Pianista do interior de SP fala sobre amizade com Hermeto Pascoal e legado para a música brasileira: ‘Doar-se ao som’
Multi-instrumentista morreu neste sábado (13), aos 89 anos, no Hospital Samaritano, na Rio de Janeiro. O pianista Paulo Maia, que mora em Bauru (SP) e era amigo de Hermeto, contou ao De que recebeu a notícia da morte por meio da família do músico.
Hermeto Pascoal morre aos 89 anos
Hermeto Pascoal morre aos 89 anos
O multi-instrumentista Hermeto Pascoal morreu neste sábado (13), aos 89 anos, no Hospital Samaritano, na Rio de Janeiro. Considerado um dos nomes mais importantes da música brasileira, Hermeto ficou conhecido por criar sons com objetos inusitados, como panelas, garrafas e brinquedos, e por sua improvisação e experimentação musical.
O pianista Paulo Maia, que mora em Bauru (SP) e era amigo de Hermeto, contou ao De que recebeu a notícia da morte por meio da família do músico.
O multi-instrumentista Paulo Maia, que reside em Bauru (SP) e mantinha forte amizade com Hermeto, relatou que ficou sabendo do falecimento por intermédio da família do artista.
“Recebi com muita tristeza através de uma mensagem do Caio, neto de Hermeto, que pediu que eu gravasse um áudio para me despedir. Queríamos transmitir uma energia boa para aquele momento, e essas mensagens chegaram aos ouvidos do mestre em seu leito”, conta.
Paulo conheceu Hermeto em 2014, após gravar músicas da coletânea Calendário do Som e enviar as gravações à família do compositor. Em 2022, foi surpreendido com 50 partituras inéditas escritas à mão por Hermeto, que se tornaram o álbum Inéditas de Hermeto no ano seguinte.
Segundo o músico, Hermeto foi um “divisor de águas” tanto na música brasileira quanto em sua própria trajetória de mais de 30 anos.
“Hermeto é o farol que nos guia. Me ensinou sobre vida, arte, música, respeito, humildade e a doar-se ao som para que toque no coração do próximo”, afirma.
Ele lembra com carinho um dia que passou com Hermeto e Fábio Pascoal em Bauru, após um show no Sesc.
“Foi um privilégio recebê-lo em casa junto de amigos, além dos presentes que me enviou pelos correios, como partituras, tênis e mensagens de carinho”, conta.
Paulo pretende participar do velório, que deve acontecer nesta segunda-feira (15), na Areninha Cultural Hermeto Pascoal, em Bangu (RJ), e dedicará seus próximos shows ao amigo.
As apresentações gratuitas acontecem no dia 17 de setembro, no Teatro Municipal de Marília, e na Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo (SP), no dia 24 de setembro, às 19h30.
“Tenho alguns projetos que homenageiam Hermeto. Gravei dois álbuns sobre sua obra — Inéditas Hermeto (2023) e O Universo do Calendário do Som (2025) — e continuarei gravando muitos outros. Estamos no meio da turnê deste último álbum, com shows e workshops onde falo sobre sua trajetória e legado”, completou.
Nascido em Lagoa da Canoa, distrito de Arapiraca (AL), Hermeto Pascoal começou a tocar acordeão aos 10 anos e desde cedo se destacou por criar sons com objetos inusitados e explorar improvisação em gêneros variados, do jazz ao baião e à música clássica. Sua versatilidade lhe rendeu o apelido de “Bruxo dos sons”.
Nos anos 1960, formou grupos importantes como o Sambrasa Trio e o Quarteto Novo, ao lado de Airto Moreira, Heraldo do Monte e Theo de Barros, e acompanhou artistas como Edu Lobo e Marília Medalha. Na década seguinte, gravou com Miles Davis nos Estados Unidos e lançou álbuns marcantes como Slaves Mass, além de se apresentar em festivais internacionais, como Montreux (Suíça) e Live Under the Sky (Japão).
Hermeto conquistou reconhecimento global, vencendo três Grammys Latinos e recebendo títulos de doutor honoris causa da Juilliard School (EUA) e das universidades federais da Paraíba e de Alagoas.
Chamava sua obra de “música universal” e continuou se apresentando até junho de 2025, em seu último show no Circo Voador, na Rio de Janeiro, poucos dias antes de completar 89 anos.
