Goiás investe em descentralização de atendimento médico especializado

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O que todo cidadão quer no momento da doença é atendimento médico. Para conseguir a assistência, muito passam por uma peregrinação dos municípios onde moram até as grandes cidades. O movimento é inverso ao que prevê o Sistema Único de Saúde  (SUS) ao estabelecer que o serviço deve ser oferecido para todos, independentemente de onde moram ou de outras distinções sociais.

A qualidade do serviço tende a ficar comprometida nesse jogo em que o usuário é o integrante mais fraco de um time em que cada um deveria cumprir seu papel para o funcionamento em sintonia. Nesse sentido, hospitais grandes, aqueles centralizados em cidades maiores deveriam cuidar de casos mais graves ou mais especializados. Numa escala decrescente, o atendimento para situações mais simples deveria ficar restrito a unidades de saúde municipais próximas ao local de residência das pessoas.

Um exemplo dessa dinâmica é o caso recente das gêmeas Valentina e Eloá, de dois anos. A irmãs siamesas de Morrinhos vieram para a capital com os pais encaminhadas pela regulação para início da preparação da primeira cirurgia de separação que ocorreu em 2021. O procedimento realizado no Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (HECAD) faz jus ao perfil especializado do local, que prioriza atendimentos mais complexos.

Com o pequeno Davy, de 10 anos de idade, um equívoco no diagnóstico complicou o estado de saúde e apressou a vinda para o Hecad. Ele começou a passar mal com vômitos e febre. A mãe Daiane Alves o levou para um posto de saúde de Petrolina, no interior goiano, onde foi informada que o garoto estava com dengue.

“Ele foi medicado, mas continuava com febre e dor no pé da barriga. O pai dele resolveu levar o menino para Nerópolis no dia seguinte. Fizeram exames e constataram que Davy estava com crise de apendicite e precisava ser operado com urgência. Eles encaminharam a gente para o Hecad e ele foi atendido aqui porque lá não faziam o procedimento. Tudo é excelente: os profissionais, o atendimento, a comida e ainda tem uma brinquedoteca que ajudou na recuperação do meu filho”, relembra Daiane.

“Escadinha”

Goiânia sempre foi referência como centro de saúde. Na prática, a atração de pacientes para rede pública da capital reforça o ciclo pendular da população do interior porque as desigualdades se mantêm. Questões orçamentárias e logísticas interferem na oferta de assistência médica e hospitalar próximo a casa dessas pessoas. O resultado é mais sofrimento e desgaste com o transporte, alimentação, falta no trabalho e comprometimento do orçamento familiar.

São essas falhas no fluxo de atendimento que causam cenas assustadoras de filas de pacientes e acompanhantes em hospitais centrais. “Um caso simples que poderia ser atendido em um pronto socorro municipal acaba chegando até nós. Não nos recusamos a receber até porque somos ‘porta aberta’, mas nosso perfil é outro. Somos especializados em atendimento pediátrico, somos um hospital de média e alta complexidade. Temos aqui 17 subespecialidades em Pediatria”, explica a diretora geral do Hecad, Mônica Costa.

A própria lei que cria o SUS ensina como as coisas deveriam funcionar: por meio da regionalização da saúde. Em Goiás, a pandemia acelerou o processo que, em resumo, leva ao interior mais hospitais e especialistas em diversas áreas. Nos últimos quatro anos, mais de dez unidades foram criadas em diversas regiões do estado para suprir essa carência, superando 30 na rede própria.

Jataí, Formosa, São Luís de Montes Belos, Luziânia, Itumbiara e Uruaçu – com Hospital Estadual do Centro-Norte Goiano já têm grandes hospitais para assistir ao povo local e em breve será a vez dos goianos no entorno de Brasília receberem o Hospital Estadual de Águas Lindas de Goiás.

Na capital, os goianienses e as pessoas da região metropolitana não foram esquecidos. O Hecad e o Hospital Estadual da Mulher (Hemu), desmembrados do antigo Hospital Materno Infantil, ampliaram a oferta de vagas de serviço especializado. O Hecad contabiliza milhares de atendimentos por mês em consultas. urgência e internação e quase mais milhares de exames.

“Nosso atendimento ainda se concentra na população de Goiânia, mas atendemos pessoas de todo o estado encaminhadas pela regulação estadual que já vêm com perfil determinado para nossa unidade e vaga garantida. Isso é muito importante porque a lógica da regionalização e da descentralização favorece a prestação de serviço em saúde no interior, aumenta o número de leitos disponíveis no estado e perto da casa das pessoas, além de desafogar os centros de referência”, detalha Mônica.

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Hugo destaca avanço em cirurgias endoscópicas com melhorias e investimentos

O Hospital de Urgências de Goiás Dr. Valdemiro Cruz (Hugo), unidade do governo do Estado gerida pelo Hospital Israelita Albert Einstein desde junho deste ano, realizou no final de novembro sua primeira cirurgia endoscópica da coluna vertebral. Essa técnica, agora prioritariamente utilizada nos atendimentos de urgência e emergência, é minimamente invasiva e representa um avanço significativo no tratamento de doenças da coluna vertebral, proporcionando uma recuperação mais rápida e menores riscos de complicações pós-cirúrgicas.

Segundo o coordenador da ortopedia do Hugo, Henrique do Carmo, a realização dessa técnica cirúrgica, frequentemente indicada para casos de hérnia de disco aguda, envolve o uso de um endoscópio. Este equipamento, um tubo fino equipado com uma câmera de alta definição e luz LED, transmite imagens em tempo real para um monitor, iluminando a área cirúrgica para melhor visualização. O tubo guia o endoscópio até a área-alvo, permitindo uma visão clara e detalhada das estruturas da coluna, como discos intervertebrais, ligamentos e nervos.

“Quando iniciamos a gestão da unidade, uma das preocupações da equipe de ortopedia, que é uma especialidade estratégica para nós, foi mapear e viabilizar procedimentos eficazes já realizados em outras unidades geridas pelo Einstein, para garantir um cuidado mais seguro e efetivo dos pacientes”, destaca a diretora médica do hospital, Fabiana Rolla. Essa adoção da técnica endoscópica é um exemplo desse esforço contínuo.

Seis meses de Gestão Einstein

Neste mês, o Hugo completa seis meses sob a gestão do Hospital Israelita Albert Einstein. Nesse período, a unidade passou por importantes adaptações que visam um atendimento mais seguro e de qualidade para os pacientes. Foram realizados 6,3 mil atendimentos no pronto-socorro, mais de 6 mil internações, mais de 2,5 mil procedimentos cirúrgicos e mais de 900 atendimentos a pacientes com Acidente Vascular Cerebral (AVC).

A unidade passou por adequações de infraestrutura, incluindo a reforma do centro cirúrgico com adaptações para mitigar o risco de contaminações, aquisição de novas macas, implantação de novos fluxos para um atendimento mais ágil na emergência, e a reforma da Central de Material e Esterilização (CME) para aprimorar o processo de limpeza dos materiais médico-hospitalares.

Hoje, o Hugo também oferece um cuidado mais humanizado, tanto aos pacientes como aos seus familiares. A unidade implementou um núcleo de experiência do paciente, com uma equipe que circula nos leitos para entender necessidades, esclarecer dúvidas, entre outras atividades. Além disso, houve mudança no fluxo de visitas, que agora podem ocorrer diariamente, com duração de 1 hora, em vez de a cada três dias com duração de 30 minutos.

Outra iniciativa realizada em prol dos pacientes foi a organização de mutirões de cirurgias, visando reduzir a fila represada de pessoas internadas que aguardavam por determinados procedimentos. Essa ação viabilizou a realização de mais de 32 cirurgias ortopédicas de alta complexidade em um período de dois dias, além de 8 cirurgias de fêmur em pacientes idosos. Todos os pacientes beneficiados pelos mutirões já tiveram alta hospitalar.

Plano de investimentos para 2025

Para o próximo ano, além do que está previsto no plano de investimentos de R$ 100 milhões anunciado pelo Governo de Goiás, serão implantadas outras melhorias de fluxos e processos dentro das atividades assistenciais. Isso inclui processos preventivos de formação de lesões por pressão, otimização de planos terapêuticos, cirurgias de emergência mais resolutivas, e outras ações que visam aprimorar o cuidado dos pacientes.

O hospital também receberá novos equipamentos, como o tomógrafo doado pelo Einstein para melhorar o fluxo de pacientes vítimas de trauma e AVC, e um robô de navegação cirúrgica.

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