Última atualização 31/03/2024 | 10:45
Devon Price iniciou uma jornada de transição tomando baixas doses de testosterona em maio de 2018. Com uma voz mais grave e músculos mais definidos, ele, um jovem de Chicago, Estados Unidos, finalmente sentiu que estava realizando seu desejo de viver como homem trans. No entanto, algo não parecia certo.
Ao longo dos 35 anos, Devon experimentou uma montanha-russa de identidades. Ele iniciou a transição, reverteu e, em seguida, optou pela transição novamente. Devon acredita que a desistência da transição não é discutida o suficiente, talvez devido ao medo de entrar em debates politizados.
“Você, como pessoa trans, está quase sempre… eu acho, a maioria de nós… lutando contra esse medo de ‘vou me arrepender disso?'”, compartilha Devon aos “USA Today“.
Essa jornada, repleta de medos e altos e baixos emocionais, foi documentada no livro “Unlearning Shame” (Desaprendendo a Vergonha), no qual Devon narra as experiências de idas e vindas. Um dos maiores desafios, segundo o autor, é a pressão dos movimentos anti-trans que alimentam o medo do arrependimento da transição.
“Há uma enorme pressão sobre muitos de nós para apresentarmos a nossa história ao público, da forma mais organizada possível; que sempre soubemos, desde crianças, que a transição imediatamente nos fez sentir melhor connosco próprios, que a vida ficou dramaticamente melhor depois disso”, afirmou o americano. “Estamos tentando vender ao público a ideia de que merecemos ter autonomia corporal, porque precisávamos muito, muito disso, morreríamos de outra forma. E estaremos 100% melhores quando conseguirmos essa autonomia. Só não sei como funciona viver numa categoria estigmatizada”, acrescentou ele.
Embora a taxa exata de desistência da transição não seja oficialmente conhecida, pesquisas indicam que pressões familiares e sociais são fatores motivadores, e não porque as pessoas simplesmente acordam decidindo que não são realmente trans, como grupos anti-trans sugerem.
“É melhor para todos se não tratarmos a desistência da transição como um tabu assustador, mas sim como parte do processo de uma pessoa explorando sua autonomia corporal”, comenta Price. “Não é o fim do mundo desistir da transição. Não é o fim do mundo desistir e depois retomar, às vezes esse é o preço de se encontrar em um mundo que não aceita isso”, conclui ele.