Gado Purunã se destaca pela eficiência produtiva e qualidade
Raça foi desenvolvida em solo paranaense por quase quatro décadas.
A teoria da gravidade, idealizada por Isaac Newton, foi construída com base nos
erros de testes realizados por outros cientistas, como os estudos de Galileu
Galilei. Quando o homem chegou à lua com a Apollo XI, foram necessários outros
dez testes falhos para que a tripulação de Neil Armstrong chegasse ao objetivo
americano. Ao longo da história, muitos processos precisaram de testes para
chegar à excelência. Muitas vezes, para fazer algo inovador é necessário olhar
para a história e resgatar algo do passado.
Mas qual é o sentido disso dentro do agronegócio? A construção de uma raça
considerada ideal por meio de estudos da genética. Testes e mais testes,
cruzamentos e mais cruzamentos, fizeram com que os pesquisadores do Instituto de
Desenvolvimento Rural do Paraná, durante 40 anos de estudo, chegassem à raça
purunã, a única raça de gado genuinamente paranaense e exclusiva de um estado do
Brasil.
Durante a primavera de 1980, a equipe do antigo Iapar (Instituto Agronômico do
Paraná) realizou estudos na Estação Experimental Fazenda Modelo, que fica em
Ponta Grossa, considerada a capital dos Campos Gerais do Paraná. A pesquisa
tinha a intenção de desenvolver uma nova raça, a partir de cruzamentos entre
animais de outras linhagens, sendo elas caracu, charolês, aberdeen angus e
canchim.
A escolha do nome foi em homenagem à Serra do Purunã, que fica entre Ponta
Grossa, cidade onde foi realizada a pesquisa, cruzamentos e a seleção ideal do
rebanho, e Curitiba, capital do Paraná.
Hoje, 32 associados contribuem com a Associação dos Criadores de Purunã em todas
as regiões do Brasil, contabilizando aproximadamente 12 mil animais registrados
em todo o País. O Paraná é o estado destaque, com 40% de criadores dessa
linhagem. Como é o caso de Ernesto Dall Agnol, proprietário da Fazenda Santo
Antônio, do distrito de São Salvador, em Cascavel.
O pecuarista, que trabalhou como consultor contábil e com pós-graduação na área
rural, foi diretor do Colégio Agrícola de Toledo, o que trouxe mais experiência
para seguir na vida do campo e, em 2017, começou a criação do gado purunã.
“Cheguei aqui e só tinha a casa lá onde eu moro e uns ranchos velhos aqui. Eu
fiquei 43 anos trabalhando como empresário, tendo meus negócios, depois
dirigindo um colégio, depois dando consultoria, eu estava cansado. Dez anos
aposentado, decidi fugir da cidade e comprei a primeira área, só com a casa e a
piscina, fiquei um ano aqui e, para não ficar parado, comecei com o gado”, conta
Ernesto.
O criador conheceu a raça Purunã em 2016, durante o Show Rural Coopavel – a
maior feira de agronegócio da América Latina-, quando acompanhou uma palestra
ministrada pelo Iapar e conheceu a pecuária que estava em exposição. “Me
encantou a precocidade. Enquanto as outras raças, vendem dois lotes de animal,
você vende três, e com 18 a 20 meses, o purunã vai para o frigorífico”, ressalta
Ernesto. “Além do tipo de animal também, que é dócil, com bom marmoreio e com
habilidade materna das mães”, completa.
O produtor, que reside em São Salvador, distrito cascavelense, tem um rebanho
com 150 cabeças de gado, que começou com o purunã puro. Atualmente, ele também
faz cruzamentos entre essa raça com outras três: o nelore, o devon e o tabapuã.
Pelos resultados da pesquisa, com o choque de sangue, os animais vêm mais
robustos. “O purunã imprime a característica dele sobre esses animais, que é a
precocidade, com 16 a 18 meses você vende pro frigorífico, com 18 a 20 arrobas.
E também, o purunã imprime a característica da habilidade materna do caracu, que
são mansas, dóceis e boas de leite, com boa aceitação, além da característica de
carne do charolês e do canchim, e a maciez e o marmoreio do Angus, sendo assim,
uma raça completa”, explica o criador.
O que mais chamou a atenção de Ernesto foi a precocidade da raça: em poucos
dias, o bezerro duplica de tamanho. “O purunã nasce pequeno, em média de 28 a 35
quilos, então isso é uma facilidade de parto. Em 25 dias, ele já vai para 65
quilos. Ele se desenvolve rápido, é um bezerro precoce e a mãe tem bastante
leite”, relata o pecuarista.
“O purunã é ideal para frigoríficos, pois são animais precoces e têm bom
rendimento de carcaça. Para o consumidor, que recebe uma carne macia com
excelente acabamento e marmoreio, e também para nós pecuaristas, devido o purunã
ter bom rendimento, com peso leve ao nascer e com habilidade materna, além da
rusticidade e do ganho de peso”, menciona.
Ernesto tem a projeção de expandir o rebanho para 300 cabeças de gado. “Hoje nós
já estamos com 50% do plantel de matrizes. Devagarinho vai, não adianta pensar
em ser grande, porque nós não temos área para cá”, finaliza o produtor rural.
Quem também investiu na criação do gado foi o pecuarista Piotre Laginski, do
distrito de Rio do Salto, em Cascavel. Piotre e seu pai criavam apenas canchim,
até o pecuarista ingressar na faculdade em Curitiba e conhecer a raça purunã.
“Conheci a raça na Feira do Paraná, em Curitiba, e o que achei interessante foi
que foi criada para atender às demandas do consumidor”, relata Piotre. “Foi uma
escolha técnica, uma paixão”, complementa o veterinário.
Em 2009, o produtor começou a criação da raça, com o objetivo de fazer o
melhoramento genético da linhagem. “Não importa quantos touros vão ser
comercializados, mas que todos esses animais consigam dar retorno para a
propriedade”, conta o pecuarista.
Além disso, Piotre quer ser um dos responsáveis pela expansão da raça purunã
para estados de outras regiões. “Os planos da nossa propriedade são levar uma
parcela do rebanho puro do purunã para o nordeste, com o objetivo de
regionalizar ele mais no país e com volume de produção”, finaliza Piotre.
Texto produzido por Vinicius Schmitt, acadêmico do curso de Jornalismo do Centro
Universitário FAG, para a 23ª edição da Revista Verbo, veiculada na 4ª edição do
City Farm FAG, em 2024.