Com bandeira e uniformes novos, futebol na Síria ganha sobrevida após queda de Bashar Al-Assad
Ainda impedida pela Fifa de atuar no país, seleção síria volta a campo nas Eliminatórias da Copa da Ásia com esperanças de novos tempos com fim de regime autoritário de mais de 50 anos. O DE
Atacante sírio que atua no Brasil comenta esperança de novos tempos em seu país [https://s02.video.glbimg.com/x240/13444257.jpg]
Depois de cinco décadas, a Síria se vê livre do regime autoritário da família Assad. Desde a queda de Bashar Al-Assad, em dezembro [https://de.de.globo.com/mundo/noticia/2024/12/08/sirios-comemoram-a-queda-do-governo-de-bashar-al-assad.ghtml], o país vive um momento de incertezas, mas esperanças de se reconstruir de forma mais democrática e inclusiva. O ge [https://ge.globo] te mostra agora como o futebol local segue na mesma toada.
Nesta terça-feira, a seleção síria entra em campo repaginada, com novos uniformes e novas cores, acompanhando a mudança da tradicional bandeira nacional, que representa um símbolo antidinastia Assad [https://de.de.globo.com/mundo/noticia/2024/12/09/a-bandeira-da-siria-vai-mudar-por-que-oposicao-quer-adotar-simbolo-pre-dinastia-assad.ghtml]. O vermelho dá lugar ao verde nas vestimentas dos atletas.
Liga Síria se manteve Mohamed Dakouri, presidente interino da Federação Síria de Futebol (FA), deu entrevista recente admitindo o péssimo estado dos estádios locais, que em sua maioria foram utilizados como bases militares e danificados pela guerra. Segundo Dakouri, “muitas das instalações precisam de reparos”.
Apesar disso, a Liga Síria seguiu sendo disputada normalmente nos últimos anos, com exceção da temporada 2010/11, quando foi suspensa. A temporada 2024/25 está paralisada desde os ataques das forças rebeldes ao governo de Bashar Al-Assad, em dezembro.
Disputado por 12 equipes, o campeonato local dá uma vaga na fase classificatória da Champions League Asiática. Os jogos costumavam ser realizados em áreas dominadas pelo antigo governo, nas cidades de Damasco, Hama e Latakia.
Seleção Síria consegue competir Apesar da proibição de atuar em casa e da divisão do elenco, que sofre com boicote de jogadores por questões políticas, a seleção síria de futebol se supera e chega a ser competitiva. Em 2018, mesmo em meio à guerra civil, a Síria passou perto de classificação para a Copa do Mundo da Rússia, o que seria um feito inédito.
Na ocasião, foi derrotada pela Austrália, na prorrogação, com um jogador a menos, na fase final das Eliminatórias Asiáticas. Depois, os australianos acabaram se classificando para o Mundial com vitória sobre Honduras na repescagem internacional.
Mais recentemente, a Síria passou de fase e disputou as oitavas de final da Copa Asiática, em 2023, sendo eliminada pelo Irã, nos pênaltis. Nas Eliminatórias Asiáticas para a Copa do Mundo de 2026 [https://ge.globo.com/futebol/copa-do-mundo/eliminatorias-asia/], foi eliminada na segunda fase, somando sete pontos, atrás de Japão (18) e Coreia do Norte (9). Fernando Brancoli expõe as dificuldades da seleção síria para voltar a atuar em seu país.
“Para que a Síria possa voltar a jogar diante de seus torcedores, é essencial que o país alcance um nível de estabilidade política e segurança que assegure a integridade de atletas, espectadores e instalações esportivas”, afirma o professor de Geopolítica da UFRJ.
FUTEBOL DA SÍRIA SOBREVIVE
A seleção sub-20 da Síria já disputou, com os novos uniformes, a Copa Asiática da categoria, em janeiro deste ano. A equipe terminou a campanha em terceiro lugar no Grupo D, atrás apenas das mais tradicionais seleções de Coreia do Sul e Japão.
A juventude é tratada como chave para o fortalecimento do futebol na nova Síria. Um dos representantes da nova geração é Qais Hassan, de 21 anos, que é refugiado no Brasil desde 2018 e atua pelo clube Pérolas Negras, com sede em Resende, no Rio de Janeiro. Ao no, o jovem atacante comenta a esperança de novos tempos.
“A nova seleção da Síria está trabalhando para voltar melhor do que antes. Porque tem 14 anos que os times estão muito ruins, os campos, os vestiários… Estava tudo muito ruim lá, com o Bashar Al-Assad. Seria bom para mim e para todo o povo da Síria, que viveu muita coisa difícil. Mas agora vai precisar de um tempo para melhorar. Porque as coisas não mudam de um dia para o outro”, disse, antes de acrescentar sua grande motivação no futebol.
“Estou esperando a oportunidade de eles me chamarem para jogar na seleção. Eu tenho de coração a vontade de realizar meu sonho na seleção da Síria e ajudar o povo de lá a ser feliz”, afirma Qais Hassan.
DESAFIOS SÍRIOS NÃO ACABARAM
Qais vive seu primeiro ano como atleta profissional do Pérolas Negras e tem como principal foco ajudar sua família, que vive em um campo de refugiados desde que perdeu a casa por conta da guerra na Síria. Apesar de acreditar em dias melhores, o atleta sabe que as dificuldades enfrentadas por seu povo ainda não acabaram.
“Foi muito difícil perder nossa casa na Síria. Sempre penso na minha família. Eles vão ficar para sempre em campo de refugiados? Como vou ajudá-los? Agora, sem o Bashar Al-Assad, eles vão poder voltar para a Síria. Só que tem que esperar um tempo. Não tem onde morar. E o exército do Bashar Al-Assad está matando as pessoas. Então, ainda não acabou a guerra mesmo. Mas de um tempo para frente vai acalmar tudo, se Deus quiser”, conclui Qais Hassan.