Goianos fazem malabarismo para conseguir sobreviver com a alta do preço dos produtos

As famílias goianienses tem sofrido por conta da dificuldade de acesso a itens básicos como como o gás de cozinha e alimentos que compõem o hortifruti, devido ao aumento no preço dos produtos puxado pela inflação e a guerra na Ucrânia.

O gás de cozinha, por exemplo, aumentou 16% nesta sexta-feira (11), após a Petrobras anunciar o reajuste na última quinta-feira (10). Segundo o presidente do Sindicato das Empresas Revendedoras de Gás da Região Centro-Oeste (Sinergás), Zenildo Dias do Vale, com o novo aumento o gás já pode ser encontrado a R$ 140 no estado.

“As vendas caíram mais de 30% em Goiás e a tendência e que continue caindo. Hoje, o gás é encontrado por no mínimo R$ 127. A dona de casa já não tem mais dinheiro para comprar o gás. Se antes que era R$ 110, ela já não tinha, agora é que não vai ter mesmo. Infelizmente a gente vê muitas pessoas cozinhando na lenha, no álcool”, exaltou.

A dona de casa e mãe de três filhos, Luana Oliveira de Jesus, de 27 anos, faz parte dos goianienses que estão sentindo o impacto do alto preço do gás. Ela explica que teve de vender o recipiente que tinha em casa para comprar alimento.

Entretanto, não conseguiu comprar outro bojão de gás, com o recipiente, que custa mais de R$ 300, em Goiânia. Por não ter condições de comprar o gás e pela dificuldade de coletar lenha nas proximidades da sua casa, Luana se arrisca ao cozinhar usando álcool.

“Está muito caro, aumentou muito. Vendi o gás para comprar alimento e pagar o aluguel que estava atrasado há muito tempo. Eu iria comprar outro depois, mas ficou muito caro e não consegui comprar. Eu como na obra que tem perto aqui de casa, quando eles me dão uma marmita ou na casa da minha mãe. Não consigo trabalhar por agora porque tenho uma filha de 3 meses. Aqui perto não tem lenha, apenas os pedaços de madeira na obra. Porém, a gente não pode pegar porque eles usam, então nunca cozinhei na lenha. Às vezes eu cozinho no álcool e a minha mãe fica brigando, mas é o jeito mais fácil que achei quando não tem onde comer. Graças a Deus nunca cheguei a me queimar”, explicou.

Hortifrúti

Assim como o gás, o hortifrúti também tem registrado aumento, devido as fortes chuvas que castigaram o estado nos dois primeiros meses do ano e o alto preço de produção por parte dos pecuaristas.

A situação tem refletido no preço das frutas, legumes, verduras e hortaliças comercializadas nas bancas de feiras e supermercados do estado, que compram os produtos à atacado na Central Estadual de Abastecimento (Ceasa) para revenda.

Como as safras sofreram com o clima atípico e o produtor rural está abrindo o bolso para plantar, o valor dos alimentos subiu consideravelmente. O tomate, vagem e o jiló, inclusive, já podem ser encontrados entre R$ 7 e R$ 10 nas bancas.

De acordo com o gerente da divisão técnico da Ceasa, Josué Lopes Siqueira, entre os produtos que mais aumentaram se destaca a cenoura que bateu recorde de preço na central, após aumentar registrar aumento de 50%.

Além do legume, o preço de produtos como o jiló (alta de 150%); pepino comum (alta de 150%); vagem (alta de 87%); abóbora kabotia (alta de 80%), melancia (alta de 16%) e abacaxi (alta de 33%), surpreendem.

“Esse ano começou diferente, com muitas chuvas. Isso já trás uma série de problemas para o produtor. Além disso, há também o custo de produção. Se compararmos o valor de produção deste ano com o ano passado vamos ver valores superiores. Por conta disso, estamos comercializando alguns produtos com preços inéditos como a cenoura. Nunca na história uma caixa de cenoura custou R$ 180. Acreditamos que até o final do mês os preços possam diminuir”, concluiu.

Queda nas vendas

Se para o produtor rural está difícil, para o feirante está pior. Odaides Vaz da Costa Júnior, por exemplo, tem uma banca de verduras e folhagem. Por 12 anos ele trabalhou em feiras, mas há alguns meses resolveu montar uma banca fixa em uma avenida. Buscando economia e tentando fugir das altas nos preços da Ceasa, ele começou a plantar o seu próprio produto e deixou de comprar na central por conta do alto valor.

“Eu não compro mais na Ceasa, devido ao aumento das verduras. Hoje, eu produzo as minhas próprios produtos, mas o meu foco é folhagem. Porém, o clima ruim tem prejudicado a plantação e deixado as sementes e mudas mais caras e a gente tem que repassar esse valor ao consumidor. Meus produtos mesmo já aumentaram mais de 50%”.

Já Leonardo Pereira da Silva, que é dono de um verdurão em Aparecida de Goiânia, ficou refém dos preços da Ceasa. Ele diz que precisou diminuir as compras de atacado na central pela metade, a fim de não assustar o cliente com o reflexo dos valores e consequentemente perdê-los.

“O preço abusivo assusta os nossos clientes e eles acabam trocando as mercadorias por algo mais em conta. Essa situação deixa o comerciante mais preocupado, já que podemos perder produtos e até clientes. Mesmo comprando menos, não conseguimos evitar aumentar o preço de alguns produtos e isso tem feito as vendas caírem. A venda do repolho, por exemplo, caiu muito. Outros produtos que também registraram queda nas vendas foram a melancia, batata, cenoura, tomate e o chuchu. Todos tiveram um aumento de cerca de 100%”.

Produtos vendidos por Leonardo na sua banca / Foto: Arquivo pessoal

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BYD cancela contrato com empreiteira após polêmica por trabalho escravo

Na noite de segunda-feira, 23, a filial brasileira da montadora BYD anunciou a rescisão do contrato com a empresa terceirizada Jinjiang Construction Brazil Ltda., responsável pela construção da fábrica de carros elétricos em Camaçari, na Bahia. A decisão veio após o resgate de 163 operários chineses que trabalhavam em condições análogas à escravidão.

As obras, que incluem a construção da maior fábrica de carros elétricos da BYD fora da Ásia, foram parcialmente suspensas por determinação do Ministério Público do Trabalho (MPT) da Bahia. Desde novembro, o MPT, juntamente com outras agências governamentais, realizou verificações que identificaram as graves irregularidades na empresa terceirizada Jinjiang.

Força-tarefa

Uma força-tarefa composta pelo MPT, Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Defensoria Pública da União (DPU) e Polícia Rodoviária Federal (PRF), além do Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF), resgatou os 163 trabalhadores e interditou os trechos da obra sob responsabilidade da Jinjiang.

A BYD Auto do Brasil afirmou que “não tolera o desrespeito à dignidade humana” e transferiu os 163 trabalhadores para hotéis da região. A empresa reiterou seu compromisso com o cumprimento integral da legislação brasileira, especialmente no que se refere à proteção dos direitos dos trabalhadores.

Uma audiência foi marcada para esta quinta-feira, 26, para que a BYD e a Jinjiang apresentem as providências necessárias à garantia das condições mínimas de alojamento e negociem as condições para a regularização geral do que já foi detectado.

O Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que sua embaixada e consulados no Brasil estão em contato com as autoridades brasileiras para verificar a situação e administrá-la da maneira adequada. A porta-voz da diplomacia chinesa, Mao Ning, em Pequim, destacou que o governo chinês sempre deu a maior importância à proteção dos direitos legítimos e aos interesses dos trabalhadores, pedindo às empresas chinesas que cumpram a lei e as normas.

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