Hell Clock: Jogo Nacional Dublado por Atores Nordestinos Ganha Destaque no Exterior

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Dublado por atores nordestinos, jogo brasileiro que mistura céu e inferno para retratar a Guerra de Canudos é destaque no exterior

‘Hell Clock’ chega ao e-commerce em julho deste ano. Jogo é 100% dublado por atores nordestinos.

Criador de jogo que conta a história da Guerra de Canudos revela como desenvolveu o game.

Um mundo com elementos fantásticos, mas personagens reais, em uma batalha entre o céu e o inferno, que tem como base a Guerra de Canudos — evento histórico ocorrido na Bahia no fim do século XIX. Essa é a premissa do jogo “Hell Clock”, desenvolvido por Mark Venturelli, baiano de 38 anos que promete levar a história da cidade de Canudos, no norte do estado, para o mundo.

Com mais de 72 mil pessoas no Brasil e no exterior já interessadas em comprar o jogo, o DE conversou com Venturelli para entender de onde surgiu a ideia para a criação do produto. Traduzido para o português, o “Relógio do Inferno” chegará ao e-commerce de games no dia 22 de julho deste ano.

Com o jogo contextualizado três anos após o fim da guerra, o jogador encarna na pele de Pajeú, um dos jagunços de Antônio Conselheiro, que tem a missão de resgatar a alma do líder religioso aprisionada nas profundezas do inferno. O personagem histórico conta com a ajuda de um relógio mágico para enfrentar criaturas do submundo e voltar no tempo diversas vezes a fim de livrar seu mestre do mal.

Segundo Venturelli, que é fundador e diretor-executivo da Rogue Snail, empresa desenvolvedora por trás do produto, o momento histórico citado na obra foi escolhido por ainda deixar feridas abertas no Brasil atual.

> “Canudos é muito representativo de vários conflitos que são socioeconômicos, raciais e culturais que estão no Brasil como sociedade até hoje. A ideia do jogo, de ser um relógio, dessa repetição do tempo, é que desde o final do século XIX a gente vê histórias parecidas com Canudos em proporções diferentes”.

Natural de Salvador, mas atualmente morando em Brasília, Venturelli contou que demorou para produzir algo sobre a Bahia devido ao nível de responsabilidade que isso exige. Com 17 anos de atuação na área, ele avalia que o mercado brasileiro ainda não valoriza o produto nacional.

> “Trazer a história da Bahia/ Brasil não é compatível com o nível de maturidade que a nossa indústria tem e o nível de penetração cultural que a gente tem internacionalmente. Hoje em dia, se você for vender só para o Brasil, ou só pra Bahia, você não vai conseguir pagar os boletos. Você precisa alcançar um patamar internacional”.

De acordo com o desenvolvedor, entre os países que mais baixaram a versão de demonstração do jogo, disponível gratuitamente em uma plataforma online de compra de jogos, o Brasil fica com o segundo lugar, atrás apenas dos Estados Unidos.

O jogo é inteiramente produzido em português e com sotaque baiano, mas conta com legendas para que os estrangeiros consigam entender a história. A equipe de dublagem é composta 100% por nordestinos, entre eles, o ator Dody Só, que na década de 1990 já havia feito o personagem Pajeú no filme “Guerra de Canudos”, do diretor Sérgio Rezende. Ele agora retorna ao mesmo papel no mundo eletrônico.

Venturelli lembra que a produção do Hell Clock começou em 2020, com apenas três pessoas na equipe. Ao longo dos anos, o projeto recebeu financiamentos do poder público e privado e a equipe cresceu, chegando aos 13 membros responsáveis pela finalização do jogo.

Além do baiano, o roteiro conta com a co-produção do historiador Swami Abdalla-Santos, especialista na história dos estados da Bahia e Ceará. Mesmo sem nunca ter ido a Canudos, Venturelli contou que as pesquisas para a construção dos cenários e detalhes do jogo foram feitas por meio de trabalhos acadêmicos, acervos em bibliotecas e pela internet.

Na plataforma Steam, onde os usuários podem avaliar a versão gratuita do jogo, Hell Clock se destaca com 96% das avaliações positivas, cenário que deixa os desenvolvedores otimistas.

> “Com esses números, espero que consigamos o reconhecimento internacional para quebrarmos a bolha aqui no Brasil.”, desabafou Mark.

Segundo o desenvolvedor, o projeto pretende gerar reflexão em quem jogar, principalmente para evidenciar esse momento histórico, que, para ele, foi um genocídio do exército brasileiro contra seu próprio povo, e não uma guerra entre iguais.

> “Nosso objetivo é, em primeiro lugar, representar a nossa história, a nossa cultura. Eu acho que é uma conquista artística enorme para a gente. Os estrangeiros estão jogando algo que tem a nossa língua e nosso sotaque, eu acho isso inacreditável”, detalhou Mark.

Em dezembro de 2024, na semana em que o jogo foi anunciado no Brasil e no exterior, o Google Trends registrou aumento de 600% nos resultados para “Guerra de Canudos”, “Canudos” e “Antônio Conselheiro”. Esse resultado apresentado pela plataforma que monitora o número de pesquisas de uma palavra ou assunto não se restringiu às buscas feitas no Brasil, considerando também o interesse nos Estados Unidos e na Europa.

Durante uma transmissão do influenciador norte-americano, Asmongold, que tem mais de 3 milhões de seguidores apenas no YouTube, o jogo foi exibido para 50 mil espectadores.

Para quem deseja jogar, o produto estará disponível apenas para computador, mas os desenvolvedores não pretendem parar por aí. Segundo Venturelli, a próxima meta é lançar o Hell Clock para celular e consoles de videogame, como PlayStation, Xbox e Nintendo Switch.

Segundo a Pesquisa Game Brasil de 2024 (PGB), 48,8% dos jogadores brasileiros preferem jogar no celular, enquanto 22,6% jogam no computador e 21,7% nos consoles. Somado a isso, o mercado de games registrou aumento de 3,8%.

A expectativa é de que o jogo custe em torno de R$ 60 no Brasil. No mercado estadunidense, o valor inicial deve ser 20 dólares. Veja mais notícias do estado no G1 Bahia.

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