Hora de relembrar: o escândalo do governo do Amazonas em superfaturamento de respiradores

O assunto mais falado do Brasil, nesta semana de janeiro, é a falta de oxigênio para os pacientes que estão em tratamento contra a Covid-19 em Manaus, capital do Amazonas. Todos, porque respiram, são capazes de compreender a dificuldade da situação: falta o ar para os pacientes.

Muitas podem ser as razões: 33 cilindros de oxigênio foram encontrados escondidos em um caminhão. Ele seria de um empresário, que foi preso e está nas mãos da Justiça. Ou pode ser falha do Ministério da Saúde, que se atrasou em recorrer o estado? Há um fato em particular que parece apagado na repercussão midiática, levando em consideração a semelhança que têm com a crise desta semana: no ano de 2020, o alto escalão do governo estadual do Amazonas foi alvo da Operação Sangria, da Polícia Federal, que investigou o superfaturamento na compra de respiradores, com sobrepreço de até 133%.

Secretária de Saúde presa

Em junho, a secretária de Saúde do AM, Simone Papaiz, foi presa pela Polícia Federal no âmbito da operação, em conjunto com o Ministério Público Federal. Ela havia assumido o cargo em abril, no lugar de Rodrigo Tobias, cuja prisão temporária foi pedida na segunda fase da operação. Na carta de exoneração, após a soltura, Simone se disse “injustiçada”, já que não assinou documentos referentes à compra de 28 respiradores por R$ 2,9 milhões.

Em resposta, a subprocuradora-geral da República, Lindôra Araújo, relatou que, mesmo não tendo assinado a compra, Simone “aderiu aos propósitos de grupos criminosos e passou a agir de modo a acobertar os crimes praticados”.

O vice-governador

Na segunda fase da Operação Sangria, o vice-governador do estado, Carlos Almeida, PTB, foi alvo de buscas da Polícia Federal no dia 8 de outubro. Nas investigações, as provas apontavam que ele  era reportado, com frequência, para tratar de pagamentos na saúde.

Carlos negou todas as acusações: “Nunca determinei a compra de respiradores da empresa Sonoar”, declarou. A Sonoar é a empresa que vendeu os respiradores. No esquema, em forma de triangulação, ela teria vendido para uma loja de vinhos, que por sua vez revendeu ao governo.

O governador Wilson Lima

O governador do Amazonas, Wilson Lima, PSC, foi alvo de busca, teve seus bens bloqueados e a Polícia Federal pediu a sua prisão, que foi negada pelo Tribunal de Justiça, durante a primeira fase da operação, em junho.

Segundo a Procuradoria-Geral da República, o governador é suspeito de chefiar o esquema. “Os fatos ilícitos têm sido praticados sob o comando e orientação do governo do estado do Amazonas, Wilson Miranda Lima, o qual detém domínio completo e final nos atos relativos a aquisição de respiradores”, escreveu o Ministro do STJ Francisco Falcão, em ofício enviado à PRG.

Uma reportagem do site UOL mostrou partes do depoimento de Rodrigo Tobias à Polícia Federal, em que ele confirma que o governador coordenou a compra dos respiradores superfaturados.

O que tudo isso tem a ver com a falta de oxigênio em Manaus?

“Se está diante da atuação de uma verdadeira organização criminosa que, instalada nas estruturas estatais do governo do estado do Amazonas, serve-se da situação de calamidade provocada pela pandemia de Covid-19 para obter ganhos financeiros ilícitos, em prejuízo do erário e do atendimento adequado à saúde da população“: à época, esta foi a fala da subprocuradora-geral da República, Lindôra Araújo, para descrever os prejuízos da corrupção ao cidadão comum.

Enquanto isso, falta até o ar para os amazonenses.

Imagem: Michael Dantas/AFP

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Indiciado, Bolsonaro diz que Moraes “faz tudo o que não diz a lei”

Após ser indiciado pela Polícia Federal (PF), o ex-presidente Jair Bolsonaro publicou em sua conta na rede social X, nesta quinta-feira (21), trechos de sua entrevista ao portal de notícias Metrópoles. Na reportagem, ele informa que irá esperar o seu advogado para avaliar o indiciamento. 

“Tem que ver o que tem nesse indiciamento da PF. Vou esperar o advogado. Isso, obviamente, vai para a Procuradoria-Geral da República. É na PGR que começa a luta. Não posso esperar nada de uma equipe que usa a criatividade para me denunciar”, disse o ex-presidente.

Bolsonaro também criticou o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo no Supremo Tribunal Federal (STF). “O ministro Alexandre de Moraes conduz todo o inquérito, ajusta depoimentos, prende sem denúncia, faz pesca probatória e tem uma assessoria bastante criativa. Faz tudo o que não diz a lei”, criticou Bolsonaro.

Bolsonaro é um dos 37 indiciados no inquérito da Polícia Federal que apura a existência de uma organização criminosa acusada de atuar coordenadamente para evitar que o então presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e seu vice, Geraldo Alckmin, assumissem o governo, em 2022, sucedendo ao então presidente Jair Bolsonaro, derrotado nas últimas eleições presidenciais.

O relatório final da investigação já foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF). Também foram indiciados pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos; o ex-diretor da Agência Brasileira de Informações (Abin) Alexandre Ramagem; o ex-ministro da Justiça Anderson Torres; o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno; o tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro; o presidente do PL, Valdemar Costa Neto; e o ex-ministro da Casa Civil e da Defesa, Walter Souza Braga Netto.

Na última terça-feira (19), a PF realizou uma operação para prender integrantes de uma organização criminosa responsável por planejar os assassinatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente, Geraldo Alckmin, e do ministro Alexandre de Moraes.

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