Guerra de facções transforma vilarejo em ‘cidade fantasma’ e animais são deixados para trás: ‘Estão precisando de alimentos’
Após fuga de moradores por causa da violência, cães e gatos ficaram soltos em Iraponga, no interior do Ceará, onde comércio, escola e igreja fecharam as portas.
Cães e gatos vagam sem rumo pelas ruas do distrito de Iraponga, na zona rural de Morada Nova, interior do Ceará. Em situação de abandono, os animais ficaram para trás depois que quase todos os moradores deixaram o local por causa da violência. “Eles estão precisando de alimentos”, resumiu um morador ao descrever a cena de bichos famintos entre casas e comércios fechados.
Até julho, mais de duas mil pessoas viviam entre praças, residências e pequenos estabelecimentos. Mas a tranquilidade aparente foi rompida por uma disputa de território entre facções criminosas, foi o que mostrou uma reportagem do DE publicada em setembro.
O medo se espalhou rapidamente e fez com que a população deixasse o distrito em massa, transformando o vilarejo em uma verdadeira “cidade fantasma”. “As pessoas com medo foram saindo das suas casas e quando umas pessoas viam as outras saindo, elas viam que estavam ficando cada vez mais isoladas e saíram também”, contou uma moradora.
O clima de insegurança aumentou depois que rivais passaram a atacar familiares de faccionados e disparar contra residências. Com a debandada, o distrito se tornou inviável: o comércio fechou, o posto dos Correios deixou de funcionar, a unidade de saúde não tinha mais pacientes e até a igreja encerrou as missas por falta de fiéis. A escola também foi abandonada às pressas, e os alunos transferidos para a sede de Morada Nova, a 23 km de distância. Hoje, o espaço que antes reunia estudantes abriga uma base fixa da Polícia Militar.
A Polícia Civil afirma que a prisão de um dos chefes da facção, em julho, trouxe mais controle à região. Desde então, apenas um homicídio foi registrado em Morada Nova, sem ligação com os episódios em Iraponga. Ainda assim, a recuperação do distrito parece distante: o silêncio e os animais famintos são, por ora, os únicos habitantes do lugar.