Última atualização 12/02/2017 | 11:17
O Governo Paulo Hartung (PMDB) anunciou nesta sexta-feira ter chegado a um acordo com associações de Policiais Militares para tentar encerrar a paralisação de agentes que completa uma semana. A negociação, no entanto, excluiu representantes de mulheres e parentes dos PMs que lideram o movimento ao bloquear a saída dos batalhões e, portanto, não é garantido o fim do impasse. As autoridades capixabas reconheceram a fragilidade do pacto e fizeram um apelo, diante dos jornalistas, para que os agentes retornem às ruas a partir das 7h e “conversem” com suas esposas.
Pelo acerto entre Governo e associações do PMs, não há previsão de reajuste salarial imediato para a categoria, como reivindicava a mobilização, mas há a promessa de que a negociação sobre o tema continue. Pelo acordo, os policiais militares não serão punidos administrativamente pelos dias de paralisação. A oferta de anistia, no entanto, não abarca os 703 policiais já indiciados pelo crime de revolta e que podem pegar de 8 a 20 anos de detenção caso sejam condenados.
“Conversamos com os nossos soldados e pedimos bom senso e que retomem as atividades. Já são mais de 100 mortes”, disse o secretário estadual de Direitos Humanos, Júlio Cesar Pompeu durante coletiva de imprensa. “Estou esperançoso de que não serão necessárias medidas para garantir o império da lei”, completou. Ainda segundo Pompeu, a proposta foi construída com muitas mãos e muitos líderes.
Ao saberem da notícia sobre o acordo anunciado na noite sexta-feira, as mulheres e mães de PMs que acampavam na frente do Batalhão de Missões Especiais (BME) afirmaram à reportagem que as associações não participam do movimento e, portanto, não as representam. “Esse acordo não muda em nada nossa luta. Vamos continuar aqui até o Governo atender ao nossos pedidos”, afirmou uma delas.
Foi o que aconteceu na manhã deste sábado. Mulheres de policiais continuam acampadas em frente a batalhões em Vitória, mesmo depois das 7h, prazo que o Governo deu aos PMs para voltarem às atividades sem punição. Alguns agentes chegaram a tentar convencer as que acampam na frente do Quartel Central da capital capixaba a desobstruírem a saída por volta das 8h. “Estamos a flor da pele. A gente precisa sair, alguém precisa renunciar”, disse uma subtenente.
O movimento, no entanto, não recuou. Elas reafirmaram que as associações de policiais não as representam e que o acordo anunciado pelo Governo ontem não atende as reivindicações do grupo. De mãos dados elas rezaram e entoaram gritos de “não acabou”. “Não vamos sair, não temos medo. Estamos aqui para arcar com as consequências que nos forem impostas”, disse Selma Souza, mãe de um policial.
A mais recente cartada da gestão Hartung para tentar acabar com a paralisação ocorre depois de uma semana de caos e violência que matou ao menos 125 pessoas no Estado. Durante o período, o governador se manteve irredutível desde o início da paralisação, afirmando que o aumento do salários dos PMs era inviável e não cabia no orçamento, além de ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal. Hartung alegava ainda que fazer concessões agora poderia abrir um precedente perigoso que poderia colocar em risco todo o esforço aplicado para manter as contas no azul. No ano passado, o Espiríto Santo foi um dos únicos Estados a fechar o ano com um resultado primário (a soma entre as despesas e as receitas) positivo.
Com o caos instaurado no Estado, os capixabas vivem uma espécie de estado de sítio, que divide a população entre os que são a favor e contra o movimento. Com isso, as mulheres dos PMs sofrem certa hostilidade de alguns moradores, mas afirmam que a maioria das pessoas as apoia. “Muita gente vem aqui trazer alguma coisa para a gente comer, vem cumprimentar. Nos últimos dias também recebemos o apoio da Polícia Civil e dos Bombeiros, os carros passam aqui buzinando”, conta Bárbara*.
Fonte: El país