As noites de domingo passaram a ficar mais engraçadas no dia 13 de março de 1977, quando o programa “Os Trapalhões” foi ao ar na TV Globo. O grupo formado por Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, que começou na TV Excelsior em 1966 e estava fazendo sucesso na TV Tupi, fez uma lista de exigências, de três páginas, antes de aceitar a proposta de ir para a emissora, para ocupar o horário antes do “Fantástico”. O líder Renato Aragão, o Didi, temia perder a liberdade que tinha para ser irreverente o quanto quisesse. Para sua surpresa, o então diretor de Operações da TV Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, aceitou tudo sem questionamentos. Antes da estreia oficial, a emissora exibiu dois programas pilotos, em duas sextas-feiras, às 21h.
O programa apresentava vários quadros curtos de humor temperados com doses de pastelão, nonsense, improvisos e musicais. Após a estreia na Globo, o quarteto se consolidou como referência no humor nacional nos 18 anos seguintes. Para festejar os 15 anos da estreia na televisão, a trupe preparou um programa ao vivo, com duração de oito horas, em 27 de junho de 1981, um domingo. O show teve a presença de boa parte do elenco de atores da casa, além de jornalistas e músicos, tendo como linha condutora a conscientização do público em relação à pessoa deficiente.
Na edição de 17 de agosto de 1983, reportagem do GLOBO trouxe uma triste notícia: “A trapalhada agora é séria: os Trapalhões chegam ao fim”. Dedé Santana (Manfried Sant’Anna), Mussum (Antônio Carlos Bernardes) e Zacarias (Mauro Paccio Gonçalves) romperam com a empresa que cuidava dos negócios do grupo e formaram outro, sem Renato Aragão. Mas, para felicidade geral dos fãs, antes de o ano acabar, o quarteto voltou a se reunir. Didi, que estrelou sozinho o programa durante o rompimento, passou a chamar o afastamento de “férias conjugais”.
Em dezembro de 1986, os Trapalhões tinham uma das maiores audiências da TV e a maior bilheteria do cinema nacional, segundo o Memória Globo. Em comemoração aos seus 20 anos na TV, o grupo realizou outro show ao vivo, com a presença de Chico Anysio, Jô Soares e Chacrinha, visto por 45 milhões de telespectadores. Buscando atingir ainda mais o público infantil, a turma lançou, em 1987, sua nova logomarca, com rostinhos fofos.
No dia da morte de Zacarias, em 18 de março de 1990, Renato deu depoimento emocionado ao GLOBO:
– A gente estava esperando por ele para gravar. É como se eu tivesse perdido o meu filho caçula. As crianças se identificavam muito com ele porque o Zacarias era a própria criança.
O humorista, que morreu aos 56 anos, por insuficiência respiratória, havia sido internado nove dias antes, e seu corpo foi enterrado em Sete Lagoas, sua cidade natal, em Minas Gerais.
O grupo ficou ainda menor em 29 de julho de 1994, com a morte de Mussum, aos 52 anos, após passar por um transplante de coração, que lhe gerou uma infecção pulmonar e insuficiência renal. Mussum também era músico e fazia parte do conjunto Os Originais do Samba, que emplacou vários sucessos dos anos 60 ao final dos 70. Em 2016, foi iniciada a produção de um filme sobre o humorista, baseado na biografia “Mussum forévis – samba, mé e Trapalhões”, de Juliano Barreto. Com direção de Roberto Santucci, o roteiro é de de Paulo Cursino.
Com a morte de Mussum, o programa deixou de ser apresentado naquele ano, só voltando em 1995, quando Didi e Dedé passaram a realizar brincadeiras com a plateia e a receber convidados, com quem comentavam os esquetes e relembravam os melhores momentos da trupe. Em 1998, Renato lançou uma caixa de DVDs com 39 dos 47 filmes dos Trapalhões, apresentando às novas gerações alguns dos maiores campeões de bilheteria da história do cinema nacional. A estreia dos humoristas no cinema foi em “Na onda do iê iê iê”, em 1966, com direção de Aurélio Teixeira, mas ainda sem Mussum e Zacarias.
Didi e Dedé estrelaram no início de 2017 “Os saltibancos Trapalhões: rumo a Hollywood”, refilmagem de um sucesso de 1981, por sua vez inspirado em “Os saltimbancos” (1977), fábula infantil adaptada para o português por Chico Buarque da peça teatral de Luis Enríquez Bacalov e Sergio Bardotti, que por sua vez haviam feito uma adaptação do clássico “Os músicos de Bremen”, dos Irmãos Grimm.
Fonte: O Globo