Conselho da Administração, foi votado e trouxe unanimidade. E agora vai para o Conselho Deliberativo. O São Paulo vai decidir, e qualquer que seja a decisão, não é uma decisão política, tem que ser uma decisão técnica, de alinhamento estratégico com o futuro. É simplesmente assim.

E qual é o objetivo com a criação deste fundo?

– É para que o São Paulo tenha mais condição de formatar um elenco maior na sua base. Nós formamos jogadores, sim. Mas (com o fundo) nós poderemos ou trazer jogadores ou comprar fatias para que o São Paulo seja majoritário amplamente. Vou dar um exemplo. O Lucas Ferreira nós compramos, tínhamos 65% e viramos dono de 80%. O Ryan era 60%, 70%, viramos 80%. Tudo com os nossos recursos difíceis, imagina se eu tiver uma condição. O meu sonho é ter todos os jogadores com 90% ou a totalidade do São Paulo. Mas isso hoje é quase um sonho, porque ele já vem fatiado. Mas se eu tiver 90%, eu vou para a luta. Então, na verdade, eu vou trocar um sócio que vai vir com dinheiro e que tem expectativa de ganhar junto, com um sócio que não põe dinheiro, mas que já existe.

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A ideia é conseguir formar mais jogadores prontos?

– Nós falamos do Henrique, do Ferreira, do Matheus Alves, etc. São quatro ou cinco jogadores que foram vendidos. Imagine se eu colocar uns 12 no profissional. Eu vou baratear a folha, porque o atleta que é recém-promovido, por mais que ele tenha um reajuste quando sobe, ele vai sair de R$ 15 mil ou R$ 20 mil para R$ 100 mil, R$ 120 mil, para você ter garantias da multa (nacional). Mas você não vai pagar R$ 600 mil ou R$ 700 mil, como é hoje um valor médio, R$ 400 mil, de um jogador em ascensão, ou mediano. Você diminui a sua folha com qualidade, com juventude e com intensidade. Portanto, se eu oferecer 12 (jogadores), aí, sim, eu posso vender seis e segurar seis com mais tempo. Aí será uma variação técnica de mercado.

Tem muita gente dizendo que “o São Paulo vai vender a sua base”…

– O que eu estou querendo propor à base não é vender a base. Jamais. Quanto foi vendida a SAF de outros clubes? Não quero nem mencionar o clube, mas teve um que vendeu por R$ 400 milhões tudo (Cruzeiro). O São Paulo está fazendo um acordo operacional com dinheiro na frente, onde esse parceiro vai ganhar do líquido. E nós não estamos vendendo patrimônio, vendendo base, o know-how é nosso. E tem garantias de metas. Nós vamos ter que ter um scout profissional, não vamos trazer o “Pedrinho” porque ele é bom, porque tem um vídeo. Não, é muito profissional. Nós vamos ter que trazer jogadores onde você vai tentar fazer o máximo de acerto possível.

– E tem outro mercado, que quando o garoto faz 23 anos, ele encerra a sua participação lá e ele tenta a vida sozinho. Foi bom, mas não foi promovido, acabou a vida dele útil. Hoje nós não temos mais o sub-23 como campeonato. Esses jogadores passarão a ter dentro desse projeto um diretor, uma equipe de venda desses ativos, que quando a gente souber que ele não vai nem para o profissional e vai ter dificuldade de recolocação, você pode levar para um time da Europa, da Arábia, para qualquer segmento, um jogador para que a gente tenha um empréstimo com cláusula de vitrine se vingar. Vai render 500 mil dólares, 1 milhão, de jogadores que ficariam no mercado por conta deles.

O São Paulo precisará vender mais jogadores nesta temporada? Julio Casares responde

O que mais você vê de benefício?

– Vamos capacitar o nosso elenco profissional e trazer mais volume de vendas, porque aí não vou ter essa pressão para vender. Vu escolher quem eu posso vender e o preço que a gente pode lutar por ele. Então é um projeto que vê o futuro. O mercado mudou. O São Paulo produz jogador. Hoje temos jogadores de uma categoria A, que são grandes talentos, muito promissores, e muitos de uma categoria B, que são bons, mas que não são tão promissores. Precisamos inverter, ter bastante da A e menos da B e da C. Precisa mudar o perfil. E é isso que nós vamos fazer. E dá para fazer isso como? Com dinheiro. Eu não tenho o dinheiro que alguns clubes têm, que podem trazer um jogador quase pronto, com bons índices, que pode também dar errado, mas geralmente com nível de acerto maior.

Mas como você chegou nessa conta de receber cerca de R$ 250 milhões pelos 30% as ações da base? Qual foi o cálculo?

– O São Paulo hoje tem um trabalho técnico, tem o valuation da sua base, dos seus ativos. E, também, tem o perfil dos seus atletas. Sabemos quem são os jogadores do sub-17 e sub-20 em que se aposta muito neles. E você sabe aqueles que vão compor elenco e que serão bons atletas. Até o investidor, quando se senta com o São Paulo e vê aquele trabalho técnico, vê a seriedade. Tem clubes que fizeram SAF de tudo, de patrimônio, de tudo, por R$ 400 milhões. Eu estou falando de um acordo operacional de R$ 350 milhões, que vai nos dar um rendimento muito maior. Se eu vender 15 Henriques, quanto vai valer a nossa condição? Então, isso tudo é olhar para o futuro.

Julio Casares, presidente do São Paulo, em entrevista ao ge — Foto: Marcelo Braga

Acha que será aprovado no Conselho?

– Eu não quero contaminar o processo com política. Eu acho que os conselheiros devem entender bem esse processo. E quando eles entenderem, a consciência deles vai fazer com que o São Paulo possa avançar ou não. Eu acho que o São Paulo precisa se acostumar com o novo mercado. Com investidores, com o negócio. Levar o fundo à Bolsa de Valores vai ser uma coisa inédita, a pessoa física poderá dizer: “Eu quero entrar neste fundo”. O São Paulo tem uma grande plataforma. Em razão da mudança de mercado, precisamos melhorar esses jogadores que estão logo para entrar no principal.

E você ainda tem falado muito com o Evangelos Marinakis (empresário grego)? Ele ainda pode atuar como um investidor da base do São Paulo?

– Nós nos falamos, mas na verdade…. Vou contar uma história sobre o grupo City. Eu fui visitar o Ferran Soriano (CEO do City Football Group), um grande amigo, e a gente sabia que eles tinham um foco no Bahia, mas ele disse: “Claro, se o São Paulo um dia se tornar SAF, quem não quer o São Paulo?” Ele gosta muito do clube. E eu fui lá para comprar o Ferraresi. Na cabeça dele, ele deve ter pensado: “Os caras quebrados querendo comprar jogador?”. Mas contratamos o Ferraresi e o atacante Bustos. Um não ficou e outro está muito bem. Esse é um aspecto que mostra que todos esses núcleos de empresários a gente conversa. Com o Marinakis não é diferente, só que nós consolidamos um caminho que traz os investidores. Gradativamente, esse fundo poderá receber investimento e aporte de A, B ou C e inclusive dele, mas hoje o fundo tem que ser consolidado já com investidores que existem. Já existem investidores para essa carteira. Então vamos tentar abrir na Bolsa logo em seguida ou depois de quatro meses para que o torcedor comum possa aportar o seu recurso.

Você citou essa conversa informal com o Grupo City, mas o São Paulo ainda é procurado por empresários interessados numa compra de SAF? Acha que pode ser um futuro?

– O São Paulo sempre é procurado, não diretamente, mas há movimentações de: “Olha, se um dia o São Paulo for discutir que tem de ser SAF, podemos avançar”. São variados grupos e fundos soberanos, isso existe. Mas o São Paulo nunca deu um passo neste sentido, o São Paulo está fazendo a sua lição de casa com seus próprios recursos para conseguir reestabelecer o equilíbrio. Quando você compra um clube com uma situação financeira muito difícil, fica muito oportuno para o investidor. Agora, quando você tem premissas que está seguindo, tentando se equilibrar, se o São Paulo no futuro, com meus sucessores, resolverem discutir essa questão, eu acredito que o São Paulo entraria numa mesa de negociação de forma diferente.

– Nossa prioridade é equilibrar o São Paulo até o final de 2026 (fim da gestão), e depois sim, olhar para o futuro com sucessores que sigam essa premissa. Não pode conviver mais com déficit e contratações acima. Na parte da receita, estamos crescendo muito. E o fato de não ir ao mercado de forma aloprada é um sinal que o futebol está cumprindo seu planejamento. Ano que vem teremos de comprar o Marcos Antônio, será um investimento certo em direto econômico, e mais algum jogador que possa performar e a gente queira em definitivo. Essa é um trabalho que estamos desenvolvendo.

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