Goiás: 57,9% dos municípios sofrem com a falta de medicamentos

Brasil tem mais de 120 mil farmácias

O tratamento de várias doenças está comprometido no estado por falta de medicamentos. O problema ocorre nas farmácias populares e na rede particular. Levantamento revela que a situação ocorre em 57,9% dos 114 municípios goianos que responderam pesquisa da Confederação Nacional dos Municípios (CNM). A maior parte do deficit é de antibióticos, remédios para problemas respiratórios, para o sistema nervoso, para controle da hipertensão e do diabetes.

As explicações para o desabastecimento esbarram em fatores nacionais e internacionais. Há problemas no fornecimento pelo Ministério da Saúde, movimentos de protestos de funcionários de aeroportos e portos, questões de políticas internacionais e dificuldade com importação de insumos, lockdown na China e guerra na Ucrânia.

Em 34,2% das cidades goianas foi constatada a falta de medicamentos do chamado componente estratégico da assistência farmacêutica e  não há prazo para normalização do estoque para quase metade deles (43,9%). Para muitas gestões, a solução foi a compra direta sem licitação para aquisição emergencial de medicamentos e insumos da área da saúde. 

Na lista consta dificuldade em suprir a demanda por antibióticos, xaropes, dipirona, insulina, analgésicos, antivirais para casos de influenza, antiparasitários, vacinas do calendário vacinal não COVID-19, medicamento para tratamento da tuberculose e antirretrovirais para tratamento do HIV. A oferta de medicamentos de alto custo não representa problema para 62,3% dos municípios pesquisados.

A rede particular também lida com estoques vazios ou no limite há meses. Remédios contra anemia, antialérgicos e alguns de uso pediátrico estão em falta. Em uma das farmácias pesquisadas pela reportagem do Diário do Estado (DE), o Noripurum – medicamento indicado para tratar deficiência de ferro – não estava disponível na unidade nem em nenhuma outra da rede. 

De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi), o Brasil produz apenas 5% dos insumos utilizados na fabricação de medicamentos no país. Além disso, a alta no preço da matéria-prima e das embalagens fazem parte da equação, de acordo com a Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar). Estima-se que 68% das importações vêm da China e, em segundo lugar, da Índia.

Fazer o quê?

O presidente do Sindicato dos Farmacêuticos de Goiás  (Sinfargo), Fábio Basílio, explica que o farmacêutico pode sugerir a substituição dos medicamentos, em caso de falta. No caso dos medicamentos com prescrição médica ou de retenção de receita, a intercambialidade vale somente para opções com o mesmo princípio ativo. 

“Quando o que falta é o IFA [ingrediente farmacêutico ativo] então faltam todos que utilizam a matéria-prima. Não podemos substituir a amoxicilina por uma azitromicina, por exemplo. Fora isso, no Brasil existem muitas opções de genéricos e Goiás é o maior polo de fabricação destes medicamentos na América Latina. Genéricos funcionam tão bem quanto os de marca”, detalha.

De acordo com Basílio, a China vem priorizando o mercado interno de consumo  de medicamentos devido a novos surtos de covid, o que também explicaria a dificuldade em conseguir comprar o IFA. A possibilidade de aumento de preço para incentivar e compensar a produção interna nos remédios vem sendo avaliada pelo governo federal já que o País tem grande dependência externa. 

A Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), que regula o preço máximo dos remédios ao consumidor, estuda a liberação do teto de limite. “A expectativa é de que isso ocorra após as eleições. Trata-se de um problema antigo sem solução a curto prazo. A médio e longo prazo o ideal seria a produção de IFA’s brasileiros para medicamentos básicos, como dipirona, amoxicilina, azitromicina porque tem condições e tecnologia. É preciso investir em ciência”, esclarece.

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Agrodefesa apreende 10 mil embalagens de agrotóxicos armazenadas de forma irregular

A Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa), em parceria com a Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Rurais (DERCR), deflagrou, na última terça-feira, 17, em Trindade e Paraúna (GO), a Operação Terra Limpa.

A ação resultou na apreensão de mais de 10 mil embalagens vazias de agrotóxicos que estavam armazenadas de forma irregular, em desacordo com legislações ambiental e de defesa agropecuária vigentes.

As embalagens foram encontradas em diferentes estados de processamento — algumas prensadas, outras trituradas —, e estavam em condições inadequadas de armazenamento. Também foi descoberto um caminhão carregado com embalagens vazias.

Os profissionais envolvidos na operação identificaram que os materiais eram triturados para reciclagem, porém a destinação final das embalagens não cumpria as normas legais de devolução de embalagens vazias de agrotóxicos.

Os materiais apreendidos – que totalizaram seis caminhões com produtos – foram enviados para a Associação Goiana de Empresários Revendedores de Produtos Agropecuários (Agerpa), localizada em Goiânia, e para a Associação dos Distribuidores de Produtos Agrícolas de Rio Verde (Adirv) para pesagem e destinação final.

Essas associações são unidades que representam os estabelecimentos comerciais de insumos agrícolas, autorizadas a recepcionar e dar a correta destinação final das embalagens vazias – que passam por tríplice lavagem pelos produtores -, ou ainda daquelas que podem conter resíduos de agrotóxicos.

Segundo a gerente de Sanidade Vegetal da Agrodefesa, Daniela Rézio, os fiscais estaduais agropecuários e os agentes da Polícia Civil apuraram ainda que a intenção do proprietário do estabelecimento era desviar as embalagens para recicladoras clandestinas.

“É importante destacar que o processo legal de reciclagem de embalagens vazias de agrotóxicos é de competência do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV). A instituição é responsável pela gestão da política reversa das embalagens vazias de agrotóxicos e nós, da Agrodefesa, estamos inseridos nesse processo como responsáveis por orientar os produtores e fiscalizar o cumprimento da obrigatoriedade legal do correto armazenamento e devolução das embalagens vazias”, informa.

Penalidade

Além da apreensão do material, o responsável pelo estabelecimento foi detido pela Polícia Civil e autuado pelos fiscais da Agrodefesa. De acordo a com legislação federal e estadual de agrotóxicos, a previsão é que esse tipo de infração tenha penalidades administrativa e criminal, com multas que podem chegar a R$ 50 mil, além de pena de reclusão, de dois a quatro anos.

O presidente da Agrodefesa, José Ricardo Caixeta Ramos, reforça que esse tipo de prática de descarte e armazenamento irregular de embalagens de agrotóxicos vazias, além de ser crime, coloca em risco o meio ambiente, a saúde pública e a economia no Estado.

“Pode trazer sérios danos para a população e afetar toda uma cadeia produtiva. Por isso, casos como esses devem ser denunciados aos órgãos competentes para que as medidas de prevenção e repressão sejam tomadas o mais rápido possível”.

Denúncia

A operação foi realizada a partir do trabalho inicial de apuração feito em Paraúna (GO) por fiscais estaduais agropecuários da Unidade Regional Rio Verdão da Agrodefesa. No município, os profissionais identificaram desvios, processamento e envio de embalagens de agrotóxicos para Trindade.

O coordenador da UR Rio Verdão, Giovani Miranda, destaca que a partir disso foi possível a identificação dos receptadores e a localização do galpão em que o processamento clandestino das embalagens acontecia.

“Essas medidas possibilitaram à Delegacia de Crimes Rurais a apreensão de outras quatro cargas nesse mesmo depósito”, informa.

Participaram da ação fiscais estaduais agropecuários das Unidades Rio dos Bois e Rio Verdão, e da Gerência de Fiscalização Agropecuária, sob coordenação da Gerência de Sanidade Vegetal, além de agentes da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Rurais (DERCR).

Destinação correta de embalagens de agrotóxicos

Em Goiás, são 13 associações credenciadas pelo inpEV, que juntas são responsáveis pela gestão em 27 Unidades de Recolhimento de Embalagens Vazias (UREV), devidamente cadastradas na Agrodefesa, sendo 17 Postos e 10 Centrais, localizadas nos seguintes municípios:

Acreúna, Anápolis, Bom Jesus, Catalão, Ceres, Cristalina, Formosa, Goianésia, Goiânia, Iporá, Itaberaí, Itumbiara, Jataí, Luziânia, Mineiros, Morrinhos, Paraúna, Piracanjuba, Porangatu, Quirinópolis, Rio Verde, Santa Helena de Goiás, Vianópolis e Vicentinópolis.

Os empresários que utilizam agrotóxicos, ao concluírem a aplicação, devem realizar a tríplice lavagem, armazenamento adequado e a devolução das embalagens vazias, suas tampas e eventuais resíduos pós-consumo dos produtos aos estabelecimentos comerciais em que foram adquiridos, de acordo com as instruções previstas nas respectivas bulas, no prazo de até um ano, contado da data de compra, ou da data de vencimento.

A devolução pode ainda ser intermediada por postos ou centrais de recebimento, bem como por ações de recebimento itinerantes, desde que autorizados e fiscalizados pelo órgão competente, nesse caso em Goiás, pela Agrodefesa, com a gestão sob responsabilidade do inpEV junto às suas associações de revendas credenciadas.

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