Guerra entre facções: Rotas estratégicas e mata fechada no Recôncavo baiano

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Rotas estratégicas e uso de áreas de mata: facções rivais travam guerra violenta
por território no Recôncavo baiano

Rotas fluviais e rodoviárias que conectam a capital baiana ao interior do
estado, somadas a áreas de mata fechada e estrutura policial reduzida, ajudam a
explicar o cenário que afeta cidades como São Félix, Cachoeira e Muritiba.

Vídeos mostram suspeitos de integrarem facções criminosas fugindo por área de
vegetação [https://s01.video.glbimg.com/x240/14095012.jpg]

Vídeos mostram suspeitos de integrarem facções criminosas fugindo por área de
vegetação

A região da barragem de “Pedra do Cavalo”, em São Félix
[https://de.de/ba/bahia/cidade/sao-felix/], no Recôncavo da Bahia, vive
momentos de tensão desde terça-feira (11). A disputa de território entre facções
rivais assustou moradores da localidade — que conecta a cidade aos municípios de
Cachoeira [https://de.de/ba/bahia/cidade/cachoeira-ba/] e Muritiba
[https://de.de/ba/bahia/cidade/muritiba/], na mesma região —, e foi
seguida por uma operação policial que já provocou a morte de nove suspeitos
[https://de.de/ba/bahia/noticia/2025/11/14/confira-cronologia-de-confrontos-entre-faccoes-rivais-e-policia-na-bahia.ghtml].

Em cidades como São Félix, Cachoeira e Muritiba, a violência se deslocou dos
centros urbanos para áreas de mata
[https://de.de/ba/bahia/noticia/2025/11/13/operaca-policial-reconcavo-baiano.ghtml],
zonas rurais e pequenos povoados.

Em entrevista ao de [https://de.de/ba/bahia/], o pesquisador em Segurança
Pública, Saulo Renato, apontou que a região vive um processo acelerado de
reorganização das dinâmicas do crime. Esse momento é impulsionado pela expansão
de grupos criminosos oriundos de grandes centros urbanos, como Rio de Janeiro
[https://de.de/rj/rio-de-janeiro/cidade/rio-de-janeiro/] e São Paulo, que
buscam ocupar territórios antes dominados por organizações locais.

Conforme a análise de Saulo Renato, as facções passaram a operar com as
seguintes características: mantêm raízes comunitárias e controle territorial,
mas articulam fluxos financeiros, tecnológicos e logísticos que extrapolam a
região.

O pesquisador afirmou que a guerra por territórios no Recôncavo possui,
principalmente, duas facções:

➡️ Comando Vermelho (CV), em São Félix – organização criminosa criada no Rio de
Janeiro, mas fortalecida na Bahia desde meados dos anos 2010, com alianças
locais e interesse em áreas estratégicas para escoamento de armas e drogas.

➡️ Bonde do Maluco (BDM), em Cachoeira – de origem baiana e com forte presença
em Salvador e região metropolitana, tenta manter o domínio em cidades onde o CV
busca se instalar.

De acordo com a análise, a disputa entre as duas facções no Recôncavo reproduz
comportamentos típicos de grandes capitais: alianças temporárias, rupturas
violentas e uso da população local como fonte de recursos e escudo territorial.

Embora o tráfico de drogas continue sendo o principal motivo do avanço das
facções, Saulo Renato destaca que a região ganhou peso estratégico por outros
fatores:

* tem rotas fluviais e rodoviárias que conectam interior, litoral e capital;
* abrange áreas de mata fechada, usadas para esconder acampamentos, depósitos
de armas e drogas;
* possui estrutura policial reduzida, com efetivo e aparelhamento limitados.

Ainda conforme Saulo, a geografia da região tem sido usada como vantagem
estratégica pelos criminosos. Os ambientes funcionam como refúgio e permitem
esconder deslocamentos, armamentos e produtos ilícitos.

> “Há déficit de mapeamento atualizado, ausência de equipamentos de
> georreferenciamento e limitações de abastecimento, como combustível,
> alimentação e reposição de material. É um contexto que exige planejamento
> técnico e cooperação interinstitucional, algo ainda pouco comum nas forças
> estaduais”.

Saulo Renato explicou que operações como a realizada nesta semana em São Félix,
com cumprimento de mandados, destruição de acampamentos e apreensão de armas,
têm efeito imediato, mas não estruturante. Para ele, isso não é suficiente para
alteram o equilíbrio de forças entre facções, “pois não há presença contínua do
Estado ou políticas sociais que reduzam a base de recrutamento do crime
organizado”.

> “Sem inteligência territorial permanente, presença comunitária e integração
> entre as polícias, o efeito dessas ações tende a ser efêmero. O padrão se
> repete: após uma operação de grande escala, há retração momentânea, seguida de
> retomada das atividades criminosas com novos atores locais”, acrescentou.

A guerra entre facções criminosas e as operações policiais impactaram
diretamente a vida de moradores de São Félix, Cachoeira e Muritiba Entre os
principais efeitos temporários estão:

* suspensão de aulas;
* fechamento de comércios;
* interrupção do transporte público;
* êxodo temporário de moradores em áreas sob cerco;
* queda na economia local.

Para o pesquisador, o abalo psicológico na população inclui medo, desconfiança
entre vizinhos e a sensação de abandono. “O que se instala é uma normalização da
exceção, em que a presença do Estado é percebida apenas pela repressão, e não
pela proteção”, acrescentou.

De acordo com o coronel Lucas Palma, comandante do comando de Policiamento do
Recôncavo da Bahia, os suspeitos de integrarem facções têm usado fuzis de grande
porte na disputa
[https://de.de/ba/bahia/noticia/2025/11/14/guerra-faccoes-reconcavo-da-bahia.ghtml]
entre os grupos criminosos no Recôncavo da Bahia.

> “Eles estão utilizando fuzis 762, isso é uma coisa que leva a ação a um nível
> de guerra. Antes, a polícia trabalhava com revólver 38 e hoje estamos
> necessariamente trabalhando com fuzil, porque o crime está usando fuzil para
> nos atacar e atacar a sociedade”, destacou o comandante.

De acordo com a polícia, cerca de 200 agentes participam do cerco aos suspeitos,
incluindo policiais do Grupamento Aéreo.

O secretário de segurança pública da Bahia, Marcelo Werner, disse que os
principais chefes das facções criminosas que atuam na Bahia estão escondidos em
comunidades do Rio de Janeiro. De lá, eles dão ordens para invasões e
homicídios.

É um trabalho que exige cada vez mais do nosso policiamento e da integração e
investigação de inteligência para a repressão”, reconheceu.

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