Na última sexta-feira (14), Guedes foi apontado pela Justiça como um dos beneficiários de fraude que causou prejuízos à fundação responsável pela gestão da aposentadoria dos funcionários do BNDES, a Fapes
Guru econômico do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) e fiador da campanha junto ao mercado, o economista Paulo Guedes tem cancelado compromissos em série desde que vieram à tona informações de que teria sido beneficiário de uma fraude e de que sugeriu a recriação da CPMF. Desde a semana passada, ele deixou de comparecer a quatro eventos importantes. A começar por uma entrevista no programa Roda Viva, da TV Cultura, uma reunião com clientes do banco de investimento Credit Suisse, e palestras nesta sexta-feira (21), na Amcham (Câmera Americana de Comércio) e na corretora XP.
Os eventos eram considerados relevantes para a campanha no sentido de expor ideias para o mercado e dar publicidade ao projeto econômico de um eventual governo Bolsonaro. Para investidores, os sumiços arranham a imagem do economista. Guedes continuará na campanha do presidenciável do PSL, mas deve submergir, aparecendo menos. O sumiço de Guedes coincide com a crescente pressão sobre o economista devido a publicação de reportagens em que é protagonista.
Na última sexta-feira (14), Guedes foi apontado pela Justiça como um dos beneficiários de fraude que causou prejuízos à fundação responsável pela gestão da aposentadoria dos funcionários do BNDES, a Fapes. Em decisão proferida no dia 3 de julho, o juiz Tiago Pereira, da 5ª Vara Criminal Federal do Rio, cita Guedes na lista de clientes da corretora Dimarco que obtiveram ganhos atípicos no período em que as fraudes ocorreram. Guedes não é réu no processo. Em sua decisão, o juiz Pereira condenou três executivos da Dimarco por gestão fraudulenta de instituição financeira. Segundo o juiz, entre janeiro de 2004 e setembro de 2005, eles manipularam ordens de negociação de títulos na BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros, hoje parte da B3, que gere a bolsa de São Paulo) para lesar a Fapes e favorecer um pequeno grupo de clientes.
As operações deram à fundação prejuízo de R$ 12,8 milhões no período investigado, enquanto os clientes tiveram lucro de R$ 5,85 milhões. A GPG, corretora de Guedes e sua esposa, Maria Cristina Bolívar Guedes, lucrou R$ 596 mil. Três dias após a publicação da reportagem, Guedes cancelou a participação no Roda Viva. Na quarta-feira (19), a Folha de S.Paulo divulgou as propostas que Guedes apresentou a um grupo restrito de representantes do mercado. A criação de um imposto aos moldes da CPMF e a unificação da alíquota do Imposto de Renda em 20%. A proposta assustou toda a cúpula bolsonarista, que nunca havia ouvido nada do tipo da boca de Guedes.